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Semana terá Super Quarta, com decisão de política monetária no Brasil e nos EUA; confira agenda econômica

Na próxima quarta-feira (1), teremos reuniões para definir as taxas de juros brasileira e americana.

Por Matheus Spiess

30 out 2023, 08:41 - atualizado em 30 out 2023, 08:41

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Imagem: Shutterstock

Bom dia, pessoal. Esta semana promete ser agitada e mais curta para os brasileiros devido ao feriado de quinta-feira (2), que resulta no fechamento do mercado local.

Na semana anterior, surpreendentemente, o presidente Lula fez uma declaração que praticamente anulou os esforços da equipe econômica nos últimos meses para reduzir o déficit fiscal ao máximo. Fernando Haddad ainda não se manifestou sobre os comentários de Lula, mas é provável que sua posição seja questionada. Essa declaração veio às vésperas da reunião de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, que ocorrerá na quarta-feira, logo antes do feriado. Será um período intenso.

Por falar no cenário internacional, o agravamento do conflito em Israel voltou a atrair a atenção, especialmente após relatos de avanço das tropas israelenses por terra, alimentando preocupações sobre o possível envolvimento do Irã na guerra.

Os mercados asiáticos, surpreendentemente, apresentaram um desempenho relativamente positivo nesta segunda-feira (30), apesar das preocupações em torno do grupo Evergrande, a incorporadora mais endividada do mundo, que está enfrentando uma audiência judicial crítica relacionada a pedidos de liquidação de credores.

Na Europa, os mercados estão em alta nesta manhã, com os investidores analisando o PIB alemão do terceiro trimestre e a inflação preliminar de preços ao consumidor para outubro na Espanha e na Europa. Os futuros americanos também indicam um início positivo, com grande expectativa para a semana, que trará a temporada de resultados corporativos e dados do mercado de trabalho, além da mencionada reunião de política monetária. Hoje, a expectativa geral é que o Fed mantenha suas taxas de juros inalteradas; as dúvidas pairam sobre as próximas reuniões, especialmente a de janeiro, pois até lá teremos três conjuntos de dados sobre emprego, três números de inflação e a prévia do PIB do quarto trimestre.

A ver…

· 00:59 — Enterrando a meta: um sabor amargo na boca do investidor brasileiro

Na sexta-feira (27), o presidente Lula surpreendeu ao afirmar que a meta fiscal não precisa necessariamente ser zero, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vinha defendendo. Para Lula, é improvável que essa meta de déficit zero seja alcançada, uma vez que ele não está disposto a efetuar cortes em investimentos e obras. Embora ninguém no mercado realmente acreditasse em uma meta de déficit zero para o próximo ano, a declaração de Lula impactou negativamente a confiança, anulando boa parte dos esforços da equipe econômica realizados ao longo de meses e lançando incertezas sobre a meta fiscal em 2024. No Congresso, as negociações para garantir uma fatia desse déficit já estavam em andamento. Devem aumentar agora. O presidente questionou: “Se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que é? De 0,25%, o que é?” Em resposta, presidente, posso dizer que era o que o governo havia prometido.

Existem diversas interpretações para esse movimento conturbado. Primeiro, especula-se que Lula possa estar sofrendo pressões e, devido à sua idade avançada, é natural cometer deslizes, especialmente considerando a frustração do governo atual em comparação com o que foi alcançado em seu primeiro mandato. Em segundo lugar, o presidente pode ter se sentido pressionado a conceder mais cargos para aprovar propostas, como no caso da presidente da Caixa Econômica Federal, e isso pode ter feito com que ele desejasse mostrar força (versus Lira). Por fim, Lula pode estar antecipando a necessidade de fazer concessões políticas significativas e, ao sinalizar uma disposição de lidar com um déficit (cujo tamanho ainda é incerto), ele busca angariar apoio no Centrão, mesmo que isso signifique desagradar o mercado financeiro e a equipe de Haddad. Independentemente da razão, essas declarações vieram em um momento bastante inoportuno, especialmente às vésperas da reunião do Copom, onde já se esperava um corte na taxa de juros acompanhado de um comunicado duro, em função do cenário internacional. Agora, o cenário tornou-se ainda mais incerto.

· 01:47 — Esperando Powell

Nos Estados Unidos, o S&P 500 encerrou a sexta-feira em território de correção, marcando o fim de uma semana difícil para o mercado de ações. O S&P 500 caiu 0,5%, levando o índice a um declínio de 10% em relação à sua recente alta de 4.588,96 pontos. Esta é a 103ª correção registrada no S&P, com a última ocorrendo em 16 de setembro de 2022. O Nasdaq Composite, que também entrou em correção na quarta-feira, registrou um ganho de 0,4% no dia, embora tenha ainda acumulado uma queda de 2,6% ao longo da semana. Tanto o S&P 500 quanto o Nasdaq estão a caminho de registrar o pior mês de outubro desde 2018. As quedas recentes não são impulsionadas por novos eventos, mas sim pelos mesmos fatores macroeconômicos de sempre, com o foco desta vez no PCE, a medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed), mesmo que tenha se mantido em linha com as expectativas.

Além disso, aproximadamente 150 empresas do S&P 500 estão programadas para divulgar seus resultados nesta semana, tornando o ambiente de mercado bastante agitado. O destaque da semana, no entanto, será a reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto, que terminará na quarta-feira. Embora não se espere um aumento nas taxas de juros neste momento, qualquer sinalização sobre os próximos passos do Fed será importante. Para aumentar a ansiedade do mercado, haverá a divulgação de dados relacionados ao mercado de trabalho. Na quarta-feira, teremos a Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Trabalho de setembro. E, na sexta-feira, o relatório de empregos de outubro será divulgado. Os economistas não preveem mudanças na taxa de desemprego, que atualmente está em 3,8%.

· 02:38 — Suspense japonês

Na Ásia, o índice Nikkei 225 do Japão registrou uma queda de 1,2% na segunda-feira, apresentando o pior desempenho na região, enquanto os investidores se preparavam para a reunião do Banco do Japão (BoJ) marcada para terça-feira. É amplamente esperado que a autoridade monetária mantenha as taxas de juros em níveis negativos.

No entanto, relatos na mídia sugeriram que poderia haver uma mudança potencial na política de controle da curva de rendimentos do banco, especialmente à luz dos recentes aumentos na inflação e da fraqueza do iene. Os rendimentos dos títulos do governo japonês aumentaram significativamente, testando os limites do intervalo-alvo estabelecido pelo BoJ.

Os rendimentos dos títulos do governo japonês de 10 anos se aproximaram do nível mais alto em 11 anos na segunda-feira. Qualquer medida agressiva por parte do BoJ indicaria o fim da política monetária expansionista que tem vigorado por quase uma década e que impulsionou o mercado de ações japonês. Isso é susceptível de minar o apetite dos investidores pelo mercado, uma vez que um BoJ mais acomodatício tem sido um dos principais impulsionadores da recuperação das ações japonesas ao longo deste ano, especialmente à medida que as taxas de juros subiram acentuadamente em todo o mundo.

· 03:26 — Um mundo bem endividado

A BlackRock projeta que o mercado global de dívida privada dobrará para aproximadamente US$ 3,5 trilhões até 2028, representando uma das previsões mais otimistas até o momento em relação ao crescimento desse setor. A taxa de crescimento anual estimada até esse período seria de 15%. A maior gestora de ativos do mundo prevê que as mudanças estruturais nos mercados financeiros continuarão a incentivar um maior interesse em fundos de dívida privada, à medida que alguns bancos reduzem suas atividades de empréstimo.

De acordo com a BlackRock, há um apetite crescente entre investidores institucionais e de varejo por ativos de dívida privada. O mercado atualmente é avaliado em US$ 1,6 trilhão e poderá atingir US$ 1,75 trilhão até o final do ano. A Preqin, uma empresa que acompanha dados sobre o mercado de investimentos alternativos, afirmou este mês que o mercado global de dívida privada poderá atingir a marca de US$ 2,8 trilhões até 2028. No entanto, um desafio a ser considerado é o custo associado a essa dívida, uma vez que níveis elevados de endividamento faziam sentido em um cenário de taxas de juros próximas de zero, o que atualmente não é a realidade.

· 04:14 — A escalada

A situação de conflito em Israel entrou em uma nova fase, com as tropas israelenses ampliando suas operações no norte da Faixa de Gaza, desta vez por meio de uma incursão terrestre. No entanto, ao invés de uma invasão em larga escala, as forças militares optaram por uma abordagem gradual, adotando uma estratégia de avanço diário. Há expectativas de que essa campanha possa se estender por até seis meses (a estimativa mais otimista prevê cerca de dois meses de conflito). Esse movimento foi uma resposta aos pedidos dos EUA, que insistiram que Israel conduzisse uma ofensiva terrestre direcionada para reduzir o risco de um conflito mais abrangente na região.

Os investidores aparentemente ainda consideram baixa a probabilidade de um agravamento do conflito no Oriente Médio, visto que os preços do petróleo estão em queda nesta manhã. No entanto, o mercado permanece tenso. Israel busca dar uma resposta após o ataque terrorista ocorrido em 7 de outubro. Embora o mundo reconheça a necessidade de uma resposta, há preocupações quanto a uma possível crise humanitária na região. Nos bastidores, crescem os temores de uma Terceira Intifada, o que complicaria ainda mais a situação. Esse novo conflito, semelhante ao enfrentado entre Rússia e Ucrânia, parece ser de longa duração.

· 05:05 — Uma pitada prefixada

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.