Bom dia, pessoal. Pensou que a sequência de falas de banqueiros centrais havia terminado? Saiba que hoje teremos mais pronunciamentos de autoridades monetárias nos países desenvolvidos. Na última sessão, o presidente da Fed, Jerome Powell, tentou manter vivas as preocupações “hawkish” (contracionistas), afirmando que o banco central dos EUA continuará a agir com cautela e não hesitará em intensificar as medidas de política, se necessário, para conter a inflação. Hoje, é a vez da presidente do BCE, Christine Lagarde, e de alguns presidentes regionais do Fed, como Lorie Logan de Dallas e Raphael Bostic de Atlanta, fazerem suas declarações.
A queda no mercado americano ontem contaminou os mercados asiáticos, que registraram queda nesta sexta-feira. Os mercados europeus seguem a tendência pessimista, especialmente após o Reino Unido não apresentar crescimento no terceiro trimestre, elevando as preocupações de estagflação na região. Os futuros americanos operam de forma mista, com movimentos tímidos, aguardando não apenas os discursos das autoridades monetárias, mas também alguns dados cruciais, como o indicador de sentimento do consumidor de Michigan, que inclui as expectativas de inflação para um e cinco anos. Por outro lado, as commodities conseguem registrar ganhos nesta manhã.
A ver…
· 00:45 — Entre dados de inflação e resultados fiscais
No Brasil, estamos aguardando com atenção os dados de inflação ao consumidor de outubro, prevendo um aumento de 0,29% em comparação ao mês anterior. Embora este número represente um patamar mais elevado do que em setembro, indicaria uma desaceleração em 12 meses, chegando a 4,87%. Ainda há novembro e dezembro para alinhar essa inflação com a banda superior aceitável pelo Banco Central. É crucial observar a qualidade dos dados, especialmente a média dos núcleos, os preços administrados e os serviços. Resultados abaixo das expectativas podem estimular o mercado, e vice-versa.
Falando em movimentar o mercado, outra área de atenção recai sobre a interpretação dos resultados da Petrobras, que foram positivos, e do Bradesco, que desapontou os investidores. Tudo isso acontece enquanto debatemos as questões fiscais brasileiras. No último dado disponível, o resultado do déficit primário consolidado de setembro foi de R$18,1 bilhões, um pouco pior do que as expectativas de um superávit de R$14,5 bilhões. Essa tendência negativa nas contas públicas vai contra as metas de Haddad.
A situação é tão preocupante que até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a comentar sobre o panorama fiscal, afirmando que o custo de mudar a meta seria maior do que os benefícios, embora reconheçamos que a meta atual é em grande parte fictícia e visa maximizar a efetividade da atuação da Fazenda neste final de ano. Aguardamos para ver o desenrolar dessa situação até o dia 16, prazo estabelecido pela Casa Civil para que o governo tome uma decisão definitiva sobre essa questão.
· 01:46 — E esse rotativo?
Nos últimos dias, o Banco Central recebeu novas propostas para restringir o prazo do rotativo e reestruturar dívidas. A Abranet, que representa parte das empresas de maquininhas, sugeriu que faturas vencidas do cartão de crédito possam ser reparceladas, agregando-se às faturas dos meses subsequentes, com juros mais baixos do que os do rotativo. Por sua vez, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços teria levantado a possibilidade de reduzir o prazo em que o cliente inadimplente permanece no rotativo (30 dias hoje). Em poucas palavras, os bancos defendem restrições ao parcelado sem juros, coisa que o varejo é contra.
Pelas ideias, a fatura em atraso ficaria sob o efeito desses juros por menos dias, considerando a taxa atual de 441,1% ao ano. O novo prazo não foi definido, mas o Banco Central deve analisar simulações para períodos de cinco e dez dias. Apesar da controvérsia, as discussões parecem ter sido conduzidas de maneira técnica, o que é mais positivo do que questões políticas no setor. A perspectiva do Banco Central parece ser que o parcelamento não é a causa da inadimplência. Esta discussão deve se aprofundar nos meses seguintes e se tornar um tema de grande importância para os bancos de varejo em 2024, podendo impactar o desempenho da Bolsa.
· 02:38 — Ele não vai hesitar!
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, declarou que o banco central dos EUA não hesitará em intensificar a política monetária, se necessário, e enfatizou que o banco central não está totalmente seguro de ter feito o suficiente para elevar a inflação a 2%. Reconhecemos a abordagem cautelosa do banco central para evitar riscos de um aperto excessivo. Contudo, essas declarações foram suficientes para desencadear uma correção ontem, resultando em quedas nos principais índices americanos. Apesar disso, o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos, inversamente proporcional ao seu preço, atingiu 5% no mês passado, antes de recuar para 4,5% ontem, em comparação com a atual meta de taxa de juros do Federal Reserve de 5,25% a 5,50%.
Além dos comentários relativamente assertivos de Powell, um leilão de 24 bilhões de dólares em títulos do Tesouro dos EUA com vencimento em 30 anos, amplamente observado, indicou uma diminuição na demanda por dívida do governo dos EUA. No leilão, os investidores aceitaram um rendimento de 4,769%, 0,051 ponto percentual acima do rendimento de negociação pré-leilão. Essa diferença sugere um leilão fraco, onde o governo dos EUA teve que oferecer um prêmio sobre o mercado para atrair investidores a adquirirem sua dívida. O desequilíbrio entre oferta e demanda por títulos continua exercendo pressão sobre os ativos. Na agenda de hoje, é relevante monitorar as expectativas de inflação do índice de sentimento do consumidor de Michigan.
· 03:34 — Para onde vão os trabalhadores?
Será que a inteligência artificial (IA) tornará todos os empregos obsoletos no futuro? Elon Musk acredita nisso. Para ele, haverá um ponto em que nenhum trabalho será necessário, pois a IA será capaz de realizar todas as tarefas. O empresário expressou essas opiniões ao primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, durante a cúpula de dois dias do governo do Reino Unido em Bletchley Park, onde líderes globais e empresas assinaram um pacto histórico para testes de segurança de modelos de IA de ponta, incluindo OpenAI, Google, DeepMind e Meta.
No entanto, há muita incerteza sobre a rapidez desse processo, e, considerando as últimas revoluções tecnológicas, a criação de novas indústrias e empregos posteriormente tende a superar as perdas de empregos a curto prazo. Pode ser que estejamos vivenciando um ponto de inflexão, mas é prematuro afirmar isso, especialmente porque essa transição provavelmente se estenderá por vários anos. A perspectiva de Musk parece um tanto distante da realidade, mesmo que muitos futurólogos de plantão expressem essa preocupação. Pessoalmente, encaro a evolução da IA com mais otimismo do que apreensão.
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· 04:16 — Pés no chão
Deixando o domínio da futurologia para trás e encarando os desafios imediatos, é crucial observar o momento atual. À medida que nos aproximamos do fim da era do “dinheiro grátis,” da normalização das taxas de juros e do retorno aos fundamentos, espera-se que oportunidades de qualidade e valor reassumam a liderança no mercado. O preço do dinheiro foi distorcido e manipulado por mais de uma década. Neste estágio inicial da reversão, os investidores devem direcionar sua atenção para características como durabilidade e resiliência dos investimentos.
A reavaliação do preço do dinheiro representa um retorno à normalidade e provavelmente resultará em uma espécie de “ressaca” após o estouro da bolha nos mercados, alimentada por juros excepcionalmente baixos. Já podemos observar indícios dessa dinâmica durante a crise dos bancos regionais, que inicialmente atingiu instituições ligadas ao Vale do Silício, como o Silicon Valley Bank. Essa reviravolta também impactará o capital privado, o capital de risco e determinadas áreas do mercado imobiliário comercial.
· 05:04 — Controlando a carteira
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