Sem dúvida, a XP teve crescimento exponencial desde a sua fundação. Atualmente, tem quase R$ 1 trilhão em ativos sob custódia. É um case de empreendedorismo de sucesso na área financeira. Suas atividades começaram em 2021 com poucos recursos de seu fundador Guilherme Benchimol, que pouco tempo depois precisou até vender seu carro para dar prosseguimento às operações. Com seu mote combativo aos ‘bancões’, foi conquistando muitos clientes ao longo dos anos e, em 2019, triunfou com seu IPO na Nasdaq.
Porém, o cenário agora é complexo para o setor de investimentos, tanto por conta de fatores macro quanto pelo aumento da concorrência, e a XP que nadava de braçada, também enfrenta desafios.
Suas ações, que vêm sofrendo recentemente na Bolsa, podem cair ainda mais, na visão de Felipe Miranda, CEO e estrategista da Empiricus. Pelos cálculos dele e de sua equipe de analistas, uma desvalorização de 26%.
Por isso, ele recomendou um short em XP Inc (Nasdaq: XP; B3: XPBR31), ou seja, uma posição vendida nos papéis da empresa de investimentos na carteira Oportunidades de Uma Vida, representando 2,5% do total.
Na comparação com o short em Nubank (Nasdaq: NU, B3:NUBR34) também indicado por ele, o potencial de queda das ações da XP é menor e trata-se de um movimento em um horizonte próximo.
“Com um valuation ainda caro, vários gatilhos de queda no curto prazo e pequenos indícios de deterioração dos fundamentos, o short é uma oportunidade tática”, comenta Felipe no relatório Palavra do Estrategista, liberado nesta quarta-feira (1/06) aos assinantes, no qual ele detalha a sua tese.
Momento oportuno: ciclo de aperto monetário em jogo
O ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos, onde a inflação segue persistente, está apenas começando.
Aqui no Brasil, a taxa Selic está em dois dígitos e ainda vai levar um tempo para entrar em trajetória de queda.
“Nessa conjuntura, o mercado é mais seletivo. Empresas caras demais perdem vez diante de uma renda fixa generosa e com menor risco”, diz Felipe Miranda.
Por isso, os múltiplos das empresas de tecnologia vêm caindo.
O analista lista os 4 pilares da sua tese de short em XP.
Os 4 motivos para o short em XP Inc.
1-Deterioração dos resultados
A escalada dos juros tem efeitos nas decisões dos investidores, potenciais clientes da empresa. De modo geral, vigora a aversão ao risco e a XP tem em sua prateleira sobretudo um mix de produtos mais arrojados como COEs, fundos multimercados e de ações.
Assim, a entrada de recursos de clientes do varejo na plataforma vem diminuindo.
A seguir, você pode ver o comportamento da captação líquida – entradas menos saídas, ou o chamado net new money:
Avançar em receitas também se torna uma tarefa complexa em ambiente de juros altos e menor renda da população em geral. Além disso, no que diz respeito aos investimentos em renda fixa, com retornos atrativos no momento, ainda há uma preferência dos investidores brasileiros por alternativas oferecidas pelos bancos tradicionais.
Felipe faz a ressalva de que a XP não está parada, pelo contrário, aposta em novos produtos como seguros e previdência. Ainda assim, o take rate do varejo – percentual de ativos sob custódia que vira receita em 12 meses, chegou a 1,2% no primeiro trimestre de 2022, sendo que no final de 2016 estava na casa de 2%.
De todo modo, é natural que esse percentual caia gradativamente com o aumento da concorrência. “À medida que o mercado de capitais de um país amadurece e mais players independentes integram o cenário competitivo, o take rate tende a cair. Foi exatamente o que aconteceu com a Charles Schwab”, explica.
Na parte de clientes institucionais, o cenário não é o mais favorável para listagem de ações em Bolsa ou emissões de dívida por ofertas públicas, o que significa impacto negativo sobre as comissões de investment banking que a XP recebe.
2– Mudança para a narrativa incumbente
A XP ganhou participação relevante no mercado com um discurso de combate aos bancos tradicionais, dizendo ser uma plataforma completa, com melhores alternativas e serviços, e sem conflito de interesse.
“Agora, com porte de uma grande instituição financeira, a pressão para continuar gerando fortes crescimentos pode forçar a empresa a adotar medidas típicas dos bancões, contradizendo o próprio discurso”, avalia Felipe.
Conforme ele, enquanto a captação e a receita cresciam de forma intensa, XP tinha margem de manobra para continuar aumentando as despesas comerciais e administrativas. Mas o jogo mudou, com a desaceleração do negócio, é preciso cortar gastos. “No pior cenário, as despesas continuam avançando fortemente e a ação desvaloriza ainda mais, já que os investidores cobram responsabilidade com o capital em um cenário estressado. “
3– Ação muito cara
Para Felipe, o valuation da XP está caro. Apesar de continuar expandindo a base de clientes e a captação – pois, na avaliação da Empiricus, nos próximos 5 anos, o ritmo médio de crescimento dos ativos sob custódia será de 12% ano-, o take rate de varejo tende a cair ainda mais para 0,9%.
Então, haverá maior pressão nos custos de aquisição de clientes diante da concorrência cada vez mais acirrada.
Mesmo prevendo esforços da empresa em controlar os gastos, ele chegou a um lucro líquido praticamente estável entre 2022 e 2026, com margem decrescente.
Pelos seus cálculos, o valor justo para XPBR31 é R$ 80, ou seja, um potencial de queda de 26%.
4- Pressões vendedoras no curto prazo
Na visão de Felipe, a frustração de expectativas dos investidores no curto prazo pode exercer uma pressão vendedora significativa sobre o papel.
Somado a isso, o Itaú Unibanco deve vender as ações da XP que detém para evitar conflitos de interesse por conta de participação em um concorrente e para atender exigências de coberturas de risco pelo Banco Central.
Para saber mais detalhes sobre o Short em XP, é só acessar o relatório completo da série Palavra do Estrategista.
Nesta edição, há ainda as atualizações das teses de investimentos na Lojas Quero-Quero (LJQQ3), Banco Pan (BPAN4), WDC Networks (LVTC3) e Cosan (CSAN3), além de indicações para o momento: um bom Fiagro e uma oportunidade em renda fixa.
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