Investimentos

Siga o coelho branco

Se você quer uma heurística simples para atuar em Bolsa, procure por um monopólio. Não há nada melhor.

Por Felipe Miranda

12 maio 2017, 10:28

A expressão do título ficou mais conhecida com o Matrix, sendo apresentada a Neo minutos antes de sua campainha tocar à iminência de entrar numa viagem psicodélica. Originalmente, porém, ela já estava no Alice no País das Maravilhas, como um convite a uma nova realidade, ao mergulho no desconhecido, a livrar-se das amarras de uma visão imposta de fora ou até mesmo à fuga da caverna em referência ao mito de Platão.

Se você quer uma heurística simples para atuar em Bolsa, procure por um monopólio. Não há nada melhor. Para seus acionistas, claro – para a sociedade como um todo, é sempre ruim e por isso normalmente eles exigem, ou deveriam exigir, regulação, como forma de endereçar as falhas de mercado.

Foi mesmo confirmado: Itaú comprou 49,9 por cento da XP Investimentos, por 6,3 bilhões de reais. Eu não vou tratar do assunto diretamente pois já o fiz na terça-feira – cada uma das palavras ali escritas foram reforçadas nos últimos dias; ouvi de três agentes autônomos amigos a intenção de deixar a corretora agora que a terra prometida, também batizada de IPO, ficou somente na promessa – dois eles procuraram o BTG Digital, outro foi atrás da Warren, do Marcelo Maisonnave. O sonho acabou.

Retomo o tema apenas para levar a outro ponto. A compra da XP pelo Itaú, que inclusive envolve o controle em alguns anos, é um reforço à perpetuação do oligopólio dos bancos brasileiros, mesmo a longo prazo. Não somente pelo movimento em si, que obviamente concentra ainda mais os ativos financeiros. Mas pelo que ele representa dinamicamente.

Hoje os cinco maiores bancos brasileiros dominam completamente o mercado. Não há ameaça material. Nem haverá. Se ela começa a surgir concretamente, é absorvida por fagocitose. Os bancos só as deixam existir até o momento que são irrelevantes. Quando ganham materialidade, são comprados. Vai lá e mata. Põe pra dentro e ponto final. É por isso também que eles não se preocupam com as corretoras independentes e as fintechs – se um dia ficar relevante, toma pra si. O sistema, assim como seus níveis de margem e ROE, continua impermeável – e dessa forma será pelo horizonte tangível.

Esse é um dos motivos para que você tenha ações dessa turma em sua carteira. Sempre. E sempre. Se o desbancarize é uma falácia, só nos resta o rebancarize. Você pode comprar Itaú a R$ 20, R$ 30, R$ 40… No longo prazo, é uma das poucas ações que, quase sem medo de errar, podemos assumir que baterá o CDI e o Ibovespa com alguma folga.

Um bom monopólio – ou oligopólio, em sua versão um pouco mais branda – impõe a margem que quiser sobre os consumidores, pois a eles não restam alternativas. E como diria Michael Corleone, sai vencedor de uma negociação aquele que dispõe de mais possibilidades e precisa menos daquilo.

Se você não consegue responder com precisão à pergunta “quais as ações certas para se comprar”, tente endereçar uma alternativa (uma das definições de heurística pode ser justamente a prática de substituir uma pergunta por outra, mais fácil de ser acessada): quais são bons monopólios/oligopólios em Bolsa?

Além dos bancos, BM&F Bovespa, Comgás, Cielo (em certo sentido), CVC (no sentido de não contar com par representativo em seu mercado), BB Seguridade (na capacidade de explorar sozinha aquele nicho, apropriando do canal de distribuição de Banco do Brasil). Neste país das maravilhas, o tempo não passa, as margens continuam elevadas, os retornos sobre o patrimônio tendem ao infinito e o crescimento está assegurado além do campo onírico.

Ao despertar, nos deparamos com mercados em busca de tendência definida. Há forças divergentes a serem ponderadas. Resultado de Petrobras veio bem acima do esperado e deve ser recebido com otimismo. Operação Bullish investiga eventuais irregularidades no BNDES e na JBS envolvendo a compra da Swift – ações do frigorífico podem reagir desfavoravelmente, embora não possa ser considerado propriamente uma surpresa.

No exterior, bolsas europeias registram leve alta, mesmo após produção industrial na Alemanha um pouco abaixo do esperado. Nos EUA, há clima de cautela à espera da inflação ao consumidor e das vendas ao varejo. Commodities recuam, especialmente minério de ferro, enquanto petróleo interrompe dois dias de alta.

Sob influência direta dos resultados de Petrobras e do comportamento das bolsas na Europa, Ibovespa Futuro registra alta de 0,95 por cento. Otimismo crescente com reformas, no dia em que governo Temer completa um ano e se defende retoricamente nos jornais, ajuda a empurrar o índice. Juros futuros e dólar estão perto do zero a zero.

Em um ano, atual governo fez mais pelo Brasil do que qualquer um poderia imaginar. Se aprovar reforma da Previdência, terá deixado um legado institucional simplesmente sem precedentes. Sairá um País completamente diferente daquele que Temer recebeu. Eu acredito, de fato. E é por isso que insisto na necessidade de incrementar posição de risco em ativos brasileiros agora, visando construção acelerada de patrimônio. São poucas janelas de oportunidade ao longo de toda a história em que podemos nos deparar com reais chances de multiplicação do capital. É por isso que montamos este combo para você.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.