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Investimentos

Sigma Lithium está à venda: o que isso pode representar para as ações?

Nos últimos dias, o conselho de administração da empresa indicou estar aberto a uma revisão estratégica dos negócios, após receber propostas de compra.

Por Matheus Spiess

20 set 2023, 11:03 - atualizado em 20 set 2023, 11:03

Sigma Lithium SGML lítio
Imagem: Divulgação/Sigma Lithium

Há precisamente um ano, em 21 de setembro de 2023, divulgamos pela primeira vez um relatório recomendando a compra das ações da Sigma Lithium (Nasdaq: SGML), uma empresa especializada na exploração de lítio com foco no avanço do projeto Grota do Cirilo, situado em Minas Gerais.

Desde aquele momento, as ações subiram mais de 40%.

Com isso em mente, gostaríamos de compartilhar algumas atualizações sobre a tese, que tem se mostrado uma recomendação acertada até o momento para aqueles que a seguiram. Além disso, acreditamos que ainda há potencial de valorização a ser capturado nos próximos meses.

Na época, estávamos discutindo uma empresa em estágio pré-operacional, o que era um dos principais desafios desse investimento. Desde então, muitos avanços foram alcançados, com a empresa agora avançando para a fase operacional, cumprindo seus trimestres conforme o planejado e já gerando fluxo de caixa positivo (confira um vídeo da operação clicando aqui que destaca o aumento de produção).

Relembrando os feitos da Sigma Lithium

Com sede em Vancouver, Canadá, e operações centradas no Brasil, a empresa começou a produzir minerais em abril e efetuou seu primeiro carregamento de lítio para a China no final de julho, totalizando 15 mil toneladas de concentrado de lítio de alta qualidade para baterias de carros elétricos.

Recentemente, a Sigma atingiu sua segunda meta de embarque para o Porto de Vitória no Brasil dentro do prazo. Foram entregues mais 15 mil toneladas de lítio de alta pureza (“Triple Zero Green Li”) e 30 mil toneladas de subprodutos (“Triple Zero Green”) a preços que superaram as projeções de mercado, estabelecidas em cerca de US$ 3.500 por tonelada e US$ 350 por tonelada, respectivamente, quando as estimativas indicavam valores em torno de US$ 2.500 por tonelada.

Quais as perspectivas para a companhia?

A empresa mantém a confiança de alcançar uma produção de 130 mil toneladas de lítio até dezembro de 2023 e de expandir em direção à capacidade anualizada da Fase 1, que é de 270 mil toneladas de concentrado de lítio (equivalente a 36,7 mil toneladas de carbonato de lítio) de alta qualidade, com possibilidade de venda a um preço superior ao do mercado.

Espera-se que isso ocorra até o final do terceiro trimestre de 2023. Mais embarques estão programados, além das 15 mil toneladas de lítio enviadas no início de setembro: 30 mil toneladas de subprodutos em meados de setembro e 18 mil toneladas de lítio no final de setembro. As operações estão seguindo conforme planejado.

Paralelamente, a Sigma está avançando com os planos de triplicar sua capacidade de produção nas próximas fases. A decisão de iniciar a terraplanagem e encomendar maquinário de longo prazo é esperada até o final deste mês. A empresa informou que está atualmente em negociações com instituições financeiras de desenvolvimento brasileiras e globais para financiar essa expansão da produção. Uma atualização detalhada dos recursos, que inclui áreas dentro da Fase 4, deverá ser divulgada em breve.

É importante ressaltar que este projeto compreende várias fases, e estamos no início da jornada. Há pelo menos outras três etapas a serem exploradas junto com a empresa, que possui a habilidade interessante de aumentar sua produção organicamente devido às vastas reservas minerais disponíveis.

A demanda por baterias de lítio só tende a crescer

Todas essas considerações são fundamentadas na expectativa de demanda proveniente do mercado de baterias de lítio, impulsionado pelo crescente setor de veículos elétricos. O lítio desempenha um papel crucial na fabricação de baterias para carros elétricos e a infraestrutura de refino do mineral (seja em hidróxido ou carbonato) está principalmente localizada na China, juntamente com os fabricantes de baterias. O mundo está atualmente imerso numa competição global para garantir o suprimento de lítio e fomentar o crescimento da produção de veículos elétricos.

É sabido que convencer as pessoas a adotar uma nova tecnologia pode ser uma tarefa desafiadora no início. Mas a rápida aceleração na curva de adoção tecnológica está ocorrendo atualmente com os veículos elétricos, conforme analisado pela Bloomberg em relação às taxas de adoção globais. Quando a análise foi inicialmente conduzida há um ano, 19 países haviam ultrapassado um ponto crucial para os veículos elétricos: 5% das vendas de carros novos eram exclusivamente elétricos.

Esse marco indica o início da adoção em massa, quando as preferências tecnológicas mudam rapidamente. Desde então, mais cinco países deram esse salto (Canadá, Austrália, Espanha, Tailândia e Hungria). Atualmente, 23 países já atingiram esse ponto crítico para veículos elétricos, incluindo os EUA, China e grande parte da Europa Ocidental.

Portanto, mantemos a perspectiva de crescimento da demanda e prevemos um aumento na produção da Sigma Lithium, tudo isso respaldado por uma viabilidade financeira robusta. A projeção é que o Capex da Fase 1 permaneça conforme as estimativas delineadas no Estudo de Viabilidade, com US$ 126,7 milhões utilizados até 30 de junho de 2023 e um saldo de US$ 8,1 milhões.

Os resultados financeiros do segundo trimestre de 2023 permanecem relativamente fracos, pois tanto as receitas quanto os custos serão refletidos predominantemente no terceiro trimestre de 2023, período em que a Sigma já deverá ter gerado um fluxo de caixa positivo. É digno de nota que a empresa recebeu um pré-pagamento significativo de US$ 31,8 milhões no segundo trimestre de 2023 para futuros envios de lítio e subprodutos.

Diante disso, a Sigma se mantém como um dos produtores emergentes mais promissores do setor de lítio, o que permite otimismo com a conclusão bem-sucedida da segunda remessa de lítio e subprodutos pela Sigma e antecipamos futuras remessas a curto prazo.

Surpreendentemente, essa confiança e desempenho não se refletiram totalmente nos preços das ações. Apesar dos avanços, mesmo com a recente correção decorrente da volatilidade nos preços internacionais do lítio, em parte atribuída aos problemas enfrentados pela China, percebemos que há amplo espaço para a Sigma reduzir o significativo desconto em suas ações.

Afinal, a Sigma é uma das poucas produtoras com potencial para se equiparar à produção das grandes corporações internacionais do setor já em 2024. Com base nisso, visualizamos a possibilidade de um reajuste positivo (“re-rating”) para a companhia, como indicado a seguir.

Isso nos leva a uma das tendências mais recentes que tem capturado a atenção do mercado: a possibilidade de a Sigma ser adquirida.

Sigma Lithium pode ser comprada?

Nos últimos dias, o conselho de administração da empresa indicou estar aberto a uma revisão estratégica dos negócios, após receber propostas de compra, tendo inclusive contratado o Bank of America e o BTG Pactual para auxiliar em uma potencial venda.

Observamos diversas possibilidades para que isso se concretize, dado que o projeto da Sigma desperta o interesse de várias empresas globais. Há a possibilidade de grandes players do setor energético, do ramo de refino de lítio ou até mesmo da indústria automobilística adquirirem a empresa. Já imaginou uma fábrica de veículos elétricos no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais?

Alguns exemplos recentes reforçam essa perspectiva promissora. A Cmoc, a maior produtora de molibdênio na China Continental e entre as maiores empresas mundiais na área, adquiriu ativos de nióbio e fosfato da Anglo American no Brasil em 2016, e recentemente voltou a avaliar novas aquisições no país. O PIF (Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita), com um patrimônio de US$ 600 bilhões, recentemente adquiriu uma participação na Vale Base Metals por meio da Manara.

Houve até rumores de que a Tesla teria demonstrado interesse na Sigma, embora não esteja atualmente envolvida em negociações ativas. Em fevereiro, a Bloomberg informou que Elon Musk, empresário da Tesla, estava considerando a possibilidade de fazer uma oferta pela Sigma. Musk, no entanto, declarou que não planeja adquirir empresas de mineração.

De qualquer forma, enxergamos essas movimentações de maneira favorável, entendendo que faz sentido para o mercado. Isso cria espaço para que uma oferta seja apresentada com um prêmio em relação aos preços atuais, levando em consideração o potencial e o desconto atual em relação às projeções de geração de receitas. Portanto, continuamos a ver a Sigma Lithium (Nasdaq: SGML) com bons olhos para as carteiras mais sofisticadas e arrojadas.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.