Investimentos

Stryker: conheça a empresa que pode ‘surfar o hype’ da Inteligência Artificial

Stryker é uma das poucas companhias do setor de saúde da Bolsa com potencial para pegar carona na ‘febre’ da Inteligência Artificial

Por Richard Carboni Camargo

23 jun 2023, 11:22 - atualizado em 23 jun 2023, 11:38

Stryker Inteligência Artificial

Não temos dúvida que o segmento de saúde é um dos que mais encontrará aplicações para inteligência artificial ao longo dos próximos anos.

Da descoberta de novas drogas, à melhoria nos procedimentos que levam um paciente à mesa de operações, passando inclusive pelo avanço das já muito superiores tecnologias de cirurgia robótica. 

Obviamente, consideramos que a Intuitive Surgical (Nasdaq: ISRG | B3: I1SR34) é dos players mais bem posicionados para se beneficiar da maturação dessa tecnologia, afinal, ela une superioridade tecnológica, num setor com claras tendências positivas de longo prazo (cirurgia robótica) e dominância de mercado, sendo a plataforma padrão em que qualquer novo cirurgião é treinado.

Mas, ela não é a única. Talvez você nunca tenha ouvido falar dela, mas a Stryker (Nasdaq: SYK) está tão bem posicionada quanto a Intuitive, porém em mercados diferentes dentro do segmento de saúde.

Anualmente, a Stryker fatura cerca de US$ 20 bilhões em dois grandes segmentos comerciais, chamados MedSurg e Neurotech.

Dentro dessas duas operações, há também uma segunda segmentação: em ambas as divisões de negócios há operações legado, de baixo crescimento porém alta rentabilidade, financiando aquisições e investimentos em novas tecnologias disruptivas.

Por exemplo, em MedSurg, ela é uma das principais fornecedoras para próteses utilizadas em cirurgias de substituição de joelhos e quadril nos EUA e na Europa.

Além de comuns (são mais de 1 milhão de procedimentos como esse todos os anos somando-se os dois mercados mencionados acima), a Stryker não fornece apenas as próteses, mas também a maioria dos equipamentos auxiliares utilizados na cirurgia (da maca, aos desfibriladores, até os robôs cirúrgicos mais especializados em cirurgias ortopédicas). 

Aliás, foram os lucros de fornecer próteses que permitiram à Stryker adquirir a Mako há alguns anos. Essa empresa é uma das pioneiras em robôs cirúrgicos no mercado ortopédico.

No vídeo abaixo, é possível ver uma aplicação da Mako.

As aquisições, inclusive, são um dos pilares principais da Stryker em longo prazo. Por exemplo, veja no gráfico abaixo o volume de aquisições (em dólares), realizadas em cada ano, nos últimos 20 anos.

Elaboração: Empiricus | Fonte: Koyfin

Stryker investiu US$ 11,2 bi em aquisições desde 2017

A cada dois ou três anos, dá para ver a empresa claramente apostando alto em M&As, adquirindo novas tecnologias e processos inovadores.

Desde 2017, por exemplo, foram US$ 11,2 bilhões em aquisições, frente a uma geração de caixa livre de US$ 12,1 bilhões no mesmo período.

Ou seja, mais de 90% de tudo o que a Stryker gera de caixa é utilizado para prospectar empresas que serão capazes de disruptar mercados onde a empresa é atualmente líder.

Em outras palavras, a Stryker é uma espécie de gigante de saúde, com um braço de venture capital investindo pesado nas tendências que consideramos mais interessantes em longo prazo dentro de health tech.

Na prática, ela faz algo que somos incapazes de fazê-lo sozinhos: a maioria dessas startups não estão listadas e portanto estão fora do nosso horizonte possível de investimentos.

Além de investir de maneira estratégica, a fonte de recursos da Stryker é a venda de produtos de saúde utilizados em procedimentos complexos, técnicos e com demanda relativamente estável. 

Contraste essa fonte de financiamento com a dificuldade com que os fundos de venture capital estão enfrentando para levantar capital. As duas manchetes abaixo são bem ilustrativas dessa dinâmica.

“TVC levanta entre 50% e 75% menos do que o planejado para seu novo fundo de venture capital” | Fonte: The Information, 12 de junho de 2023
“Insight Partners cortam fundo de 20 bilhões em meio a ‘grande reset em tecnologia'” | Fonte: Financial Times

Ou seja, os “competidores” da Stryker para investir ou adquirir essas pequenas startups de saúde estão enfrentando uma enorme dificuldade para levantar recursos.

Companhia é uma espécie de ‘Big Tech’ do setor

Com isso, nos próximos anos, o que devemos observar é a consolidação via grandes empresas. E, no segmento de saúde, a Stryker é uma espécie de “Big Tech” muito bem posicionada para fazê-lo.

No segmento Neurotech, temos a mesma dinâmica de produtos essenciais em procedimentos médicos financiando investimentos em inovação. 

Por exemplo, ao mesmo tempo em que a Stryker é líder em equipamentos utilizados em cirurgias cranianas abertas (serras ósseas e outros dispositivos utilizados para cortar e remover uma seção do crânio), ela lidera também no que há de mais inovador no setor, como neurocirurgia endoscópica (como tubos finos e flexíveis equipado com uma câmera e luz. Isso permite que os cirurgiões operem através de pequenas incisões, o que pode reduzir a dor e o tempo de recuperação para o paciente).

Neste ano, a Stryker deve atualizar toda a sua linha de neurologia endoscópica, com upgrades tanto no software utilizado para a preparação cirúrgica, quanto no hardware, lançando câmeras menores e de maior resolução.

Bom, explicado em termos gerais o que faz a Stryker, vamos falar sobre o seu lado financeiro.

Essa é, em longo prazo, uma empresa de margens bastante saudáveis e estáveis, apesar de todo o crescimento inorgânico. Nos últimos 10 anos, a margem bruta tem oscilado em torno do patamar de 65%, a margem ebitda de 25% e a margem líquida  de 12%.

Elaboração: Empiricus | Fonte: Koyfin

Desde o início da pandemia, a Stryker tem sofrido alguma pressão, especialmente devido ao impacto da inflação e os problemas logísticos que começaram a se normalizar no final do ano passado. 

Nos próximos 18 meses, essa normalização será um suporte importante para nós, auxiliando a empresa a recuperar parte da sua rentabilidade tradicional. 

Nos últimos anos, assim como temos visto em Intuitive Surgical, a ação da Stryker passou por um processo de expansão de múltiplos: a empresa, a média do múltiplo preço sobre lucros saiu de 20x até 2018, para 25x nos últimos 6 anos.

Elaboração: Empiricus | Fonte: Koyfin

‘Hype’ da Inteligência Artificial pode impulsionar Stryker

Neste momento, as ações são negociadas a cerca de 28x os lucros estimados para os próximos 12 meses, com algum prêmio em relação à média recente. 

Apesar de não ser uma barganha, a Stryker é um dos únicos players no setor de saúde em que vemos potencial de uma mudança de narrativa em longo prazo, com o mercado dando ênfase cada vez maior aos procedimentos robóticos e às aplicações de AI, e cada vez menos foco nas linhas de negócio tradicionais. 

Esperamos que essa convergência nos traga mais alguns anos de retornos acima do mercado através de Stryker.

Caso tenha interesse em conhecer outra empresa que pode aproveitar o “boom” da inteligência artificial, acesse aqui o relatório gratuito com o nome e ticker da companhia, que é parceira da Apple e cresce 20% ao ano.

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.