Investimentos

Tesla (TSLA34): ações caem depois da divulgação dos números relativos ao 3T22; veja a análise

O analista João Piccioni explica que, apesar do lucro líquido próximo da expectativa do mercado, cenário é desafiador para a montadora

Por João Luiz Piccioni Junior

20 out 2022, 09:33 - atualizado em 20 out 2022, 09:33

Tesla tsla34
Imagem: Divulgação

A Tesla (Nasdaq: TSLA | B3: TSLA34) divulgou ontem (19) seus números relativos ao terceiro trimestre de 2022 (3T22), após o fechamento do mercado. 

Apesar de alguns tropeços, tanto a linha de receita quanto o lucro líquido vieram próximos às expectativas do mercado, mas foram insuficientes para agradar a maior parte dos investidores — logo após a divulgação, as ações chegaram a cair 5,7% no after market.

Nos três meses findos em setembro, a montadora liderada por Elon Musk produziu 365.923 veículos e entregou aos seus clientes 343.830 unidades. As marcas acima representam crescimentos respectivos da ordem de 54% e 42% na comparação com o mesmo período do ano passado. 

O forte incremento é fruto do avanço da produção da Gigafactory de Shanghai, que voltou a operar a plena carga após as interrupções no segundo trimestre do ano. É preciso mencionar que essa planta é responsável por fornecer veículos para praticamente todas as regiões além da América do Norte.

Com isso, a receita da Tesla atingiu a marca dos US$ 21,45 bilhões (crescimento de 56% frente ao mesmo período de 2021), enquanto que o lucro líquido ajustado alcançou a marca dos US$ 3,6 bilhões (+75%). A geração de caixa no período foi recorde e alcançou a marca dos US$ 3 bilhões. 

Para mercado, números não são suficientes diante do cenário complicado

Os grandes números, entretanto, não deixam claras as dificuldades e a deterioração do cenário durante o período. 

Conforme mencionado no próprio release da companhia, houve aumento relevante dos custos de matérias primas, além de problemas logísticos na cadeia, que devem se avolumar ao passo do aumento da produção. 

Ainda vale ressaltar o efeito negativo do fortalecimento do dólar frente às demais moedas. 

O efeito dessas variáveis já pode ser percebido no resultado da empresa e a margem bruta ficou em 27,9% ante 30,5% do ano passado. Esse nível deve passar a ser visto como o “novo normal” daqui para frente, já que a empresa ainda deve sentir os impactos provenientes do ramp-up da produção da Gigafactory de Berlin e do início da produção do Cybertruck no Texas.

Apesar disso tudo, Elon Musk ainda está confiante na capacidade da companhia em continuar crescendo ao ritmo atual. Na teleconferência com analistas, reforçou a expectativa da manutenção da demanda (por ora, não sentiram impactos da desaceleração econômica global) e, entusiasmado, reforçou suas expectativas de longo prazo quanto à possibilidade de, no futuro, o valor de mercado da companhia superar o valor de mercado somado da Apple e da Saudi Aramco.

Veja o vídeo com a análise de João Piccioni:

Ação da Tesla é cara quando comparada aos pares do setor 

Em nossa opinião, o curto prazo deve ser um pouco mais difícil para a montadora e, por isso, mantemos a recomendação de venda para as ações da Tesla. Nesse caso, o cerne da tese de investimento está ligado ao valuation exagerado praticado pelo mercado — atualmente as ações da companhia são negociadas ao redor das 40 vezes seus lucros projetados para os próximos 12 meses, extremamente elevado quando comparado aos pares do setor.

Para que o preço das ações se sustente no patamar atual, seria preciso a manutenção de um crescimento acelerado durante alguns anos, cuja probabilidade nos parece baixa, dado o cenário para o setor automotivo global. 

Os efeitos do aperto monetário já se fazem presentes — a Ally Financial (NYSE: ALLY), uma financeira relevante no setor automotivo, por exemplo, percebeu uma retração significativa da demanda por novos financiamentos de automóveis no números do terceiro trimestre —, e a medida que eles forem contaminando a renda do americano, menor será propensão à aquisição de veículos novos. 

Além disso, é preciso mencionar que a competição continua viva e deve expandir seus portfólios nos próximos trimestres. Mesmo bem posicionada, Tesla em breve sofrerá um enfrentamento mais duro dos pares americanos, alemães e chineses. Como sempre, à conferir.

CIO da Empiricus Gestão. Graduado em Engenharia e Administração de Empresas pela FEI e FGV-EAESP, respectivamente, e mestre em Finanças pela FGV-EESP. Possui mais de 15 anos de experiência em análise de investimentos e gestão de recursos. Certificações CNPI (Apimec), CGA (Certificado de Gestores Anbima) e CQF (Certificate of Quantitative Finance).