A segunda maior criptomoeda do mundo, Ethereum (ETH), vai passar por uma atualização que promete ser o evento mais importante do ano no mundo dos ativos digitais.
O The Merge, programado para 15 de setembro, tem animado os investidores. Apesar da mudança da data algumas vezes ao longo das últimas semanas, o número de contratos futuros de Ethereum está na máxima histórica e os especialistas estimam que deva aumentar conforme o evento se aproxima.
O analista-chefe do departamento de estudos em criptomoedas da Empiricus, Vinicius Bazan, vê o Merge como uma marca na história do mercado.
“Vão existir dois momentos na história do mercado de criptomoedas: antes do Merge e depois do Merge”, afirmou no podcast Crypto Storm.
Em termos técnicos, a mudança significará a passagem da rede do Ethereum do método Proof of Work (PoW) para o Proof of Stake (PoS). À primeira vista, parece algo de difícil compreensão. Tentaremos simplificar e explicar o porquê o The Merge é tão significativo para o mundo cripto.
Veja o vídeo abaixo: por que o The Merge é importante para o Ethereum
The Merge mudará método de validação das transações do Ethereum
Primeiramente, é necessário compreender que o Ethereum foi a primeira plataforma capaz de executar smart contracts, os “contratos inteligentes”, utilizando tecnologia blockchain.
A blockchain é uma tecnologia de registro que tem como principal objetivo garantir segurança através da descentralização. Em resumo, é um livro-razão virtual, público e universal.
Uma transação só é validada na blockchain a partir de um consenso. Isto é, uma maioria simples (50%+1) da rede deve concordar que tal operação é legítima. O consenso é, portanto, o método de atestar a autenticidade de uma transação.
A rede Ethereum – assim como o Bitcoin (BTC) – é uma das únicas, dentre as 50 principais, que utiliza o Proof-of-Work como método de consenso.
“O PoW utiliza uma rede de mineradores para criarem e validarem os blocos da blockchain, utilizando poder computacional e energia”, explica Vinicius Bazan, em relatório recente.
Por outro lado, o Proof-of-Stake (PoS) não necessita de mineradores. As aplicações e execuções de transações são feitas na rede pelos próprios detentores da moeda digital. Para se tornar um validador é preciso um depósito e a trava de 32 ETH na rede. Na tarde desta terça-feira (23), o Ether era comercializado a R$ 8.326,00.
Deste modo, o The Merge (em tradução do inglês, fusão) representa a passagem do método de mineração para o método de validação.
“Neste caso, a junção será feita entre uma rede chamada Beacon Chain, que é a rede PoS do Ethereum, e a rede existente que utiliza PoW”, esclarece Bazan.
Mineradores serão os mais afetados pela mudança
Para os usuários, na prática, a fusão não muda quase nada. O token ETH continuará sendo utilizado dentro das mesmas redes e wallets em que já estão inseridos.
A mudança mais significativa será no mecanismo de remuneração dos participantes da rede.
Hoje, a rede do Ethereum depende dos mineradores, que investiram em máquinas que só se adequam ao sistema ETH. Eles são os responsáveis por processar e validar todas as transações da rede. No entanto, a partir da mudança para o PoS, eles não serão mais necessários.
“O minerador de Ethereum teve que investir muito dinheiro, por muito tempo, para conseguir ter uma capacidade computacional robusta e ter uma boa rentabilidade. Basicamente, eles ficarão sem ter o que fazer com todo o investimento que fizeram”, explica Murilo Cortina, analista de criptoativos da Empiricus.
De acordo com Vinicius Bazan, um bom minerador ganha entre US$ 100 e US$ 200 por dia. O retorno do investimento nos caros processadores necessários para ter um bom desempenho na rede ocorre ao longo do tempo – o que ainda não aconteceu para muitos deles.
Uma reportagem da Bloomberg revelou que, apenas em 2021, foram investidos mais de US$ 15 bilhões em equipamentos para mineração.
Para não se sentirem prejudicados, os mineradores querem criar uma separação – conhecida como fork – entre o sistema atual, PoW, e o que passará a operar na rede da Ethereum, PoS. Com isso, duas redes passariam a existir: a original e uma cópia da primeira.
“[A possibilidade] tem causado muitas discussões dentro do ambiente cripto. Suas implicações não são 100% claras, não se sabe se vai realmente existir essa rede do fork e se ela vai ser longeva, ter algum valor”, avalia Cortina.
The Merge: redução inflacionária, sustentabilidade e mais segurança para o Ethereum
Um dos impactos diretos do The Merge é a redução inflacionária da criptomoeda. Cada minerador recebe, no atual protocolo, 2 ETH por bloco minerado, o que resulta em aproximadamente 13 mil ETH liberados por dia.
Depois da transição, explica Bazan, a média diária vai variar conforme a quantidade de ETH em staking e de transações sendo processadas pelo volume da rede.
Atualmente são aproximadamente 13 milhões de ETH em staking, o que resultaria em uma emissão de algo como 1,6 mil ETHs por dia, uma diminuição de mais de 90% em relação à atual.
“Mesmo que o total de ETH em staking aumente de forma abrupta, chegando a, por exemplo, 33 milhões de ETH em staking, teremos em média 2,6 mil ETHs emitidos por dia. Ainda assim, um número significativamente menor do que os 13 mil diários emitidos pelo método PoW”, explica Bazan.
Ainda segundo o analista-chefe, um outro ponto importante é a segurança da rede. Hoje existem na Beacon Chain (rede PoS do Ethereum) mais de 400 mil validadores, enquanto o atual modelo tem uma média móvel de dois a três mil mineradores.
E claro, quanto mais validadores, maior a probabilidade de transações idôneas. Além disso, caso o validador não performe de acordo com as expectativas, ele será “punido” pela rede, o que no jargão cripto é conhecido como slashed.
Por fim, apenas 0,5% da energia elétrica consumida no processo de mineração será usada no novo modelo. Em um mundo que cada vez mais se preocupa e necessita de ESG (governança ambiental, social e corporativa), a sustentabilidade será mais um benefício do The Merge.
No fim das contas, é simples: impacto para Ethereum tende a ser positivo no longo prazo
Para Bazan, independentemente da dificuldade de compreender a mudança em si, o investidor deve ter em mente que a mudança representará uma das principais atualizações dentro de um dos melhores protocolos do universo cripto.
“Possibilita que esse negócio seja muito mais escalável, utilizável e robusto para o futuro. Garante que, de fato, o Ethereum seja uma grande estrutura do mercado cripto. O Merge é um ponto essencial de uma atualização que permite que o Ethereum continue sendo dominante”, afirmou Bazan.
O analista Valter Rebelo acredita que o Merge é apenas uma parcela da transformação que a moeda está se propondo a fazer para se tornar o Ethereum 2.0, uma moeda deflacionária e com alta utilidade.
“Como você atrai mais aplicativos, mais serviços, mais produtos para aquele protocolo? Criando uma facilidade para programadores, que incentive e tenha uma comunidade forte e fomente demanda, tendo uma economia saudável. A gente vê todas essas qualidades para o Ethereum agora”, finaliza.
É importante saber que o Ethereum não deve ser a única moeda impactada pelo The Merge. Existem diversos criptoativos menores que utilizam a rede do Ethereum e podem também se beneficiar da atualização. Aliás, para Bazan, a maior oportunidade de lucrar com o The Merge é comprar uma cesta com alguns destes criptoativos selecionados pela equipe de analistas da Empiricus. Ele traz mais informações sobre isso neste vídeo.