Desde sexta-feira (14), os principais bancos americanos divulgaram os seus resultados do segundo trimestre de 2023 (Q2 earnings).
Grandes beneficiários pós-falência de alguns bancos regionais, em meados de março, essas instituições “grandes demais para quebrar“ mostraram que, nesse caso, tamanho importa (e muito).
Com exceção do Goldman Sachs (B3: GSG134 | NYSE: GS), todos os outros cinco maiores bancos americanos — JPMorgan Chase (B3: JPMC34 | NYSE: JPM), Citigroup (B3: CTGP34 | NYSE: C), Wells Fargo (B3: WFCO34 | NYSE: WFC), Bank of America (B3: BOAC34 | NYSE: BAC) e Morgan Stanley (B3: MSBR34 | NYSE: MS) reportaram números melhores do que as projeções dos analistas, em grande parte por conta do aumento de juros realizado pelo Federal Reserve ao longo do último ano.
O destaque dos resultados foi o JP Morgan Chase
Maior banco em ativos dos Estados Unidos, com quase US$3,9 trilhões em seu balanço, o JP Morgan viu sua receita com juros aumentar 123% e encerrar o período nos US$41,644 bilhões.
Ainda que suas despesas com juros também tenham apresentado forte crescimento (+465%, US$19,865 bilhões), o porte da instituição permitiu a mesma divulgar uma alta de 34% na receita líquida, totalizando US$41,307 bilhões no trimestre.
A instituição comandada por Jamie Dimon, aliás, deixou seus rivais comendo poeira na divulgação dos números.
Mesmo desconsiderando a aquisição de parte dos ativos do First Republic Bank (que adicionou cerca de US$4 bilhões em receitas e aproximadamente US$2,4 bilhões no lucro líquido), o JPMorgan reportou uma alta de 21% no faturamento e 40% na linha final de resultado. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) foi de 20% (17% ex-First Republic), 7 pontos percentuais (+4 p.p.) acima do apresentado no 2T22.
Além disso, a parte de Investment Banking, ainda que enfrentando dificuldades, parece demonstrar que o pior ficou para trás.
Isso porque JPMorgan Chase, Bank of America, Morgan Stanley e Citigroup superaram as expectativas dos analistas em relação a receita de emissão de equities no trimestre — com todos (menos o Citigroup) apresentando crescimento nessa linha de negócio em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esses mesmos bancos (de novo, com exceção do Citi) também reportaram números melhores do que o esperado pelo mercado na parte de emissão de dívida.
Segundo a CFO do Morgan Stanley, Sharon Yeshaya, o sentimento é de que as coisas estão melhorando, com sinais encorajadores. De acordo com a executiva, a carteira de novos pedidos de emissões está sendo construída e indica que essa parte da companhia deve ter um 2024 melhor do que 2023.
A CEO do Citigroup, Jane Fraser, comentou que está vendo sentimento parecido na sua instituição. Nas palavras da diretora, globalmente o banco está vendo menos ansiedade de seus clientes em relação ao financiamento de suas operações, com as grandes corporações aproveitando para emitir novas dívidas mesmo pagando taxas maiores diante da demanda por esses papéis.
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Alerta para o Goldman Sachs
O ponto de atenção aqui ficou por conta do Goldman Sachs, uma vez que possui uma atuação muito focada na parte de Investment Banking. O banco centenário reportou queda de 8% na receita na comparação anual, que ficou nos US$10,895 bilhões, e de 62% no lucro líquido (US$1,071 bilhão, ROE anualizado de 4%).
Apesar desses pontos positivos, outras questões indicam que nem tudo está resolvido completamente na visão dos executivos dessas instituições.
As provisões para devedores duvidosos dos seis bancões, por exemplo, totalizou US$8,337 bilhões no 2T23, ante US$4,246 bilhões um ano atrás (+96%).
Além disso, mesmo essas grandes instituições viram seus depósitos reduzirem no trimestre, indicando que os clientes estão tendo que utilizar seus recursos para poder pagar suas contas.
O JPMorgan Chase viu os depósitos recuarem 3% na comparação anual; o Bank of America, -5%; Wells Fargo, -6%.
Os executivos também reforçaram que, apesar da resiliência da economia americana, o momento ainda sugere cautela.
Dimon, do JPMorgan, reforçou que os balanços dos consumidores seguem saudáveis, com os mesmos continuando a consumir (ainda que tenham reduzido o ímpeto recentemente). O mercado de trabalho, que deu uma aliviada nos últimos meses, continua mostrando crescimento no número de empregos.
Por outro lado, a inflação continua elevada — o que sugeriria uma taxa de juros mais alta por mais tempo por parte do Fed —, com déficits fiscais ainda relevantes ao redor do mundo, somado a continuidade da Guerra da Ucrânia, que ainda pode ter impactos significativos na geopolítica mundial e na economia global.
Já para Brian Moynihan, CEO do Bank of America, a economia americana continua em um bom momento, ainda que em um ritmo de crescimento menor nos últimos meses.
Desde então, os investidores ficaram animados com os mercados, levando os índices para os maiores patamares em um ano. Afinal de contas, dada a magnitude desses negócios, é possível ter uma ideia de como anda a economia em tempo real.
Só que, como alguns desses próprios executivos pontuaram, alguma surpresa não tão positiva pode surgir no horizonte. Aguardando a cena dos próximos capítulos, mas uma coisa é certa: não dá para ignorar o que esses bancões falam para os investidores.