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Está virando piada no mercado financeiro que, mais difícil que prever o dia de amanhã, está prever as próximas horas. As cruzadas tarifárias do presidente americano Donald Trump estão causando um verdadeiro alvoroço no mercado, com novas atualizações sobre as tarifas comerciais sendo ventiladas a todo momento.
O S&P 500, um dos principais índices da bolsa dos EUA, descolou de uma queda de mais de 20% desde o dia 2 de abril, quando houve o anúncio oficial da Casa Branca sobre as novas tarifas, para uma alta de 9,2% na quarta-feira (9). A mudança ocorreu após Trump anunciar que as chamadas tarifas “recíprocas” contra os países (com exceção da China) cairiam para alíquota base de 10% por um período de 90 dias.
“As empresas americanas tiveram resultados muito ruins no primeiro trimestre e seguiram com perspectivas negativas, esperando uma resolução sobre o dia 2 para antecipar as oscilações. Quando o anúncio veio ainda pior do que o esperado, vimos uma desvalorização gigantesca”, recapitula Enzo Pacheco, analista de ações internacionais da Empiricus Research.
Medidas tarifárias de Trump são caminho viável para estimular a indústria americana? Entenda
Em entrevista ao Giro do Mercado nesta quinta-feira (10), Pacheco comentou que “a decisão de Trump colocou em parafuso uma economia global dependente da globalização, das importações.”
O analista explica que o otimismo de Trump em estimular a indústria americana é um projeto de “longuíssimo prazo” e que deverá ter como principal efeito o aumento dos preços de produção em diversos setores.
“Atualmente, o custo de produção de um iPhone na China é de US$ 300 por telefone. Calcula-se que, para os EUA ter a capacidade de produzir esse telefone, seria próximo de US$ 900 por unidade. Agora, com as tarifas, o custo do celular pode chegar até US$ 3500”, avalia Pacheco.
Outro exemplo trazido pelo analista é o desejo de Trump de estimular a indústria americana farmacêutica. Segundo ele, há insumos de remédios que só são produzidos em outros países e a vinda dessas empresas para os EUA seria um projeto de muito longo prazo, o que é incerto, já que pode haver mudança política nos próximos anos ou uma reversão das tarifas.
“Ele [Trump] não vai conseguir tirar toda a produção de outros locais, então o preço dos medicamentos deve subir. Quando colocamos isso na linha de lucro das empresas, pode haver uma redução entre 20% e 30% devido ao aumento dos gastos de produção”, explica Pacheco.
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Títulos do Tesouro foram impulso para Trump pausar tarifas, diz analista
Depois dos últimos dias do mercado reagindo mal ao anúncio das tarifas, o que pareceu mexer com a decisão de Trump na quarta-feira (9) foi o andamento dos títulos do Tesouro americano.
“Trump afirma que está preocupado em trazer o emprego de volta e mais prosperidade, mas os mercados estavam reagindo mal. O que pareceu mover ele foi a inversão dos Treasuries de 10 anos, que bateram a taxa de 4%”, comenta Pacheco.
“Quando os títulos chegaram entre 4,3% e 4,4%, o que são movimentos muito significativos pro mercado de títulos, Trump percebeu que se a economia caísse e a taxa dos 10 anos aumentasse, entraria em uma dinâmica muito ruim. Foi então que resolveu parar as tarifas”, aponta o analista.
Opções de proteção ao portfólio no exterior
A imagem do dólar como uma reserva de segurança vem perdendo força pelos bancos centrais, que buscam outros ativos, como o ouro e, para algumas instituições, o Bitcoin (BTC).
Apesar disso, Pacheco ressalta que ainda é possível olhar com bons olhos para o mercado de renda variável americano, principalmente caso a queda das bolsas se acentue. “Se tivermos uma perspectiva de crescimento do S&P 500 por 14x P/L ou 16x P/L, seria uma aposta que tende a entregar muito bem no longuíssimo prazo. Claro que haverá oscilações até lá e os números ainda podem cair mais. Mas é uma oportunidade muito boa, quando se estende o horizonte de investimento, a chance de perder dinheiro nesse nível de múltiplos é muito baixa”, afirma o analista.
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