Há exatos 6 meses, em uma quinta-feira, 12 de janeiro, a Faria Lima acompanhava apreensiva o caso Americanas (AMER3). Na ocasião, o recém-chegado CEO da companhia, Sérgio Rial, revelou a descoberta de “inconsistências contábeis” na casa dos R$ 20 bilhões, e renunciou ao cargo após 9 dias na função.
Era o início da maior fraude da história corporativa do Brasil. Hoje, o rombo passa dos R$ 40 bilhões, segundo a própria empresa.
Nos meses subsequentes, a Americanas evitou a palavra “fraude” ao se referir ao caso. No entanto, em fato relevante enviado ao mercado em junho, a companhia admitiu pela primeira vez que parte das inconsistências bilionárias eram fruto de atividades fraudulentas.
De acordo com o comunicado, a “diretoria anterior” foi responsável pelo acontecido e 7 executivos supostamente envolvidos foram afastados.
Como está a Americanas hoje em dia?
Depois de 6 meses do caso que virou assunto em todas as camadas da população brasileira, como está a situação da Americanas?
De acordo com o analista Fernando Ferrer, da Empiricus Research, as notícias “não são animadoras, por diversas óticas”.
Primeiro, pelo ponto de vista dos clientes, que perderam a confiança na companhia. Com receio de não receberem os produtos, os consumidores passaram a considerar outras opções.
Uma evidência disso, segundo Ferrer, é a queda de mais de 90% no faturamento de todos os e-commerces da Americanas na comparação com dezembro de 2022, um mês antes do rombo.
Pela ótica do fornecedor, a situação também é desconfortável. Sabendo dos problemas e da recuperação judicial enfrentada pela companhia, os fornecedores passaram a exigir o pagamento praticamente à vista.
“O prazo anterior era de 124 dias e, em abril, passou para 8 dias. Com isso, o fluxo de caixa acaba se deteriorando porque tem que pagar muito rápido”, explica Ferrer.
Tudo isso mostra o quanto a situação da companhia está fragilizada. Por isso, o analista não recomenda chegar perto das ações da Americanas. “A situação é frágil, seguimos bastante cautelosos com o papel”.
Adicionalmente, a Americanas teve que fechar lojas, demitir funcionários e colocar à venda, sem sucesso, as empresas Ame Digital e Grupo Uni.co, das marcas Puket e Imaginarium.
Companhia vai falir?
Mesmo com a situação delicada, o analista não acredita que a varejista vá falir. “A recuperação judicial ajuda a proteger. Além disso, a Americanas tem acionistas de referência, que durante parte da vida da empresa foram controladores, do grupo mais rico do Brasil. Eles estão se mostrando dispostos a colocar dinheiro na companhia para tentar uma salvação”, afirma.
Apesar disso, ele cita a dificuldade e a demora de um processo de recuperação judicial. “A Oi demorou 6 anos em recuperação judicial e, quando saiu, entrou em outra dois meses depois, porque viu que a situação era difícil”, lembra.
Para Ferrer, a melhora da Americanas passa por uma diminuição drástica no tamanho da companhia.
“Mesmo com os fechamentos, a empresa tem mais de 1.800 lojas. Seria mais viável virar um business regional ao invés de nacional, como é hoje. Com ela menor, mais aportes [dos acionistas] e negociação com os credores, o turnaround pode acontecer de maneira mais suave”, avalia, reiterando a dificuldade da situação.
Confira a entrevista completa de Fernando Ferrer no Giro do Mercado: