A Cogna (COGN3) não está nas nossas carteiras.
A inadimplência nas mensalidades deu um pulo no começo de 2020. O valor das dívidas vencidas há mais de 90 dias pulou de R$ 744 milhões no fim de 2019 para R$ 1,8 bilhão no fim do primeiro trimestre de 2020.
É uma deterioração muito rápida. O setor de educação é um dos mais atingidos pelo coronavírus.
Mas o problema da inadimplência não é de hoje. No ensino superior da Cogna, desde 2014 o saldo de recebíveis subiu 300%, enquanto a receita da empresa se manteve estável.
Esse é um ponto importante. O ensino superior privado teve anos de crescimento muito expressivo nos anos do PT, estimulado pelo Fies, um programa em que o governo emprestava dinheiro para os alunos estudarem.
Na prática, o governo pagava valores elevados para as universidades e, depois, ficava com a conta da inadimplência elevadíssima. Muitos alunos desistiam do curso pelo caminho ou, mesmo formados, não conseguiam arranjar empregos na sua área.
Segundo o ranking da Folha, a Anhanguera, que é a principal marca de ensino superior da Cogna, é 169º melhor universidade do país, entre 197 avaliadas.
Ou seja, transferia-se risco da universidade para o governo e transferia-se renda do governo para a universidade.
Com o Fies esvaziado, nos últimos cinco anos a receita da Cogna com ensino superior ficou estagnada. A situação da economia também não ajudou.
É fato que a empresa buscou diversificar sua atuação para outros campos, como o ensino básico. Não há, porém, qualquer sinal de que o ciclo será favorável nos próximos anos, trazendo expansão significativa de matrículas ou possibilidade de aumentar mensalidades.
“Entendemos que Cogna seja uma boa empresa com um negócio diversificado de ensino e que pode gerar bons frutos no longo prazo. No entanto, há falta de visibilidade no curto prazo”, escreveu o sócio Max Bohm.