O mercado financeiro tem voltado seus holofotes para países emergentes, em meio à crise que assola a Europa e aos juros elevados. Dentre eles, está a China, que está resgatando a confiança de investidores globais.
Felipe Miranda, sócio-fundador e CIO da Empiricus, entende esse movimento como reflexo de o país asiático estar em um momento muito diferente do resto do mundo.
Em relatório recente da série Palavra do Estrategista, ele se aprofunda melhor nessa questão e lista também outros tópicos que levam a isso:
1. A China já passou pela normalização do processo econômico pós-pandêmico
Embora o país de Xi Jinping ainda apresente questões complexas, como as regulações impostas pelo governo e os problemas no setor de incorporação (vide caso Evergrande), Felipe explica que economicamente a China caminha bem. Isso porque autoridades estatais estão adotando medidas para lidar com o decreto do presidente para minimizar as perturbações causadas pela pandemia de Covid-19 na economia e na sociedade.
Prova de que o controle de custos com internações hospitalares tem funcionado é que hoje o país convive com perspectiva de inflação mais baixa, mesmo em meio à crise de suprimentos relacionada ao conflito entre Ucrânia e Rússia.
“Mesmo que ainda estejam ocorrendo lockdowns em regiões importantes, o governo chinês tem se mostrado bastante comprometido com estímulos fiscais e monetários, na contramão do que temos visto em países como EUA e demais nomes da Zona do Euro”, comenta.
2. Ativos bastante descontados
Ao mesmo tempo, por conta da intensa desvalorização das ações chinesas desde o início da pandemia do Covid-19, os papéis se encontram bastante descontados (como mostra o gráfico abaixo), o que, na visão do analista, abre oportunidade de investimento.
“Em um cenário de juros elevados como o que estamos vivendo agora, naturalmente os recursos saem de investimentos caros e vão para investimentos baratos e é aí que os emergentes ganham espaço mais uma vez, com a devida seletividade”, destaca.
3. A economia chinesa cresce menos, mas ainda cresce
Segundo o analista, a flexibilização econômica é um fator que poderá atrair investidores que buscam não só ativos baratos, como também menor volatilidade decorrente de desaceleração – que não quer dizer que a economia parou de vez: “O menor crescimento chinês é crescer 5% em vez de 6%, o que ainda é muito bom se comparado a outros países. Sem contar que os ativos chineses negociam barato até em relação aos americanos, mesmo depois do sell-off recente que teve por lá” (como você pode ver no gráfico a seguir).
4. Um mundo de mais inflação pede ativos reais na carteira
“Se o dinheiro do investidor perde valor em meio à inflação desenfreada, é importante ter na carteira ativos reais, que se beneficiam da inflação, como é o caso das ações. Por isso, faz-se necessário se posicionar em teses muito descontadas um pouco mais arriscadas, como a chinesa, respeitando o limite de expor no máximo 5% da carteira a essas ações. A longo prazo a exposição a esse prêmio de risco deve ser bem-sucedida, principalmente considerando a hegemonia que o país já caminha para se tornar”, argumenta Felipe no relatório Palavra do Estrategista.