A Vale (VALE3) realizou seu Investor Day na última quarta-feira (7), com pistas importantes sobre o futuro da companhia e do setor.
Mas antes, vamos começar pela grande decepção: o guidance de produção, que ficou abaixo das expectativas.
Nos últimos anos, especialmente após o desastre de Brumadinho, a Vale tem enfrentado maiores dificuldades com licenciamentos de novos projetos, o que acaba se refletindo em atrasos e redução na produção.
Lembrando que em julho deste ano a companhia já havia revisado para baixo suas expectativas de produção em 2022, sinalizando dificuldades de atingir a meta de longo prazo de 400 milhões de toneladas.
Diante das dificuldades, o novo guidance comparado com aquele apresentado no Vale Day 2021 mostra uma queda de cerca de 10%-15% nas produções de médio e longo prazo.
Enquanto a Vale tenta resolver os desafios de quantidade por conta dos licenciamentos, o foco passará a ser cada vez maior na enorme qualidade do minério de ferro produzido pela companhia.
Aliás, esse deve começar a se tornar um tema cada vez mais relevante nos próximos anos. Com a tendência e necessidade de descarbonização da indústria siderúrgica global, o minério de maior qualidade (aglomerados e finos premium), exatamente o mercado no qual a Vale atua, passará a merecer prêmios cada vez maiores sobre o produto de menor qualidade, como podemos verificar na tabela abaixo.
Estamos falando de um prêmio de qualidade que deve crescer de US$ 7/ton para US$ 8/ton já no ano que vem – um incremento de mais de US$ 300 milhões de receita –, US$ 10/ton em 2026 e que deve atingir mais de US$ 20/ton em 2030. Até 2026, a perspectiva é de que esses prêmios de qualidade rendam até US$ 4 bilhões de Ebitda.
Os aglomerados terão papel fundamental nesse objetivo de longo prazo, e a companhia projeta triplicar a produção desses produtos até 2030, mas também serão necessários maiores investimentos, por isso, houve um aumento no Capex anual projetado.
Inflação de custos preocupa mercado
Enquanto a Vale tenta compensar menos quantidade com mais qualidade, um outro ponto tem preocupado o mercado: a inflação de custos. O custo caixa deve subir para cerca de US$ 21/ton em 2023, em comparação a US$ 17,2/ton em 2021, especialmente por conta dos custos com diesel, após a disparada do petróleo.
No entanto, no evento a Vale fez questão de esclarecer que esse não é um problema exclusivo dela. A inflação de custos trouxe uma mudança estrutural no setor, algo que o mercado parece não ter entendido ainda.
Com os elevados custos atuais e o minério de ferro de longo prazo em US$ 70/ton – projeção de grande parte dos analistas do setor –, cerca de 200 milhões de toneladas de capacidade de companhias menos eficientes ao redor do mundo seriam interrompidas, elevando os preços de equilíbrio para bem mais próximo dos US$ 100/ton, muito confortável considerando os Custos All-in abaixo de US$ 50 já considerando os custos de entrega.
É claro que isso significa ótima geração de caixa livre e boa capacidade de distribuição de dividendos e recompras de VALE3, como já tem acontecido nos últimos anos.
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VALE3 projeta forte crescimento na demanda por Níquel e Cobre
Sobre os metais básicos, a companhia reforçou mais uma vez o papel crucial do segmento na transição energética, com projeção de forte crescimento na demanda por Níquel e Cobre, especialmente por conta do aumento de veículos elétricos (EV).
Apesar de uma ligeira queda na produção de níquel em 2023, afetada por um reparo em Creighton e pela reforma no forno de Onça Puma, a Vale planeja um bom crescimento no médio e longo prazos para surfar essa onda.
Aliás, há muito valor para ser destravado neste segmento, que merece múltiplos bem maiores do que os ativos de produção de minério de ferro.
Pensando nesse potencial, a Vale pretende separar completamente o segmento de metais básicos, com um CEO dedicado para o negócio e um parceiro minoritário estratégico que compraria cerca de 10% da “nova companhia” por cerca de US$ 2 bilhões.
Gostamos do Vale Day, que apesar das premissas mais tímidas para o volume de produção, deixou mais clara a perspectiva de geração de valor através de produtos com maior valor agregado, além de deixar claro que o ambiente inflacionário atual exige níveis de preços mais elevados de minério de ferro do que a maior parte do mercado acredita.
Com ativos de muita qualidade, negociando por múltiplos baixos e dividend yield elevado, VALE3 segue entre as sugestões de várias séries da Empiricus.