Investimentos

Vamos colocar os pingos nos is

É possível – arriscaria dizer provável – que você tenha visto a disputa crescente de bancos e corretoras pelo investidor pessoa física. As propagandas das plataformas estão por toda a parte. Parece perseguição, com os comerciais me seguindo por onde eu vou.

Por Equipe Empiricus

19 abr 2017, 10:13

É possível – arriscaria dizer provável – que você tenha visto a disputa crescente de bancos e corretoras pelo investidor pessoa física. As propagandas das plataformas estão por toda a parte. Parece perseguição, com os comerciais me seguindo por onde eu vou.

Se fosse só na internet, talvez você se apressaria a dizer que eu estou “cookado”, que o Google invade minha privacidade e me lê como interessado na coisa. Daí, passa a imprimir pra mim tais anúncios com maior frequência. Tem razão. Mas o negócio está na TV aberta, na rádio Jovem Pan e, claro, também no Google. Dizem que uma dessas plataformas é genial. Pra mim, gênio mesmo neste mercado só o Luis Stuhlberger. Ah, têm o Cerize e o Rodolfo também.

A primeira coisa que eu preciso dizer é que, sim, acho fundamental que você tenha conta aberta numa dessas corretoras independentes. Elas oferecem, na média, taxas menores e uma pluralidade maior de alternativas para o investidor. Ótimo. Então, se você ainda não migrou ao menos parte de seus investimentos para BTG, Easynvest, Genial, Guide, XP ou qualquer outro grupo pertencente à lista, sugiro que o faça imediatamente.

Também me parece inegável que a XP, um pouco à frente das demais nos esforços de popularização dos investimentos, plataforma aberta e “desbancarização”, chega ao provável IPO com todos os méritos. Há de se tirar o chapéu.

Preciso também confessar admiração pessoal pelo Guilherme Benchimol, que por vários anos foi criticado pelo pessoal da Faria Lima e agora virou incontestável. Foi para capa da Exame e tudo mais – embora, cá entre nós, a julgar pelo histórico, não há mau agouro maior do que ir pra capa da Exame; dali pra frente, foi downhill para todos fotografados.

Brincadeiras e superstições irrelevantes à parte, quem toca asset de sete pessoas pode ser intelectualmente brilhante e bastante rico, mas, com a devida vênia, não tem uma empresa. Nos últimos anos, quem fez uma empresa de verdade no mercado financeiro brasileiro foi o Benchimol, junto com seus sócios, claro, e isso merece o mais profundo respeito.

Eu sou o primeiro a defender as corretoras independentes (e, filosoficamente, para os fins deste texto, aqui incluo o BTG) como veículos adequados para instrumentalização e operacionalização das estratégias do investidor pessoa física. Nesse escopo, elas são muito superiores aos bancos tradicionais e merecem tê-lo como cliente.

Mas a coisa para por ai. Essa demarcação – instrumentalização e operacionalização – precisa estar clara e, infelizmente, ela não está nas propagandas dessas instituições. Quando esse pessoal quer se colocar como bons conselheiros e consultores de investimento, desvirtua-se seu propósito, numa indução deliberada e inadequada. Simplesmente porque eles não são.

Não podemos perder de vista que uma corretora é uma….corretora. E, até por uma questão etimológica, ganha dinheiro com corretagem e/ou com fees de colocação/rebates de fundos e outros produtos financeiros. Não ganham dinheiro diretamente com consultoria e aconselhamento. Logo, quando se propõem a fazê-lo, estão circunscritos aos mesmos conflitos de interessa da indústria financeira tradicional. Você se propõe a fazer consultoria com o intuito de fomentar outros negócios, aqueles que aumentam seu faturamento.

Alguns dos negócios laterais e subjacentes dos bancos comerciais, sob a ótica do investidor, persistem rigorosamente idênticos nas corretoras e nos bancos de investimento. Aliás, na crise financeira de 2008, essa turma foi a responsável pelas maiores barbaridades da bolha subprime.

Se uma corretora participa de um IPO e recomenda futuramente a respectiva ação, o cliente que recebe seu relatório deve estar ciente de que, sim, o analista pode estar genuinamente acreditando naquela sugestão. No entanto, pode também estar apenas obedecendo a uma outra agenda, pautada pela geração de receita à corretora, que recebeu alguns milhões de reais para participar da coordenação daquela abertura de capital. Você vai falar mal da empresa que está pagando trinta milhões de reais em fee para a empresa onde trabalha?

Se uma corretora emite um relatório de análise técnica com 125 recomendações e pontos de entrada e saída, ela realmente acredita que aquela técnica tem poder preditivo para o comportamento dos preços das ações? Ou somente sabe que cada ponto de entrada e saída representa uma corretagem pingando em sua conta?

Se uma corretora lhe oferece um fundo novo de uma gestora renomada, ela, de fato, vê potencial naquele veículo específico? Ou será que recebe uma boa taxa de rebate por aquela captação? Ou, ainda pior, será que não está apenas fazendo cena?

E embora os conflitos de interesses sejam muito importantes e nocivos ao investidor, eles não são o único problema. Há uma questão de coerência interna também. Como pode essa turma se colocar como grandes assessores e consultores, se não há ali verdadeira pesquisa em prol da recomendação por boas estratégias de investimento?

De todo esse pessoal, o único com equipe de research respeitável é o BTG – e o mercado inteiro sabe disso, não estou contando novidade para ninguém. Sem uma boa pesquisa, não há como haver indicação de boas estratégias. Somente com uma equipe grande, técnica e focada em descobrir onde estão as melhores oportunidades, pode-se chegar a uma alocação capaz de oferecer retornos acima da média. Isso exige sangue, suor e lágrimas.

As corretoras brasileiras prestam, sim, um grande serviço e recebem nossa admiração. Mas devemos dar a César só e tudo que é de César. Elas ainda oferecem vantagens relevantes em relação aos bancos comerciais. Há de se reconhecer, porém, que, com a abertura das plataformas pelos bancões, com alguns dando um giro de 360 graus em suas estratégias retrógradas, essa distância surpreendentemente inclusive tem diminuído.

Como diria a mãe de Forrest Gump, “a vida é como uma caixa de bombons. Você nunca sabe o que vai encontrar dentro.”

Mercados iniciam a quarta-feira demonstrando um pouco mais de ânimo. Ibovespa Futuro sobe 0,6 por cento, empurrado pela menor procura por segurança no exterior, pela recuperação de preços de commodities e por um pouco mais de confiança no atingimento de um consenso para uma (sim, artigo indefinido) reforma da Previdência.

Agenda do dia tem leitura do relatório final da Previdência, nova tentativa de aprovar urgência para reforma trabalhista depois da derrota de ontem, reação à vitória na ajuda aos estados, fluxo cambial semanal e nova deflação profunda (-0,99%) medida por prévia do IGP-M. Operação Conclave da Polícia Federal investiga possíveis operações fraudulentas entre Banco Pan e CEF.

Lá fora, temos estoques de petróleo norte-americanos, Livro Bege do Fed e expectativa com eleições francesas no final de semana.

Dólar sobe ligeiramente contra o real e juros futuros tentam encontrar tendência única.

Encerro a abertura de hoje com um agradecimento genuíno pela aceitação ao InsideCap. Depois do sucesso impressionante de ontem, Carlos Herrera e Max Bohm gravaram um material especial para você.

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