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Vale a pena investir no Banco do Brasil (BBAS3)?

Após indicar ações do BB por anos, analista da Empiricus recomenda venda; saiba como substituir esses papéis em sua carteira

Por Danilo Moliterno

12 mar 2021, 06:12

Durante seis anos as ações do Banco do Brasil (BBAS3) foram indicadas na série As Melhores Ações da Bolsa, de Max Bohm. No entanto, devido à “nuvem negra da ingerência política”, o analista agora recomenda que esses papéis sejam vendidos.

Nesse texto você confere um resumo da história do BB, entende o porquê de suas ações não serem mais indicadas e recebe de Max Bohm uma recomendação sobre como substituir esses papéis em sua carteira. A fim de facilitar a leitura, o texto está dividido em tópicos, os quais você pode acessar através dos links:

A história do [Banco do] Brasil

A história do BB pode ser facilmente confundida com a história do Brasil. Fugindo de Napoleão, que varria a Europa com seu exército, a família real portuguesa desembarcava por aqui em 1808. Ainda em 12 de outubro daquele ano, o príncipe-regente, Dom João VI, determinaria a criação do primeiro banco do país, o Banco do Brasil.

Anos depois, em 1817, a instituição realiza a primeira oferta pública de ações do mercado de capitais brasileiro. Em 1819, a primeira bolsa do país é construída no Rio de Janeiro com financiamento do Banco do Brasil. Por aqui, tudo que dizia respeito a dinheiro andava de mãos dadas com o BB. Isso até 1821, quando D. João retornou a Portugal e tratou de levar todo o dinheiro que havia no banco. O que marcou o fim da instituição.

Quadro de D.João VI exposto no Mafra National Palace, em Portugal (Foto: StockPhotosArt / Shutterstock.com)

Mas, para todo fim, há um recomeço, certo? No caso do BB, sim! Durante o Segundo Império, em 1851, o Barão de Mauá — empresário reconhecido por ter fundado diversas indústrias nacionais — idealiza uma nova instituição financeira para o país: o Banco do Brasil.

Naquela época o BB era responsável por conceder linhas de crédito para as atividades econômicas do governo e por emitir a moeda nacional. “Assim, consolidava-se como uma das instituições mais importantes para o Brasil, cujo objetivo é contribuir de forma intensa para o seu crescimento econômico, industrial e comercial”, explica Bohm.

Já durante a Velha República, em 1906, o Banco do Brasil lança ações na Bolsa de Valores. E um século depois, em 2006, adere ao Bovespa e se compromete a colocar mais papéis em livre circulação no mercado. Para isso, realizou ofertas públicas em 2006, 2007 e 2010 (essa última, a maior de sua história).

O perfil do Banco do Brasil (BBAS3)

Presente em quase todos os municípios brasileiros e mais de 15 países, o Banco do Brasil conquistou um porte empresarial que justifica o adjetivo “bancão”.

E uma das consequências dessa escala global é a variedade das suas linhas de negócio, bastante numerosas quando nos aprofundamos detalhadamente. Por isso, aqui, iremos destrinchar as frentes de atuação mais relevantes de BBAS3.

Para começar, vamos entender a segmentação da base de clientes do Banco do Brasil. A primeira divisão a ser feita consiste em Pessoa Jurídica e Pessoa Física e, depois, segue as classes abaixo:

PJ é classificada por faturamento; PF por renda/investimentos

É importante ressaltarmos que o segmento de pessoas físicas acima não contempla os produtores rurais. Isso acontece porque eles entram numa linha de negócio diferenciada do bancão, fato que mostra a importância do agronegócio para a empresa.

Agora, vamos para as duas principais propostas de valor: crédito e serviços.

No primeiro caso, estamos falando da carteira de crédito, o core de todo banco. No 3T20, o Banco do Brasil possuía um montante de R$ 730,9 bilhões, superando os dois maiores bancos privados brasileiros.

O gráfico abaixo especifica o peso de cada tipo de cliente nesta carteira:

Percebemos que as pessoas físicas têm um papel crucial para o banco e, aliadas com as grandes empresas e o governo, representam 61,6% dos detentores do crédito do Banco do Brasil.

No entanto, o agronegócio também mostra seu destaque aqui.

Partindo, agora, para a segunda proposta de valor do banco, uma série de serviços compõem o portfólio do bancão, desde conta corrente e administração de fundos até seguros, previdência e capitalização.

Agro é tudo?

Até agora, explicamos que os produtores rurais possuem uma segmentação apartada e representam uma parcela expressiva da carteira de crédito. Só que a relação entre o agronegócio e o Banco do Brasil vai muito além disso.

Vamos começar pela importância do setor para o país.

Em 2020, o Ministério da Agricultura revelou que o agronegócio brasileiro foi responsável por quase metade das exportações totais do país, com participação recorde de 48%.

Max aponta que dois dos principais motivos para tamanho crescimento foram “a evolução na cotação do dólar, que beneficiou — e muito — as exportações; e o confinamento em nossos lares durante a pandemia, que aumentou a necessidade por alimentos”.

Ainda que o dólar se estabilize e o confinamento se vá de uma vez por todas, o agronegócio não pretende parar de crescer. E as previsões do Ministério da Agricultura justificam: a produção agrícola do país deve crescer 2,5% ao ano até 2027/28.

Pode parecer irrisório. Entretanto, Max esclarece que, “desde 2015, a economia brasileira anda em marcha lenta e a expectativa é que a recuperação dos efeitos da pandemia não seja tão rápida”. Assim, o agronegócio continuará carregando a economia do Brasil nas costas.

E para sustentar o crescimento previsto para os próximos anos do setor, a demanda por crédito tende a seguir a mesma avenida. Isso nos leva, então, ao Banco do Brasil.

Nos últimos dez anos, a carteira de crédito do BB voltada para esse setor apresentou um crescimento anual de 3%. Em outras palavras, a prosperidade do agronegócio e de BBAS3 estão fortemente atreladas.

E o bancão conquistou esse protagonismo através de um portfólio robusto de linhas de crédito, com taxas mais atrativas do que as alternativas do mercado e que se configura como uma ajuda ampla que pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso desses produtores.

Então, assim como o agronegócio é importante para o país e para o bancão, BBAS3 também se faz muito relevante para o setor, sendo responsável por quase 64% do crédito rural brasileiro.

Fonte: RI da empresa

No gráfico acima, você pode perceber que agronegócios e crédito rural retratados em duas colunas diferentes. Você sabe o que cada um significa?

Vamos explicar agora.

Para simplificarmos, trata-se de um grupo (agronegócios) e seu subgrupo (créditos rurais). Assim, o primeiro é um conceito mais amplo, enquanto o segundo é uma vertente dele.

Mas, claro, vamos nos aprofundar para os leitores mais interessados nas especificidades.

Quando falamos de agronegócios, estamos nos referindo ao setor inteiro, que contempla desde o cultivo de café e algodão até a criação pecuária. Aqui, o Banco do Brasil vai muito além do crédito, oferecendo, também, “seguros contra perdas na produção e operações de hedge para blindar oscilações indesejáveis nos preços das commodities agrícolas”.

Agora, quando o assunto é crédito rural, a questão gira em torno, especificamente, do “financiamento da compra de sementes e fertilizantes, da aquisição de máquinas agrícolas, da construção de sistemas de armazenagem e do desenvolvimento de soluções de irrigação e correção de solo”, disserta Max.

Perceba que, no primeiro caso, a lógica é oferecer diversas soluções para o setor, enquanto no segundo, o foco é conceder dinheiro para os produtores rurais trabalharem melhor e com mais segurança.

Além disso, existe uma janela mais específica para você, investidor. Na B3, há pouquíssimas empresas do agronegócio presentes. E as que estão listadas, são small caps — possuem, portanto, altíssima volatilidade e menos liquidez que as demais ações.

Então, basta ligar os pontos: que empresa robusta pode te inserir no crescimento exponencial do agro ao mesmo tempo em que entrega liquidez?

A resposta de Max era clara: “a única alternativa é o Banco do Brasil (BBAS3)”. No entanto, como veremos na próxima seção, o jogo mudou.

6 anos de recomendação… que poderiam ser mais

Como citado por Bohm, o Banco do Brasil foi criado com o intuito de fomentar o desenvolvimento econômico e social no país. Se analisada a carteira de crédito da instituição dos últimos anos, percebe-se que esse objetivo se mantém vivo — ponto fundamental para que a série As Melhores Ações da Bolsa tenha a indicado durante tanto tempo.

Dentre a carteira de crédito, Bohm destaca a boa relação do BB com o agronegócio brasileiro (Imagem: Banco do Brasil/Reprodução)

Mas, nem mesmo essa característica histórica foi capaz de conter o pessimismo do mercado para com o BB — e todos os outros grandes bancos —, desde o início da ascensão das fintechs. Estratégias como “custo zero para correntistas”, adotadas pelas entrantes, atraíram público e derrubaram as receitas dos “bancões” na área de serviços.

Em janeiro, quando ainda recomendava BBAS3, Max Bohm já apontava que “os desafios, principalmente em receitas de serviços, são enormes” para o BB. “Veremos essa linha perdendo espaço nos resultados dos [grandes] bancos a cada trimestre, com fintechs oferecendo soluções de baixo custo e com maior acessibilidade”, completou.

Mesmo assim, acredite ou não, o início de 2021 se mostrava promissor para o Banco do Brasil. Parecia que suas ações se manteriam entre As Melhores Ações da Bolsa. O resultado da instituição no quarto trimestre de 2020 apontava que a carteira de crédito havia crescido 1,5%. Isso, somado à redução das despesas com captação, resultou em uma expansão de 1,1% na margem bruta, comparada ao trimestre anterior.

Falando em diminuição de despesas… em janeiro, o banco anunciou o fechamento de diversos postos de atendimento e agências, e um programa de desligamento voluntário. O que — de acordo com as previsões da instituição — geraria uma economia de R$ 353 milhões ainda em 2021 e de R$ 2,7 bilhões até 2025.

O fechamento dessas unidades foi possibilitado pelo processo de digitalização pelo qual o BB vem passando. O banco investiu cerca de 2,3 bilhões em tecnologias para viabilizar essa operação. E, aparentemente, o resultado esperado foi atingido: dados divulgados sobre canais de atendimento mostram aumento no acesso por meio de internet em telefones celulares. 

A digitalização permite o fechamento das agências físicas e a queda das despesas operacionais (Imagem: Banco do Brasil/Reprodução)

“Apesar de [essas reduções de despesas terem] um valor pequeno em relação às proporções dos resultados do banco, isso se soma a outros movimentos de redução, como vendas de imóveis e instalação de usinas fotovoltaicas, e tendem a gerar expansão da eficiência e automaticamente melhores resultados”, comenta Bohm.

Além disso, o Banco do Brasil demonstrava já ter deixado para trás os efeitos da pandemia. A Provisão de Pagamentos duvidosos (PDD), que se manteve elevada durante todo o ano de 2020, caiu no quarto trimestre. A redução foi de 6,4% em relação ao terceiro.

“Por ser uma opção mais descontada entre os bancos” — destacava Max Bohm —, BB permanecia entre as Melhores Ações da Bolsa. Porém tudo mudou, não só para o Banco do Brasil, mas para a maior parte das estatais brasileiras, em fevereiro.

Nuvens de ingerência no céu da pátria

Durante os seis anos em que BBAS3 foi recomendado pelo analista da Empiricus, a instituição nunca havia sido ameaçada por ingerências políticas. A gestão do Banco, sob comando dos CEOs Paulo Caffarelli, Rubem Vaz e André Brandão, “mostrou boa evolução operacional e sempre foi bastante transparente com o mercado”, aponta Bohm.

Nos últimos meses, no entanto, tudo mudou. A demissão de Castello Branco na Petrobras e, principalmente, a de André Brandão levaram à desvalorização das ações do BB. O cenário para as estatais como um todo se tornou “bastante perigoso”, pontua o analista.

Jair Bolsonaro anunciou a demissão de Castello Branco no dia 19 de fevereiro BW Press / Shutterstock.com

“Apesar de continuarmos achando que BBAS3 é uma ação barata, o risco aumentou consideravelmente, mudando o racional do investimento. Sendo assim, decidimos recomendar a venda de BBAS3 e trocá-la por um banco privado com grande potencial de crescimento”. Mais sobre esse “banco de grande potencial”, citado por Bohm, você confere no último tópico deste texto.

Entrantes e Openbanking

Mas ainda há outros fatores para se considerar sobre o BB e outros “bancões”. Por exemplo, o posicionamento deles em um mercado que passa por mudanças profundas. Depois do Pix, o assunto da vez no Sistema Financeiro Nacional é o Open Banking. O projeto faz parte da agenda do Banco Central (BC) de incentivo à competitividade no mercado.

O PIX é outra tentativa do BC dde fomentar o mercado (Foto: Rafapress/ Shutterstock.com)

O Open Banking implementa novas regras e tecnologias, visando o compartilhamento de dados de clientes entre instituições financeiras. A iniciativa, é claro, é pautada no consentimento do usuário. As empresas poderão compartilhar informações de um cliente somente se ele autorizar essa operação.

O impacto do Open Banking na atuação dos grandes bancos, assim como o da ascensão das fintechs, ainda é imprevisível, segundo Felipe Miranda. Na série Carteira Empiricus, o analista comente a situação:

“De qualquer forma, [essas mudanças] já permeiam as teses de investidores, que embutem um cenário mais desafiador para os bancões no futuro. Com isso, as ações dos quatro grandes (Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander) apresentam um desempenho inferior ao das fintechs e, inclusive, ao do BTG, que atua em um segmento diferenciado”.

Como substituir o BB em minha carteira?

Pegou o spoiler? Mencionado no final do último tópico, aquele que deve substituir o Banco do Brasil em sua carteira, segundo Bohm, é o Banco BTG Pactual (BPAC11). Em sua série, As Melhores Ações da Bolsa, o analista explica o porquê de essa ser a escolha ideal no momento da desvalorização do BB:

“Investir no BTG Pactual é uma forma direta de se expor à recuperação econômica e ao ‘financial deepening’ (processo de sofisticação de carreira de investimentos das pessoas físicas), além da expansão do mercado de capitais brasileiros, que vive ótima fase com grande número de IPOs e emissões”.

Logomarca do Banco BTG Pactual (Foto: Rafapress / Shutterstock.com)

Nos últimos trimestres, o BTG Pactual tem mostrado resultados consistentes, especialmente nos segmentos Investment Banking, Asset Management e Wealth Management (saiba o que é cada um deles clicando aqui). No primeiro desses, o grande crescimento é impulsionado pelas atividades de captação de recursos no mercado e operações de IPO e follow-on. 

Já as áreas de Wealth Management e Asset Management vivem ótimo momento devido à valorização dos mercados e ao aumento do volume de recursos sob gestão, com boas captações impulsionadas pela plataforma BTG Pactual Digital. 

A criação do BTG Pactual Digital, inclusive, é outro ponto relevante. A plataforma inova ao focar em distribuição digital e via agentes autônomos, o que fez o banco conquistar importantes escritórios, como EQI Investimentos. Além disso, o serviço é competente em complementar os demais segmentos do banco.

Considerados esses fatores e “a ótima estrutura do banco”, Bohm recomenda: “Compre BPAC11”. 

Sobre o autor

Danilo Moliterno

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP), com passagem pela redação do Jornal da USP