Eduardo Leite admitiu, na terça-feira (02), a possibilidade de concorrer à presidência nas próximas eleições, em 2022. Durante o evento Cenários Brasil 2021, promovido por Empiricus e Arko Advice, o governador do Rio Grande do Sul afirmou que está à disposição do projeto do PSDB e que aceitaria liderá-lo.
“Por ter sido prefeito [de Pelotas] e por ser governador de um estado política e economicamente importante, me coloco à disposição para ajudar esse projeto onde entenderem que eu melhor posso ajudar, inclusive liderando”, disse Eduardo Leite.
Logo após a afirmação, no entanto, o governador despistou. Apontou que decidir o candidato do partido “não é a questão-chave” no momento: “é menos sobre quem vai ser o representante e mais sobre discutir as ideias”. Além do gaúcho, o governador do estado de São Paulo, João Dória, é outro nome considerado para ser o candidato tucano em 2022.
O PSDB e o cenário político atual
Nas últimas eleições, em 2018, mesmo possuindo a maior coligação e o maior tempo para propaganda na televisão, os resultados do PSDB foram desanimadores. O candidato Geraldo Alckmin acumulou menos de 5% dos votos válidos. Em um pleito que se caracterizou pela polarização, a postura equilibrada do partido foi apontada como grande motivo do fracasso.
Eduardo Leite admite que o PSDB, de fato, evita radicalizar o discurso e busca a “razoabilidade e a sensatez”. Contudo, acredita que o partido adota, sim, posições firmes e não fica “em cima do muro”:
“O PSDB tem lado, tem posição. É um partido de reformas e compromisso com a máquina pública, que tem lado na privatização, mas também em programas de inclusão social e ganhos de renda para a população”.
As redes sociais — não só no Brasil, mas em todo o mundo — ajudaram a criar um ambiente político que privilegia a polarização de ideias. O governador relembra que o foco do PSDB é a “argumentação e a moderação”, mas admite que o partido “tem dificuldades em ocupar espaços nesse momento em que esse radicalismo acaba atraindo mais a audiência”.
Controle da pandemia e agenda de reformas
Há meses o Brasil debate se a prioridade, em meio à pandemia, deve ser a saúde pública ou a economia. Para Eduardo Leite, a prioridade atual deve ser o combate ao coronavírus. O governador comenta que deve haver esforço para avançar o plano de vacinação e diminuir a circulação de pessoas, a fim de conter a covid-19.
Eduardo Leite ao lado do ministro da saúde Eduardo Pazuello (Fotos: Felipe Dalla Valle/Fotos Públicas)
Após controlar a situação e amenizar o medo entre a população — inclusive entre investidores —, será o momento de pensar na pauta econômica. Eduardo Leite diz que o Governo Federal deve dar prosseguimento ao “caminho das reformas” e reforça que o processo deve ser conduzido com seriedade: “reformas para valer, não reformas para falar”.
“[Precisamos de] uma reforma [administrativa] que reduza no mais curto horizonte as despesas com a máquina pública. Uma reforma tributária arrojada, que pegue os impostos estaduais, municipais e federais para diminuir a complexidade do modelo tributário. E não descuidar das contas públicas, pois a segurança fiscal é o que dá segurança para os investidores, ajuda a diminuir preço do câmbio, ajuda a reduzir a inflação”, comenta o governador.
Para que haja sucesso nessas tratativas, de acordo com o gaúcho, o Governo Federal deve “respeitar, considerar e aglutinar prefeitos e governadores”. O que não ocorre, visto que “vivemos no Brasil um conflito permanente pelas declarações do presidente, pela falta de percepção de que a União é a soma das partes”, completa.
O governo no Rio Grande do Sul
Eleito em segundo turno com 53% dos votos, Eduardo Leite assumiria o Governo do Rio Grande do Sul em 2019 e, afirma, “sabia que iria se deparar com uma grave crise fiscal, com desequilíbrio nas contas”. O estado, ainda segundo o governador, gasta mais do que arrecada há décadas.
Grande parte das despesas do Rio Grande do Sul eram resultado do funcionalismo público. O sistema previdenciário do estado — em proporção, levando em conta o tamanho da população — era o maior de todo o Brasil.
“Fizemos a reforma mais profunda entre todos os estados, na previdência e na administrativa. Como resultado, no ano passado já vimos reduzir a despesa com aposentados. Nosso déficit caiu, em uma projeção, de R$13 bilhões para R$ 10 bilhões”, diz Eduardo Leite.
Além das reformas, o governador ressalta a importância das privatizações. Ele afirma que o Rio Grande do Sul também está avançando nessa frente: “a primeira [privatização] vai ser a da nossa companhia de energia elétrica. A distribuidora vai a leilão no fim de março, depois a geradora e a transmissora serão vendidas. Assim como a companhia de distribuição de gás, que vai ser vendida”.
A concessão da RSC-287, que liga Porto Alegre a Santa Maria, ocorrida em 2020, é um demonstrativo de outro foco da gestão. Eduardo Leite garante que o estado possui uma ampla carteira de projetos de concessão rodoviárias. O governador projeta a concessão de ao menos três lotes de rodovias até o fim deste ano.