As quatro maiores empresas de auditoria do mundo são conhecidas no mercado como Big Four. Trata-se da elite das empresas desse time, que tem por objetivo ajudar outras companhias através de análises contábeis extremamente minuciosas, além de oferecerem consultorias sobre assuntos complexos, como M&A (fusões e aquisições).
O que é o Big Four?
O Big Four é o grupo composto pelas quatro maiores empresas de auditoria do mundo: Ernst & Young (EY), Deloitte, PricewaterhouseCoopers (PwC) e KPMG. Reconhecidas no mundo inteiro por sua excelência na prestação de serviços de auditoria contábil, essas empresas também prestam serviços de consultorias, análises fiscais e tributárias, além de também auxiliar em operações como aquisições, fusões e cisões de empresas.
A história do grupo: de Big Eight a Big Four
A liderança do segmento de auditoria era, durante o século XX, composta por oito empresas. Assim, no princípio, tratava-se do Big Eight.
Naquela época, as companhias contábeis da Inglaterra e dos EUA sentiram a necessidade de expandir para além dos seus mercados nacionais. Para isso, formaram parcerias com empresas locais do país escolhido.
Daí em diante, o crescimento inorgânico foi a chave do sucesso: diversas fusões com empresas menores resultaram num bloco empresarial de oito empresas — tão relevante que ganhou nome próprio.
Para crescerem ainda mais, decidiram realizar fusões entre si que reduziram o grupo para Big Six e, depois, Big Five.
A passagem de Big Five para o atual Big Four, no entanto, não foi tão amistosa. Trata-se de um dos momentos mais marcantes do grupo e, por que não, do setor contábil.
Em 2001, a Enron Corporation, uma das líderes mundiais em energia, foi alvo de muitas denúncias de fraudes contábeis e fiscais. A empresa tinha uma dívida de U$ 13 bilhões e era acusada de esconder dívidas de US$ 25 bilhões durante dois anos seguidos.
O escândalo tomou grandes proporções e o governo federal conduziu investigações minuciosas sobre a companhia. O mercado, por sua vez, reagiu de forma agressiva.
Então, as descobertas das investigações nos levam de volta ao Big Five: naquele ano, a Enron foi auditada pela Arthur Andersen — integrante do quinteto.
A reação da gigante de auditoria foi, simplesmente, destruir diversos documentos envolvendo a sua relação com a Enron. Aquela cena de cinema, quando os funcionários estão jogando papéis numa fragmentadora, sabe?
Mas não resolveu muita coisa: após o ato, a Arthur Andersen foi indiciada por obstrução da justiça. Com a proibição de aceitar novos clientes durante a investigação, a maioria das suas firmas foi vendida para os outros quatro integrantes do Big Five.
O episódio motivou a criação da lei Sarbanes-Oxley, que estabelece algumas regras de auditoria e supervisão dessas atividades, para aumentar a confiabilidade do setor.
Por fim, a Arthur Andersen foi condenada e, então, dissolvida. Posteriormente, ela foi inocentada pela Suprema Corte dos EUA, mas, como os acontecimentos se desenrolaram necessariamente nessa ordem, a absolvição não foi de grande ajuda.
Com a reputação atingida pelo evento, a empresa perdeu espaço, e assim o Big Five se tornou Big Four.
As empresas do Big Four
Antes de saber sobre cada uma das sobreviventes que lideram o segmento, é importante entender a natureza legal do grupo.
Nenhuma das empresas do Big Four são, literalmente, empresas individuais. Para sermos justos, tratam-se de inúmeras firmas administradas independentemente umas das outras, que firmaram acordos entre si para compartilharem o mesmo nome, marca, propriedade intelectual e padrões de qualidade comuns.
Cada um desses quatro grandes conjuntos de empresas criou uma entidade global para coordenar as atividades de todas as partes envolvidas.
Deloitte
A Deloitte foi fundada em 1845 por William Welch Deloitte, em Londres. Desde então, a empresa se expandiu pelo globo e chegou ao Brasil em 1911, para auditar as companhias ferroviárias britânicas que faziam negócios aqui.
Atualmente, a Deloitte conta com cerca de 330 mil profissionais — só no Brasil, são 5 mil — em mais de 150 países. Em termos de receita, lidera o Big Four com US$ 47 bilhões em 2020.
Ernst & Young
A Ernst & Young (ou EY) surgiu em 1989, decorrente da fusão entre Ernst & Ernst e Arthur Young & Company, ambas com presença em vários países.
Para justificar sua integração ao Big Four, a EY conta com mais de 700 escritórios e 270 mil funcionários. Além disso, a receita da companhia foi de US$ 37 bilhões em 2020.
KPMG
A história da KPMG também foi fruto de uma fusão, neste caso em 1987 e envolvendo a Peat Marwick International e a Klynveld Main Goerdeler — as iniciais dos nomes serviram de inspiração para a nova empresa.
A presença da KPMG se dá através de 219 mil profissionais — 5 mil no Brasil — em mais de 140 países. A receita, por sua vez, foi de quase US$ 30 bilhões em 2020.
PricewaterhouseCoopers
A história da PwC também foi fruto de (adivinhe só?) uma fusão. Aqui, aconteceu em 1998 e entre a Price Waterhouse — presente no Brasil desde 1915 — e Coopers & Lybrand.
Quando olhamos o porte operacional da empresa, a PwC tem mais de 276 mil funcionários — no Brasil, são 3.600 — em 157 países. Sua receita a posiciona como a segunda maior da Big Four: US$ 43 bilhões em 2020.
As propostas de valor do grupo
Por atuarem no mesmo segmento, as quatro grandes empresas citadas trabalham, em maior ou menor grau, com as mesmas propostas de valor. Veja qual é a essência delas.
- Auditoria: analisam as finanças dos clientes — e apontam erros, se houverem — para que as informações dadas aos investidores e credores sejam mais confiáveis;
- Consultoria Empresarial: promovem insights que tornam a estratégia e os processos dos clientes mais eficientes para seus objetivos;
- Risk Advisory: realizam a gestão de risco dos clientes, contribuindo para um crescimento mais consistente e seguro;
- Financial Advisory: assessoram os clientes em diversos aspectos financeiros, desde captação de recursos para expansão das atividades até transações de M&A e readequação de sua estrutura de capital;
- Consultoria Tributária: auxiliam seus clientes no cumprimento das responsabilidades fiscais, como folhas de pagamento, impostos e taxas.
As falhas do Big Four
Já foi possível entender que o Big Four contempla redes de negócios contábeis absurdamente vastas e o que elas oferecem aos seus clientes. Mas quais os pontos negativos dessas empresas.
Em 2019, o Public Company Accounting Oversight Board, conselho que supervisiona a contabilidade das empresas negociadas em Bolsa de Valores — fruto da lei Sarbanes-Oxley —, fez uma análise com resultados bastante negativos: o Big Four errou quase um terço (31%) de suas auditorias desde 2009.
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Trata-se, claro, de uma média. Quando analisados os números individualmente, a KPMG lidera o grupo há alguns anos — em 2017, chegou ao ápice de apresentar falhas em 50% de suas auditorias, segundo o jornal Quartz.
Em 2018, ela foi investigada pelo Conselho de Relatórios Financeiros (ou FRC) britânico, após a falência da construtora Carillion (com passivos de, no mínimo, £ 2,2).
Em 2020, foi a vez da PwC. Ela enfrenta acusações de possíveis conflitos de interesse na sua auditoria à Sonangol, uma estatal petrolífera de Angola. A suspeita surgiu do fato da PwC assumir tanto o papel de auditora quanto de consultora.
Ainda em 2020, a EY foi acusada de prestar uma auditoria ruim por não perceber uma lacuna de € 1,9 bilhão no balanço da alemã Wirecard AG — que colapsou posteriormente e foi vendida para o Banco Santander.
E a Deloitte, ainda que por último, não escapou. A empresa foi multada em £ 15 milhões pelo FRC por deixar passar uma imagem enganosa da posição financeira da Autonomy, empresa britânica de software.
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