Para a maioria das pessoas, o BNDES é uma daquelas siglas que podem se perder facilmente nas notícias de inflação, desemprego e PIB na voz do âncora.
A instituição é normalmente lembrada por alguma polêmica ou pelas famosas “caixas-pretas” do banco. Porém, o papel que o BNDES tem vai muito além das manchetes dos jornais, atuando em vário setores da economia e fomentando o desenvolvimento econômico de diversas formas.
O que é o BNDES?
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social é um banco público criado em 1952 para fomentar o desenvolvimento econômico do país. Sua atuação se dá principalmente através da concessão de financiamento e empréstimos com taxa de juros subsidiadas para empresas.
Criação e história do BNDES
A ideia de ter um banco para apoiar diversas áreas da economia nacional, do microempreendedor à compra de máquinas agrícolas para grandes empresas, não é exclusiva do Brasil. China, Japão e Alemanha investem e lideram nesse segmento. O BNDES, por sua vez, não fica para trás, garantindo o 4° lugar no ranking mundial.
Criado durante o segundo governo Vargas, o banco se chamava somente BNDE. Na época, o projeto casou com os interesses de infraestrutura do Estado, principalmente em relação à industrialização, e só atendia contratos públicos.
Já em 1965, o banco fez o seu primeiro aceno à iniciativa privada, fazendo parte de projetos com pequenas e médias empresas. No final da década de 70, começou uma nova trilha de desenvolvimento da indústria nacional, com financiamentos ao agronegócio e ao setor de energia.
30 anos após a sua criação, já no final da Ditadura Militar, o “Social” finalmente entrou para a sigla. O acréscimo marcou uma fase de ampliação dos setores de atuação, voltada para fortalecer empresas brasileiras na dinâmica de exportação e importação.
Foi na década de 90, no entanto, que o banco passou por mudanças decisivas em relação à distribuição dos seus recursos. As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste começaram a ser priorizadas, ao mesmo tempo em que os microempreendedores também passaram a ser contemplados pelo banco.
Nessa mesma época, o banco também se aproximou do setor cultural, marcando participação no patrocínio de filmes e de projetos de preservação artística e cultural. Filmes de grande projeção nacional e que talvez você já tenha visto, como “Tropa de Elite” e “Cidade dos Homens”, foram financiados pelo banco.
Como funciona o BNDES?
A ação principal do BNDES não foge muito de uma atividade muito comum no seu banco: empréstimos e financiamentos. O ponto de virada está na sua estrutura: como uma empresa pública, controlada indiretamente pelo Governo Federal, a instituição aplica essa fórmula financeira a um contexto de fomento à economia nacional.
Apoiando uma grande diversidade de empresas e projetos, o BNDES impacta direta e indiretamente na geração de renda, novos empregos e de melhorias sociais no país. Pelo foco estar justamente no desenvolvimento nacional, a instituição oferece juros menores e prazos mais folgados em relação a outros bancos.
Mesmo não direcionando seu foco ao lucro, em 2021 o BNDES registrou um lucro líquido recorde de R$ 34,1 bilhões.
Mas enquanto no seu banco você pode usar o dinheiro emprestado livremente, no BNDES o empréstimo deve ser utilizado com uma finalidade específica e contratual. Como assim? Por mais que tenha banco no nome e siga uma função semelhante, a instituição oferece uma série de peculiaridades.
Qual o principal objetivo do BNDES?
Diferente de um banco tradicional, centrado na ideia de lucro e retorno financeiro, o BNDES possui uma proposta diferente. Segundo o site da instituição, um dos seus objetivos principais é:
“Apoiar programas, projetos, obras e serviços que se relacionem com o desenvolvimento econômico e social do País.”
Durante seus 70 anos de existência, o BNDES se baseou justamente neste objetivo de desenvolvimento, que a essa altura do texto, pode soar repetitivo. O diferencial do banco é a forma como consegue desdobrar esse financiamento, por exemplo, em linhas de crédito exclusivas.
Quais linhas de crédito o BNDES oferece?
No total, 4 linhas de crédito principais são oferecidas pelo Banco, cada uma com uma finalidade diferente. Confira:
- Finame: Com suas taxas de juros caracteristicamente baixas, o Finame já foi a linha de crédito do BNDES mais utilizada pelo brasileiro. Focada na aquisição de equipamentos e máquinas. O auge da procura foi em 2013, quando 77% de todos os caminhões adquiridos no ano foram financiados pela linha.
- Finame Agrícola: Esta linha segue a mesma linha de atuação que a anterior, mas voltando-se ao setor agrícola. Com o crescimento do agronegócio no Brasil, o BNDES começou a criar linhas e programas mais específicos para o setor, como o Inovagro, Moderagro e o Moderfrota.
As duas últimas linhas de crédito são usadas para financiar projetos de investimentos, tanto públicos quanto privados, de instituições credenciais. Aqui, o foco é maior no aperfeiçoamento da capacidade produtiva. A diferença está no valor de crédito ao ano:
- Finem: Valores de crédito superiores a R$ 20 milhões ao ano.
- BNDES automático: Valores de crédito iguais ou inferiores a R$ 20 milhões ao ano.
O que pode ser financiado pelo BNDES?
O Guia de Financiamento do BNDES, encontrado em seu site oficial, confirma a importância do banco para vários setores, já que a lista vai desde aquisições de aeronaves comerciais até integralizações de cotas partes. Mas de forma geral, o escopo das aquisições e das atividades financiadas pode ser resumido em:
- Investimentos para implantação, expansão, modernização e/ou recuperação de empreendimentos, infraestrutura, empresas e instituições públicas e privadas, incluindo estudos, projetos, obras civis, instalações, treinamento, entre outros;
- Produção ou aquisição de máquinas e equipamentos novos (inclusive veículos utilitários, ônibus, caminhões e aeronaves), de fabricação nacional e credenciados pelo BNDES;
- Bens novos, insumos, serviços, softwares;
- Capital de giro;
- Exportação de bens e serviços nacionais;
- Aquisição de bens e serviços importados e despesas de internação (através de linhas e condições específicas para esse fim), desde que haja comprovação de inexistência de similar nacional.
Diferença do BNDES para outros bancos
Como foi dito anteriormente, não é um simples empréstimo de banco o valor emprestado só poderá ser utilizado na atividade que motivou o empréstimo. Um produtor de uvas do Rio Grande do Sul foi contemplado com o dinheiro para comprar uma nova irrigadora. Ele pode até se sentir tentado a gastar com outra utilidade para a vinícola, mas com aquele dinheiro, deverá focar na irrigadora.
Essa é uma das primeiras diferenças do BNDES para bancos mais tradicionais e pode ser considerada negativa, por limitar o uso do dinheiro. Por outro lado, ele ganha grandes vantagens aos olhos dos empresários por dois fatores: maiores prazos de pagamento e, principalmente, menores juros.
Já as diferenças com outros bancos públicos aparecem por um fator mais estrutural. A instituição é uma autarquia federal, ou seja, controlada pelo Governo Federal, mesmo que indiretamente. Esse fator garante um nível de interferência estatal maior, inclusive quando comparado a outros bancos de desenvolvimento nacionais, como o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e o Banco da Amazônia (BASA).
O público também aparece como um fator decisivo. Enquanto a Caixa Econômica Federal tem um foco maior na pessoa física e na distribuição de benefícios do Governo, o fator de desenvolvimento no BNDES é mais voltado para a classe empresarial.
O BNDES também se difere do Banco do Brasil, mas por um motivo mais peculiar: ações. Por ser de capital aberto e ter papéis sendo negociados na B3, o BB acaba dialogando com uma ideia muito mais voltada ao varejo.
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Como conseguir um financiamento pelo BNDES?
Com uma extensão tão grande, é possível que o BNDES tenha interessado diversas gamas de empreendedores que estão lendo o texto nesse momento. O apoio do financiamento pode ser solicitado por meio direto, solicitando diretamente ao BNDES, ou por uma instituição credenciada, de modo indireto.
Independente do seu perfil, micro ou grande empresa, seu percurso até ter a possibilidade de colocar as mãos nos recursos passa por 4 etapas.
1ª – Habilitação: Na primeira parada, o BNDES irá analisar seus aspectos cadastrais, verificando se você está habilitado para receber o empréstimo. Aqui, serão analisadas sua situação creditória e jurídica.
2ª – Análise: Feita a solicitação, um comitê de análise Banco entra em uma etapa mais específica sobre o que está sendo pedido. O negócio é viável economicamente? Quais são as garantias? Ele pode gerar algum impacto ambiental? Essas perguntas aparecem em toda análise, que também observa os objetivos do projeto.
3ª – Contratação: Parabéns, o seu projeto passou pelo comitê de análise. A partir deste ponto, há a formalização do contrato de financiamento e o dinheiro solicitado começa a ter cor.
4ª – Acompanhamento: O dinheiro está na sua conta, mas o processo ainda não acabou. O BNDES, querendo garantir que os valores sejam utilizados para os fins que foram solicitados, estabelece uma fase de acompanhamento com o cliente. Essa fase também ajuda a garantir que, além da destinação dos valores, as exigências do contrato também estejam em boas condições.