O fenômeno dos juros negativos, mais precisamente o juro real negativo, é uma realidade que não é estranha para europeus e japoneses, que há anos convivem com taxas de juros extremamente baixas.
No entanto, o cenário de juros negativos, que pode parecer distante para muitos brasileiros, não está fora de cogitação – especialmente em um contexto de sucessivas reduções da taxa básica de juros, a Selic.
A possibilidade de juros negativos no Brasil traz consigo implicações significativas tanto para a economia quanto para as estratégias de investimento. Dessa forma, é importante compreender como os juros negativos podem impactar a economia e os investimentos.
O que são juros negativos?
Os juros negativos representam uma condição incomum no cenário econômico, quando a taxa de juros básica (no Brasil, a Selic) é estabelecida em um percentual abaixo de zero. Existem duas formas principais de se expressar os juros negativos: juros nominais negativos e juros reais negativos.
Os juros nominais negativos ocorrem quando a taxa de juros declarada é diretamente inferior a zero, enquanto os juros reais negativos resultam da combinação de taxas de juros nominais baixas com uma inflação que supera essas taxas.
A situação é mais comum em economias onde as taxas de juros são mantidas em níveis historicamente baixos, desafiando as noções convencionais sobre o custo do dinheiro e os retornos de investimento.
Os juros negativos são frequentemente adotados pelo Banco Central como uma medida de estímulo econômico. Isso porque, ao desencorajar a retenção de grandes somas de dinheiro em instrumentos de baixo risco, busca-se impulsionar o consumo, além de investimentos e empréstimos – medida que estimula a atividade econômica.
Como funcionam os juros negativos?
Em circunstâncias normais, os juros funcionam como a compensação que os investidores recebem pelo empréstimo de dinheiro ou investimento em ativos financeiros. No entanto, nos juros negativos, essa dinâmica se inverte, e quem investe acaba pagando uma taxa para manter seu dinheiro em determinados instrumentos financeiros.
Quando a taxa de juros declarada é inferior a zero, significa que quem toma empréstimos ou investe dinheiro em ativos sujeitos a essas taxas não recebe rendimentos, mas, ao contrário, paga uma quantia para manter seu capital nesses instrumentos.
Já os juros reais incorporam o impacto da inflação. Ou seja, mesmo que a taxa nominal seja baixa, se a inflação for ainda menor, os investidores podem obter um retorno real positivo. Contudo, quando a inflação ultrapassa a taxa nominal, resultando em juros reais negativos, a perda de poder de compra torna-se uma realidade para quem investe.
Como os juros negativos impactam os investimentos?
Os juros negativos têm implicações diretas no mercado financeiro e nas estratégias de alocação dos investidores, incentivando uma busca maior por ativos de renda variável. Isso ocorre porque, com juros nominais ou reais negativos, os investimentos tradicionais de renda fixa oferecem retornos próximos ou abaixo de zero.
Ou seja, há um desestímulo à alocação de recursos nesses ativos, uma vez que os investidores poderiam incorrer em perdas de capital ou obter rendimentos insignificantes. Assim, a baixa atratividade da renda fixa leva os investidores a buscar alternativas que possam oferecer retornos mais substanciais.
Os ativos de renda variável, como ações, tornam-se opções mais atraentes, já que o potencial de valorização e pagamento de dividendos pode superar os retornos negativos associados aos juros.
Do ponto de vista macroeconômico, os juros negativos visam estimular o consumo e o investimento, incentivando o gasto e desencorajando a manutenção passiva de grandes reservas de capital. Esse estímulo visa impulsionar a atividade econômica em momentos de desaceleração.
Países que já praticaram os juros negativos
Os juros negativos são uma realidade que, embora mais comum em países europeus e no Japão, também impactou o cenário econômico brasileiro em 2020, quando as taxas de juros se aproximaram de zero. Entre os países que já experimentaram ou ainda praticam juros negativos, destacam-se:
- Japão: um dos pioneiros na adoção de juros negativos. A taxa de juros zerada foi implementada em 2000, antes mesmo da crise internacional de 2008. Essa medida tinha como objetivo estimular a economia japonesa, enfrentando desafios econômicos persistentes.
- Suécia: a política de taxas de juros abaixo de zero foi implementada como resposta aos desafios econômicos, buscando incentivar o investimento e o consumo.
- Suíça: conhecida por seu sistema financeiro sólido, implementou juros negativos como uma estratégia para conter a valorização excessiva de sua moeda. Essa medida visava manter a competitividade das exportações suíças no mercado global.
- Alemanha: maior economia da Europa, a Alemanha, também experimentou juros negativos em determinados períodos. A busca por estratégias não convencionais de política monetária tornou-se uma resposta comum aos desafios econômicos na região.
- Brasil: em 2020, o Brasil vivenciou a proximidade dos juros de curto prazo próximos de zero. Embora não tenha adotado oficialmente juros nominais negativos, a taxa Selic atingiu mínimas históricas durante a crise da COVID-19. Essa ação buscava lidar com os impactos econômicos da pandemia.
- Taiwan, EUA e Polônia: Taiwan, Estados Unidos e Polônia são outros exemplos de países que adotaram ou consideraram políticas de juros negativos. Essa abordagem tornou-se uma ferramenta para enfrentar desafios econômicos e estimular o crescimento.
A prática de juros negativos reflete uma estratégia globalizada de políticas monetárias não convencionais, adotadas por diversos países em momentos de desaceleração econômica e desafios persistentes.
Juros negativos ocorrem quando a taxa de juros básica é estabelecida abaixo de zero. Em tal cenário, investidores podem pagar por manter seus recursos em certos instrumentos financeiros, desafiando a lógica tradicional dos retornos sobre investimentos.
Países como Japão, Suécia, Suíça, Dinamarca, Alemanha, Brasil, Taiwan, Estados Unidos e Polônia já experimentaram políticas de juros negativos em diferentes períodos, buscando estimular suas economias.
A adoção de juros negativos geralmente busca estimular a atividade econômica, incentivando o consumo, investimento e desencorajando o estacionamento passivo de grandes somas de dinheiro.
Juros negativos desestimulam investimentos em ativos de renda fixa, levando os investidores a buscar alternativas mais arriscadas, como ativos de renda variável. Essa busca por retorno pode intensificar a volatilidade nos mercados.
Embora o Brasil não tenha oficialmente adotado juros nominais negativos, a taxa Selic atingiu mínimas históricas em 2020, chegando próximo de zero. Essa ação visava enfrentar os desafios econômicos provocados pela pandemia da COVID-19.