Saudações! Somente em 2023, projetos de cripto ligados à IA apresentaram retornos acima de 300%. A que se deve isso? Hype, ou a aplicações com algum valor de mercado? Como tudo em cripto, há, na verdade, muito dos dois. Por isso, precisamos separar o que é e-mail e o que é spam aqui.
Em 1956, em uma conferência de pesquisa em Dartmouth, Estados Unidos, pensadores de diversas áreas se reuniram para discutir especificamente a possibilidade de criar máquinas que pudessem simular aspectos da inteligência humana. Somente 66 anos depois, uma aplicação com características que lembram as dos seres humanos atingiu alta popularidade com o consumidor final.
Desde o ChatGPT, IA virou mais do que um termo, mas uma tecnologia sobre a qual teremos que, frequentemente, reajustar expectativas e repensar o nosso lugar no mundo.
A palavra IA ao redor do mundo – Google Trends
Fonte: Google Trends
Em contraste, blockchain, a tecnologia que permite que múltiplos participantes tomem conta de um registro comum, sem a necessidade de confiança mútua, começou apenas na década de 80.
Na minha opinião, inteligência artificial é, sim, algo muito maior do que cripto e blockchain. Toda área de pesquisa já criada visa resolver algum problema; IA visa resolver o “meta-problema”, ou seja, o problema do qual todos os outros problemas se originam: o problema da inteligência.
Parece que cada vez mais estaremos utilizando sistemas baseados em inteligências autônomas, treinadas com quantidades exorbitantes de dados. É mais barato, rápido, e envolve pouca mão de obra humana. Mas essa moeda não tem só um lado.
Quem comanda essas inteligências? Como sabemos se essas inteligências não estão nos retroalimentando ideias tendenciosas? Que mecanismos garantiram o discernimento do que é verdadeiro no meio digital? Até quando continuaremos sendo ordenhados pelos nossos dados? Essas perguntas representam novos riscos trazidos pelo desenvolvimento de IAs; na linguagem dos empreendedores e investidores, isso se chama oportunidade.
O diagrama abaixo foi proposto por Vitalík Buterin, fundador da rede Ethereum, em um post recentemente publicado em seu blog. Ele exemplifica bem as sinergias entre IA e cripto, e de como projetos de cripto podem construir soluções para os novos problemas relacionados à IA.
O diagrama serve como uma ótima base para entender projetos de cripto ligados à IA. Os casos de uso para blockchain no contexto de sistemas de inteligência artificial permitem corte de custos e consumo energético, permite modelos com maior transparência (podemos visualizar os pesos e vieses de uma IA), e finalmente, permite criar incentivos através de tokens.
Ativos interessantes, e que caem nessa interseção entre cripto e IA são:
- Computação e treinamento de IAs distribuído: Render (RNDR), Akash Network (AKT);
- Incentivação e transparência de modelos: BitTensor (TAO);
- Criação de aplicações autónomas: Autonolas (OLAS);
- Competição de modelos de predição: Numerai (NMR);
- Identidade descentralizada: Worldcoin (WLD).
Variações semanais (12/02/24 a 19/02/24)
- Bitcoin (BTC)
Preço: US$ 52.125 | Var. +7,89%
- Ethereum (ETH)
Preço: US$ 2.880 | Var. +14,80%
🌐 Dominância Bitcoin: 53,23% (Var. -0,90%)
* dados referentes ao fechamento em 19/02/24
Tópicos da semana
- IA na programação: Vitalik Buterin, co-fundador do Ethereum, destacou o potencial da inteligência artificial (IA) em auxiliar os desenvolvedores do Ethereum na identificação de bugs e na verificação de códigos. Buterin expressou entusiasmo pela verificação formal de código assistida por IA e pela localização de bugs, apontando isso como um risco técnico significativo para o Ethereum. Analistas preveem que a combinação de inovações em IA e web3 pode levar ao surgimento de um sub-setor de criptomoedas próspero em 2024, com agentes de IA se tornando uma nova categoria de usuários na blockchain, destacando o uso de tecnologias de aprendizado de máquina ZK (zero-knowledge), como as da Modulus Labs.
- ETFs de ETH em maio (possivelmente): O preço do Ether atingiu $3.000 na terça-feira pela primeira vez em quase dois anos, impulsionado pela especulação de que fundos negociados em bolsa (ETFs) de ether à vista poderiam ser aprovados nos EUA já em maio. A especulação crescente sobre a aprovação potencial desses produtos este ano fez com que o desempenho do preço do ether superasse o do bitcoin em 2024. O analista de ETFs da Bloomberg, Eric Balchunas, sugeriu recentemente 70% de probabilidade de aprovação até 23 de maio, prazo final para a Securities and Exchange Commission (SEC) decidir sobre um pedido de ETF de ether à vista da Ark e 21Shares.
Gráfico da semana
O bitcoin não vai matar o ouro. O ouro ainda será um tipo de reserva de valor, e também continuará tendo aplicações na indústria e joalheria. Entretanto, o ouro é muito limitado no que tange a mobilidade de capital, desintermediação, e uso como um meio de transação (você tem dez reais de ouro aí?).
Um futurologista poderia argumentar que o ouro é resistente a uma extinção da internet, no caso de uma tempestade solar ou outro evento cataclísmico. Da mesma forma, o mesmo futurologista poderia argumentar que a escassez do ouro poderia ser posta em cheque com o advento da mineração espacial (ouro não é tão escasso assim fora do planeta Terra).
É interessante fazermos esses questionamentos, por mais “cauda longa” que sejam, para que cheguemos a nossa própria conclusão de qual ativo é mais antifrágil. Desde a criação dos ETFs de BTC, entretanto, o mercado parece estar disposto a enxergar o BTC como uma reserva de valor.
Fluxos acumulados nos ETFs de BTC vs. ETFs de Ouro (YTD)
Desde o começo do ano, os fluxos líquidos dos ETPs (produtos transacionados em bolsa) de ouro foram negativos, com mais de 2.5 bilhões de dólares em saídas. Em contrapartida, os ETFs de BTC já acumulam quase 5 bilhões de dólares. Essa demanda oriunda dos ETFs deve continuar ao longo de 2024, principalmente nas proximidades do halving e dos cortes de juros nos EUA.
Forte abraço,
Valter Rebelo
