Saudações! Hoje, quem escreve o Crypto Insights sou eu, Marcello Cestari. Para aqueles que não me conhecem, sou o trader e analista responsável por todos os fundos de criptoativos na Empiricus Gestão. Além do trabalho na gestora, regularmente produzo conteúdo e análises aprofundadas sobre o mercado de criptoativos em meu Instagram @cestari.crypto e escreverei mais vezes aqui nos insights.
O halving do Bitcoin, um evento programado que ocorre a cada quatro anos, é visto como um momento crucial no mercado de criptomoedas e acontecerá em aproximadamente 25 dias, e agora?
O Bitcoin é uma criptomoeda descentralizada, que não é emitida nem controlada por uma autoridade central, diferentemente das moedas soberanas comuns. Sua produção é limitada a 21 milhões de unidades, fracionáveis até 1 Satoshi (1 Satoshi = 0,00000001 BTC). Ao contrário de uma emissão simultânea, os bitcoins são gerados gradualmente por meio de um processo chamado mineração.
A mineração do Bitcoin é um método de verificar e validar transações na blockchain do Bitcoin. Para que ela aconteça, supercomputadores com amplo poder computacional, que são especializados, precisam resolver problemas complexos para incluir novas transações na blockchain.
Nessa perspectiva, quem se dispõe a executar esse trabalho (supercomputadores e pessoas que possuem essas máquinas de mineração) é chamado de “minerador”, o qual, após minerar um bloco, é recompensado com bitcoin por ter realizado esse trabalho.
Um bloco registrado na blockchain do Bitcoin contém, em média, 1.200 a 2.500 transações. O protocolo está preparado para consolidar um novo bloco a cada 10 minutos.
Quando o Bitcoin foi criado, a recompensa por bloco minerado era de 50 bitcoins. No entanto, quando 210.000 blocos são minerados, a recompensa do minerador cai pela metade, e esse evento é chamado de halving do Bitcoin. No momento em que escrevo este texto, a recompensa por bloco minerado é de 6,25 bitcoins e, em aproximadamente 25 dias, essa recompensa passará a ser 3,125 bitcoins.
O halving diminui a taxa de geração de novos bitcoins, o que é significativo porque limita a quantidade de novas moedas que entram em circulação, potencialmente criando escassez e impulsionando os preços.
No entanto, a dinâmica atual do mercado está sendo moldada de maneira diferente devido à crescente influência dos ETFs de Bitcoin, uma vez que eles estão retirando bitcoins do mercado em quantidades significativas.
Há uma discussão no mercado de criptoativos se esse impacto pode superar a escassez prevista pelo halving.
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Comparação da emissão de mineradores de BTC e os fluxos de ETF
Os ETFs estão basicamente prevendo o efeito do halving, ao reduzir a oferta através de suas grandes e contínuas compras de bitcoin. Em resumo, a escassez de bitcoin que geralmente ocorre com o halving já pode estar acontecendo devido às grandes aquisições dos ETFs. Esses fundos estão exercendo uma influência considerável na disponibilidade do bitcoin, o que pode mascarar o impacto do halving no mercado a curto e médio prazo.
Influência da oferta de detentores de longo prazo
Como o impacto do halving na dinâmica de preços de longo prazo do Bitcoin provavelmente será diminuído pelas atividades de ETF, outras influências importantes do mercado entrarão em foco. E em termos da dinâmica de oferta do bitcoin, uma vez que a fonte primária de oferta para negociação vem dos mineradores, a fonte secundária provém dos long term holders (LTHs, detentores de longo prazo). São classificados como LTHs os detentores de bitcoin por mais de 155 dias e suas decisões de vender ou manter afetam a dinâmica de oferta e demanda.
Taxa de inflação dos long term holders de bitcoin
Monitorar a taxa de inflação dos LTHs do mercado pode indicar períodos de acumulação ou distribuição, influenciando o comportamento do mercado. Este indicador revela a proporção anualizada de acumulação ou distribuição de bitcoin pelos LTHs em comparação com a emissão diária dos mineradores. Esta métrica auxilia na identificação de períodos de acumulação líquida, nos quais os LTHs estão efetivamente retirando bitcoin do mercado, e períodos de distribuição líquida, onde os LTHs aumentam a pressão vendedora.
Os padrões históricos sugerem que conforme nos aproximamos do auge da distribuição pelos LTHs, o mercado pode tender ao equilíbrio e potencialmente alcançar um pico. No momento, a tendência da taxa de inflação do mercado de LTH sugere que estamos nos estágios iniciais de um ciclo de distribuição, com aproximadamente 30% concluído. Isso implica em uma atividade significativa no futuro próximo no ciclo atual, até alcançarmos um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, bem como potenciais picos de preços.
Nesse contexto, é essencial que os investidores acompanhem de perto a taxa de inflação do mercado de LTH, já que essa métrica pode orientar suas estratégias de negociação, especialmente na identificação de possíveis topos ou fundos de mercado em uma escala macro.
Embora o halving geralmente seja interpretado como um evento positivo, seu impacto imediato pode ser afetado por fatores psicológicos. Em ciclos anteriores, houve correções de preço significativas logo após o halving, demonstrando volatilidade induzida pelo evento. Além disso, as interações entre o halving, os ETFs e os detentores de longo prazo introduzem uma dinâmica complexa atual no mercado na qual devemos monitorar minuciosamente para entender melhor para onde o preço do Bitcoin pode ir dessa vez.
Variações semanais (18/03/24 a 25/03/24)
🪙 Bitcoin (BTC)
Preço: US$ 70.683| Var. +3,41%
🪙 Ethereum (ETH)
Preço: US$ 3.626 | Var. -0,41%
🌐 Dominância Bitcoin: 53,81% (Var. +0,63%)
* dados referentes ao fechamento em 25/03/24
Tópicos da semana
– A BlackRock apresentou um formulário para a SEC para lançar seu primeiro fundo de ativos tokenizados: O fundo vai ter um investimento mínimo de 100 mil dólares e vai ser oferecido pela Securitize, que é um empresa de ativos digitais nos Estados Unidos e que também vai realizar a venda dos tokens. O fundo será tokenizado na blockchain da Ethereum com um token ERC-20 e seu ticker será BUIDL.
– A MicroStrategy de Michael Saylor adquiriu outros 9.245 BTC por US$ 623 milhões: A MicroStrategy se tornou famosa por ter sido a primeira empresa listada na Nasdaq a comprar bitcoin dentro de sua estratégia de proteção e alocação de recursos. O primeiro anúncio de compra veio a público em agosto de 2020, quando a companhia de Michael Saylor adquiriu 21.454 bitcoins avaliados na época em US$ 250 milhões e agora detém aproximadamente 214.246 BTC (no valor de US$ 13,5 bilhões a preços atuais), o que é mais de 1% de todos os 21 milhões de bitcoins que vão existir. Ela pagou aproximadamente US$7,53 bilhões por seu estoque de BTC, uma média de US$35.160 por moeda, de acordo com o documento.
–A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) planeja solicitar ao juiz multas de US$ 2 bilhões em penalidades da Ripple Labs: A disputa legal começou em 2020, quando a SEC acusou a Ripple de levantar US$ 1,3 bilhão por meio da venda de XRP, que alega ser um valor mobiliário não registrado. Embora Ripple tenha obtido uma vitória parcial no ano passado, quando um juiz determinou que algumas vendas programáticas de XRP não violavam leis de valores mobiliários, outras vendas diretas para investidores institucionais foram consideradas títulos não registrados, resultando em multas potenciais significativas.
Gráfico da semana
Na última semana, houve um grande movimento de dinheiro no mercado de criptoativos. Um relatório da CoinShares mostrou que os produtos de investimento em ativos digitais testemunharam saídas semanais recordes na casa dos US$942 milhões. Isso significa que os investidores retiraram essa quantia de investimentos em criptoativos.
Fluxo semanal de criptoativos (US$ em milhões)
Fonte: CoinShares
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Essas saídas de dinheiro dos investimentos em criptoativos foram especialmente grandes nos últimos dias. Um fundo de investimento chamado Grayscale Bitcoin Trust (GBTC) foi responsável por retirar $2 bilhões sozinho e contribuiu para as saídas totais dos US$942 milhões.
A saída da semana passada veio junto com a volatilidade negativa no preço do bitcoin (BTC), que saiu da casa dos US$73.000 e caiu para menos de US$61.000. Essa recente correção de preços levou à hesitação dos investidores, levando a entradas muito menores nos ETF´s nos Estados Unidos, que registraram entradas de US$1,1 bilhão, compensando parcialmente as saídas significativas de US$2 bilhões da Grayscale. Isso quebrou o que tinha sido uma série recorde de sete semanas de entradas de 12,3 bilhões de dólares.
Forte abraço,
Marcello Cesta