Day One

A alegria de um banqueiro central seria o silêncio

A essa altura de acúmulo de erros não-forçados do Governo Lula III, já está claro para (quase) todo mundo que perdemos o controle das expectativas inflacionárias.

Por Rodolfo Amstalden

22 jan 2025, 12:38 - atualizado em 22 jan 2025, 12:38

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Imagem: Flickr/Raphael Ribeiro/BCB

No escribas tus memorias.

Lanzarán a tus pies a aquel que fuiste,

como un cadáver enemigo.

Cuando el pasado empieza a ser mentira

queda muy poco ya para llevarse:

una inútil e indigna convicción,

alguna equivocada crueldad. Apenas algo

de lo que tengas que volver a hablar.

La alegría de un viejo es el silencio.
– Joan Margarit

A essa altura de acúmulo de erros não-forçados do Governo Lula III, já está claro para (quase) todo mundo que perdemos o controle das expectativas inflacionárias.

Essa lacuna, por si só, bastaria para complicar bastante as coisas. Mas os problemas em economia nunca aparecem de forma isolada; eles costumam vir acompanhados de outros problemas.

No caso em questão, o descontrole inflacionário se associa – em looping – à perda do referencial de trajetória da Selic, bem como da taxa de câmbio de equilíbrio.

Para entendermos a gravidade de ter essas incógnitas flutuando no ar, precisamos voltar um pouquinho no tempo, até a última reunião do Copom.

Em 11 de dezembro, o Comitê de Política Monetária elevou a Selic em +1 ponto percentual, para 12,25%.

Contudo, seu ato mais representativo na ocasião foi o de tentar construir uma ponte para a transição de mandato entre Campos Neto e Galípolo, mediante a indicação de novos aumentos de +1 ponto percentual nas próximas duas reuniões (semana que vem e março).

“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, dizia o texto divulgado pelo Banco Central.

Em se confirmando o cenário esperado…

À época, parecia que o Copom estava sendo duro ao anunciar esse tipo de forward guidance, mas os 14,25% sinalizados já se encontram agora substancialmente “atrás da curva”.

O último Focus sugere um pico de 15,00%, enquanto o research macro do Itaú (apenas para citar uma séria atualização recente) trabalha agora com 15,75% de Selic terminal.

Bem, precisamos reconhecer que 15,75% é lote de juros – e, como de praxe, vem acompanhado de outros problemas.

Estamos nos aproximando da perigosa zona de dominância fiscal; ninguém sabe onde fica a fronteira exatamente, mas, marchando à frente de olhos vendados, são crescentes as chances de nos enroscarmos em uma cerca de arame farpado.

Se não vier a dominância, talvez venha simplesmente uma quebradeira de empresas que respiram por aparelhos a 12,25% e deixarão de respirar a 15,75%.

Ademais, será que o Galípolo – como um banqueiro central do PT – vai topar e vai conseguir levar a Selic a 15,75%, caso seja mesmo necessário?

No momento, são muitas incógnitas para poucas equações.

Por definição, temos infinitas soluções possíveis para o Kit Brasil; mas poucas delas pertencem ao parco subconjunto de soluções desejáveis.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.