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Day One

A origem das empresas por meio da seleção natural

As trajetórias de crescimento corporativo não são determinísticas. 

Por Rodolfo Amstalden

23 dez 2021, 10:36

As trajetórias de crescimento corporativo não são determinísticas.

A Empiricus, por exemplo, nunca teve seed money. Nossas apostas no futuro — apostas inteligentes e apostas estúpidas — foram financiadas com o caixa da própria empresa. Para nós, isso foi bom e foi ruim. Somos muito maduros em alguns aspectos e, em outros, continuamos agindo como crianças.

Cada CNPJ faz sua história como pode, e coexistem inúmeras possibilidades de relativo sucesso.

No entanto, alguns estágios de evolução parecem ser comuns a todas as trajetórias de amadurecimento.

Via de regra, você precisa de um produto ou serviço decente para começar, que pelo menos seja um pouco diferente da concorrência. Ele pode ser diferente em termos de custos ou de benefícios, mas, para dar certo, geralmente demonstra vantagens nas duas pontas, simultaneamente.

Depois de ter um produto/serviço digno, você vai ter que montar uma empresa de verdade. Aqui separamos os inventores dos administradores. Inventores estritos podem criar cem produtos brilhantes, mas dificilmente conseguirão fazer 150 pessoas trabalharem em torno de um mesmo objetivo.

Outra dificuldade comum nessa etapa de evolução é que a vida começa a ficar realmente chata. Até então Homo ludens, os fundadores do negócio passam a ter que se comportar como Homo economicus. Eles também terão que conviver com algumas pessoas idiotas. Isso tudo é uma merda, acredite, mas é necessário para seguir adiante.

Ok, ok, agora você tem um produto/serviço e, com muito suor e lágrimas, foi capaz de montar uma empresa. Parabéns, você já fez mais do que 75% dos outros empreendedores. Mas seu inferno está apenas começando.

O próximo passo é testar se a estrutura da empresa e se os feedback loops da demanda são suficientes para escalar as vendas do seu produto/serviço.

Nesse estágio, invariavelmente, você vai descobrir que está fazendo alguma coisa muito errada. Geralmente, tem a ver com o comercial, com formas de distribuição, targets do marketing ou precificação.

O grande risco aqui já foi a escassez de capital, mas hoje é o excesso de liquidez.

Uma má alocação de farto capital é perfeitamente capaz de simular saltos de escala, atribuindo exponencialidade a uma dinâmica linear.

E os efeitos colaterais serão sentidos só daqui a vários trimestres.

Quando vierem, porém, serão fatais.

Mas não pense nisso por enquanto, aproveite sua jornada.

Voltamos a conversar depois do Natal.

Boas Festas!

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.