Os últimos tempos têm sido tremendamente difíceis para os gestores brasileiros de ações e de multimercados.
Sem hipérbole, há quem classifique o período entre as piores janelas da história.
Parte disso decorre da escalada dos juros americanos, outra parte advém do dreno de liquidez provocado pelas magníficas do S&P 500.
A desaceleração da China também não ajudou.
E, dentre nossas próprias culpas, o já conhecido descuido com o equilíbrio fiscal.
Até aí, sem surpresas; tudo isso foi capa de jornal.
Porém, junto às evidentes questões conjunturais, esconde-se um fator técnico cujos efeitos práticos não podem ser subestimados: a gestão endógena de risco dos portfólios.
Do jeito que são programados os modelos de VaR (Value at Risk), fenômenos de reversão à média podem se tornar duplamente dolorosos para o investimento em longo prazo.
Vamos imaginar como isso pode acontecer.
Em um cenário bullish, tipicamente, as regras de tomada de risco são parametrizadas para uma maior abertura em direção ao risco.
Logo, viradas bruscas de direção entre risk-on e risk-off tendem a machucar bastante, pois não dá tempo de se adaptar.
Na sequência, a reação natural do gestor é a de reduzir danos e se preparar para o pior, já que a culpa foi (obviamente) da conjuntura, e nunca de sua própria assunção permissiva de riscos.
Mas, de repente, o mercado pode ter exagerado no pessimismo, e o VaR ficou enxuto justamente quando precisaria estar aberto para capturar um ricochete valioso.
Nessas sucessivas viradas e desviradas de humor, a administração padronizada de risco custa caro, e pode sacramentar a figura do investidor “pé trocado”: aquele que cai grande e sobe pequeno.
Se quiser detectar um pé trocado, é fácil; ele está sempre reclamando.
Reclama publicamente de um mundo no qual as coisas insistem em não funcionar como deveriam.
Reclama do Fed, reclama da NVIDIA, reclama dos chineses.
Reclama dos idiotas que fazem Game Stop dobrar de valor em um único dia.
Reclama de não ser ele mesmo um idiota feliz.