Day One

Ackman Trade em xeque: o verbo se fará carne, mais uma vez?

Embora o mercado não acredite em deuses, Wall Street dá o destaque merecido às suas lendas, seus ícones e seus memes: personas que sintetizam generosas porções de densidade narrativa.

Por Rodolfo Amstalden

09 abr 2025, 11:47 - atualizado em 09 abr 2025, 11:47

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Imagem: Unsplash

“No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele, estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”.
(João 1:1-5)

Depois do trauma crônico com o “Dia da Libertarifação” de Trump, vamos tentando catar os cacos. É muito cedo ainda para dizer que o pior já passou, e também muito perigoso para apostar que o pior está por vir.

Estamos à mercê de criaturas com poderes divinos, que podem se dar ao capricho de tweetar a qualquer hora do dia, para cima ou para baixo. A exata distância entre um short bem feito e um short squeeze não passa dos 140 caracteres.

Embora o mercado não acredite em deuses, Wall Street dá o destaque merecido às suas lendas, seus ícones e seus memes: personas que sintetizam generosas porções de densidade narrativa.

Warren Buffett, é claro, já cumpriu esse papel histórico com louvor, sobretudo durante e após o estouro da bolha pontocom.

Mas – no campo da palavra que se faz verbo, e do verbo que se faz carne –, poucos se comparam hoje à assertividade de Bill Ackman

Se você frequenta os grupos de whatsapp do mercado financeiro, deve ter recebido nos últimos dias um gráfico parecido com este:


De 2020 para cá, Ackman foi impressionantemente preciso em suas declarações públicas sobre os excessos do mercado, fazendo diversas mínimas consecutivas.

Se há ou não causalidade envolvida em sua retórica, jamais iremos saber ao certo. Mas os resultados de um robô programado para seguir o “Ackman Trade” parecem animadores no backtesting.

Talvez, porém, seu teste último seja o maior de todos, cristalizando a astúcia do gênio ou tripudiando a correlação espúria dos memes passados.

Assustado com a crise despertada nos últimos dias, Ackman fez uma espécie de mea culpa por ter sido um dos maiores apoiadores da campanha de Trump, e recomendou uma pausa de até 90 dias às tarifas, visando reestabelecer um ambiente salutar de negociações.

Em primeira instância, e ajudado por um falso positivo de Kevin Hassett, o mercado virou rapidamente para cima no intraday de segunda-feira.

No entanto, Ackman provavelmente não contava com a força de outros tweets, vindos do próprio Trump, quase sempre dobrando a aposta no ambiente bélico em vez de amenizá-lo.

O vírus da COVID não sabia tweetar, e o Fed não podia tweetar, mas Trump é perfeitamente familiarizado com as redes sociais.

Pela primeira vez, o Ackman Trade encontrou um adversário à altura.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.