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Espectadores acostumados com o roteiro clichê do astronauta solitário perambulando pelo cosmos se surpreendem ao saber que poucas experiências proporcionam uma aula tão humanitária de psicologia social. Na vida real, após retornar do espaço, astronautas se tornam menos interessados em passar tempo sozinhos. Abrem mão de conquistas individuais e metas hedonistas e passam a priorizar […]

Por Rodolfo Amstalden

13 jan 2022, 10:33

Espectadores acostumados com o roteiro clichê do astronauta solitário perambulando pelo cosmos se surpreendem ao saber que poucas experiências proporcionam uma aula tão humanitária de psicologia social.

Na vida real, após retornar do espaço, astronautas se tornam menos interessados em passar tempo sozinhos. Abrem mão de conquistas individuais e metas hedonistas e passam a priorizar o bem-estar coletivo.

Edgar Mitchell, da Apollo 14, resume bem o salto de percepção que ocorre depois de contemplarmos a abóbada celeste à devida distância, em sua completude.

“Lá da Lua, as políticas internacionais parecem muito mesquinhas. Você quer agarrar um político pelo pescoço, arrastá-lo até uns 400 quilômetros de distância e dizer: olha só pra isso, seu filho da puta”.

O nome científico do fenômeno é “overview effect”.

A visão total do Planeta Terra a partir do espaço induz a uma constatação que deveria ser óbvia: todos os seres humanos moram embaixo do mesmo teto, e compartilham de uma mesma identidade.

As melhores decisões para o futuro da humanidade deveriam levar o unitarismo em primeira consideração.

O mesmo vale para o ambiente de investimento em ativos de risco.

Um ou outro investidor (mentiroso) poderia se gabar de ter lucrado +180,5% com EMBR3 em 2021, ou de ter acertado em cheio BRKM3 (+176,3%).

A verdade, porém, é que, em tempos nos quais o IBOV cai e o SMAL derrete, ninguém ganha de verdade. Ou você está tingido de vermelho, ou está ganhando menos do que poderia.

Os grandes episódios de enriquecimento com ações ou fundos imobiliários são ditados por aquilo que Mandelbrot chamou de “co-movimento” — cada pequena história própria deixa suas especificidades de lado para que o mercado suba como um todo.

É exatamente o que aconteceu nos pregões de terça-feira e de ontem; ainda em pequena amostra, mas já suficiente para retomar a boa lembrança de ver uma tela inteira pintada de verde.

Aliás, qual é o problema do Verde ter caído em 2021? Stuhba não é também um ser humano habitando o Planeta Terra? Jornais criam heróis e depois tentam enterrá-los vivos.

De minha parte, tomara que o Verde suba muito em 2022.

Tomara que você suba muito, e que eu suba muito.

Tem oxigênio de sobra nessa atmosfera, para cada investidor do mundo respirar a plenos pulmões.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.