Day One

Às vésperas da dominância fiscal

Pensando um pouco adiante, quanto espaço o Copom tem de Selic terminal sem dar um tiro no próprio pé?

Por Rodolfo Amstalden

11 dez 2024, 13:51 - atualizado em 11 dez 2024, 15:44

taxa de juros Selic Copom

Imagem: iStock.com/MicroStockHub

75 bps ou 100 bps?

A maior parte das apostas se concentra em 75 bps, mas – de alguma forma misteriosa – eu desconfio que teremos estresse se não forem confirmados os 100 bps.

Pensando um pouco adiante, quanto espaço o Copom tem de Selic terminal sem dar um tiro no próprio pé?

Ou, dito de forma mais acadêmica: afinal, estamos ou não em dominância fiscal?

Agora na boca do povo, o conceito de dominância foi originalmente formalizado por Thomas Sargent e Neil Wallace no famoso paper “Some Unpleasant Monetarist Arithmetic”, de 1981.

No entanto, sua popularização veio só mais tarde, mediante o lastro empírico das crises financeiras em mercados emergentes na virada do século.

A verdade é que poucos países discutem esse tópico nas mesas de bar, entre debates sobre a moça do avião e as chances do Fogão contra o Pachuca.

Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem.

A partir de uma dívida bruta de 75% do PIB para o caso brasileiro, há quem diga que já adentramos uma zona de alerta (estamos chegando a 80%).

Outros apontam que a dominância só tomaria conta a partir dos 90%, mas que o mercado adiantaria esse fenômeno, possivelmente engatilhando um limiar anterior.

Ou seja, é mais ou menos como aquela história da definição vernacular da pornografia: “I know it when I see it”.

A priori, ninguém sabe exatamente precisar a fronteira, mas conseguiríamos enxergar nitidamente que a ultrapassamos a posteriori.

Ou talvez nem isso.

Tem gente se estapeando nas universidades até hoje para “provar” (?) que entramos em estado de dominância fiscal às vésperas do Lula I ou ao final do Governo Dilma.

Bem, em termos práticos, o que importa é que teremos que conviver com esse fantasma por um bom tempo; então, é melhor se acostumar com ele.

Justamente em algum momento entre as vésperas do Lula I e o final do Governo Dilma, um colega meu de faculdade conseguiu juntar uma grana com o finado bull market e comprou um apartamento com belo desconto no Butantã, a despeito do alerta da corretora de que se tratava de um imóvel mal-assombrado.

Pelo que me lembro, as ocorrências sobrenaturais compreendiam luzes que piscavam e o interfone que tocava no meio da madrugada, sem ninguém do outro lado da linha.

A princípio, os ruídos incomodavam esse meu amigo, até que, por sugestão da namorada, ele passou a desrosquear as lâmpadas e tirar o interfone do gancho antes de dormir.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.