Em seu café com jornalistas de ontem, Lula criticou o Senhor Mercado e o Senhor Campos Neto.
Bem, não é exatamente uma surpresa.
Ainda que o discurso tenha sido relativamente contido para os padrões lulistas, seu momentum é bastante delicado.
Com o yield T10y acima de 4,60%, precisamos escolher cuidadosamente as palavras.
Como cenas dos próximos capítulos, veremos se o governo atual é capaz de separar o discurso da prática.
O desafio é aproveitar o momento difícil para angariar esforços em torno de medidas pragmáticas e pacificadoras em relação ao mercado.
Particularmente, eu não tenho grandes esperanças nesse sentido, mas ainda cultivo algumas pequenas esperanças, motivadas tão somente pela necessidade de sobrevivência em Brasília.
Ao analisarmos as atitudes do Lula III desde as últimas eleições presidenciais, notaremos um nítido movimento pendular; em linguagem popular, é o famoso “bate e assopra”.
Recorrentemente, Lula tem flertado até o limite com a esquerda radical, para então voltar ao centro (e ao Centrão) quando a corda está prestes a estourar.
Mais recentemente, podemos interpretar que o gatilho para a volta ao Centrão se deu pela insatisfação pública de Arthur Lira com Padilha & Cia.
Já o gatilho para a volta ao centro econômico esteve associado à revisão do arcabouço fiscal justamente no infeliz contexto de retomada dos yields americanos, e se traduziu (também) em estresse cambial.
Aliás, a língua do câmbio é uma língua que Lula entende bem, e é capaz de sensibilizar até mesmo Gleisi Hoffmann.
Um líder de esquerda pode argumentar que o mercado acionário é reduto da elite, altamente especulativo, e funciona conforme os caprichos dos Faria Limers; não dá para confiar em suas sinalizações.
Agora, estresse no câmbio é um termômetro que pega geral.
A velha sabedoria de Mário Henrique Simonsen continua valendo: “a inflação aleija, o câmbio mata”.
Então, já começamos a ver as primeiras instruções no sentido de reatar diálogos políticos, desarmar novas bombas fiscais, liberar dividendos de Petro e resgatar a Aneel.
Como eu disse, não tenho fé de que esse “back to basics” possua alguma nobre fundamentação; trata-se apenas de questão de necessidade.
Se as próximas eleições presidenciais ocorressem hoje, Lula estaria em posição de insegurança, até mesmo contra Ronaldo Caiado.