Day One

Cinco ações para comprar agora

“Um grande investidor brasileiro, pouco conhecido do grande público mas muito esperto, costuma repetir […]”.

Por Felipe Miranda

19 set 2022, 09:02 - atualizado em 20 set 2022, 09:12

Indicação de investimento
Fonte: Free Pik

Um grande investidor brasileiro, pouco conhecido do grande público mas muito esperto, costuma repetir que, se você conhecer realmente de perto todas as empresas da Bolsa, acaba não comprando uma ação sequer.

Os processos, a tecnologia e as pessoas, sobretudo as pessoas, são sempre mais feios do que admitem os formulários de referência e as belas apresentações trimestrais. De perto, ninguém é normal. “Não se aproxima muito ou você vai se decepcionar. Cada ser humano tem um ponto fraco”, alerta o bilionário.

O CTO não paga pensão alimentícia, o CFO é viciado em jogo, o programador esconde carreiras de cocaína sob o mousepad, o CEO introduziu a amante no plano de stock options, a CMO tenta converter o edifício inteiro em crente e atribui o próprio sucesso à intervenção divina – fico imaginando que generosidade divina é essa que escolheu essa CMO e ferrou a vida da sua concorrente –, o gerente de RI, casado, gosta de meninos e meninas, alternando sua preferência entre terças e quintas, manifestada às escondidas na escada de incêndio do prédio – ah, se aqueles extintores falassem…

Eu, que sou apenas um rapaz latino-americano, “tenho ouvido muitos discos, conversado com pessoas” e, hoje, acho que o sujeito tem um ponto. Todas as empresas têm seus problemas. Na minha adaptação da frase do Millôr, “como são boas as companhias que não conhecemos de perto.”

Contudo, há uma nuance aqui. O perfeccionismo, por vezes tido como uma virtude e prescrito em manuais de autoajuda por aí, na verdade, é um defeito paralisante. Se você for procurar algo sem defeitos (e isso inclui a si mesmo), não vai achar nem realizar nada. O bom investimento não é feito em ativos ou empresas sem problemas ou riscos, mas, sim, na identificação adequada de quais problemas e riscos são toleráveis.

Se é tudo meio problemático, se os juros mundo afora vão subir mais do que se supunha e o Renato Augusto não vai pra Copa, o que nos resta? Quem poderá nos defender?

Direto ao ponto, entendo que a resposta esteja no quality barato. Mais pragmaticamente, empresas com marca forte, management competente, vantagens competitivas claras, balanço robusto, alto retorno sobre o capital investido (ou sobre o patrimônio) e múltiplos baixos. Existe pouca coisa listada com essas características, mas elas existem. Cito algumas.

Na crise, o dinheiro flui em direção aos donos do capital. O juro alto mata as fintechs, acaba com as promessas sonháticas, traz as métricas de avaliação para o presente (porque o Ebitda de 2050 vale muito pouco hoje depois de ser descontado por uma taxa alta), inibe aventuras em geral. A grana fica no banco. “Ah, mas essa alta de juro é circunstancial e logo volta o financial deepening” – olha, pode ser… talvez seja mesmo. Entretanto, oferece tempo aos bancos para mudar processos e tecnologia. Uma mudança conjuntural que permite uma arrumação da casa para um enfrentamento estrutural.’

Itaú me parece um bom nome para o momento. Tem conseguido avançar na mudança de cultura e na tecnologia, voltando a ser um nome premium entre os bancões. Negocia a múltiplos baratos e estancou a sangria de perda de clientes, pessoas e dinheiro para as plataformas e para as fintechs diante do juro alto. Fica cada vez mais claro como é difícil dar crédito no Brasil e como Itaú é um banco de qualidade mundial.

Ainda no setor financeiro – e aqui escrevo obviamente conflitado por razões óbvias –, BTG Pactual é outra companhia que se encaixa na prescrição. Banco transcendeu as características exclusivas de ser um case ligado ao processo de financial deepening, se alinhando mais a uma tese de “all weather stock” (uma ação para qualquer clima). Mesmo diante de um ambiente desafiador para a atividade tradicional de mercado de capitais, dado o juro alto e dada a ausência de IPOs, tem conseguido crescer as principais linhas de negócio de maneira consistente. Pode expandir cerca de 30% as receitas, a partir de pura alavancagem operacional. Guidance informal de 20% de ROE vem sendo entregue, até com ligeira folga. Caminha rapidamente para um lucro líquido anual de R$ 10 bilhões. Poderia ser negociado a 3x book e 15x lucros com certa facilidade.

Nem só de bancos vive o homem.

Acho Cosan extremamente barata nesses níveis e vejo a ação, mesmo sem considerar projetos novos, podendo valer R$ 25 por soma das partes. Se admitirmos valor para os novos projetos, em particular o etanol de segunda geração, isso vai acima de R$ 30. Dada a característica defensiva, a diversificação de negócios e demonstrada capacidade de alocação de capital da companhia, é um potencial de valorização expressivo frente aos R$ 17,90 do preço de tela. As ações apanharam recentemente diante de preocupação com PEC dos biocombustíveis e mudança no ICMS, no que consideramos uma reação exagerada, dado o impacto material pouco representativo no Ebitda consolidado. Mercado também tem castigado as ações por privilegiar nomes que estão devolvendo capital ao acionista, enquanto Cosan ainda teria muito capex para fazer. Ora, ter um projeto de TIR superior a 25% deveria ser uma virtude, não um problema. Cosan é um nome de crescimento e com Preço sobre Lucro inferior a 10x para 2023. Com perfil defensivo, negócios diversificados e essa qualidade do management, não vejo opções tão atrativas quanto essa.

E temos também Iguatemi. Empresa com discurso bastante adequado sobre disciplina na alocação de capital. Comprando fatia remanescente do JK a um bom cap rate e num nível de valution muito convidativo – mais de 400 pontos-base de desconto sobre a B, níveis semelhantes à era Dilma e muito descontado frente a Multiplan. Esperamos um bom terceiro trimestre, com inadimplência negativa novamente. Nome com ativos premium, com proteção da inflação e muito barato.

Você não contou errado. São quatro nomes na lista do quality barato, enquanto o título deste Day One faz referência a cinco ações para comprar agora.

Completo a relação com um nome de commodity, classe que costuma andar bem em períodos inflacionários e capaz de compor bem o portfólio junto às demais. Ressalva importante: commodity é sempre um bicho complicado, difícil de prever, cujos múltiplos baixos podem subitamente ficar altos a partir de uma potencial desvalorização da matéria-prima subjacente. No entanto, o mercado de petróleo nos parece bastante apertado, com muito subinvestimento nos últimos anos e pouca oferta nova entrando até 2025. Ainda que uma recessão global possa vir a abater a demanda por petróleo, a disparada dos preços do gás tem produzido um efeito-substituição em direção ao óleo que poderia preencher esse espaço. Nosso nome favorito no setor é 3R, que negocia com os múltiplos mais baixos do segmento e já tem entregado uma ambiciosa expansão de produção.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.

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