Os últimos pregões vêm confirmando uma rotação de setores por parte dos investidores de Bolsa. Enquanto as produtoras de commodities perdem velocidade na subida, algumas varejistas têm ganhado força. No ano, o Índice de Consumo da B3 acumula uma vantagem de 4 pontos percentuais sobre o Índice de Commodities Brasil.
E não é à toa: à medida que o uso de máscara é flexibilizado no país, as vendas do varejo avançam, como foi muito bem demonstrado pelas empresas de shoppings, que divulgaram suas prévias operacionais do primeiro trimestre de 2022. Os números de Iguatemi, Multiplan, JHSF e brMalls mandam um sinal único: as vendas dos seus lojistas já estão acima dos patamares de 2019. Ufa!
Há quem diga, entretanto, que esse crescimento é fake, por refletir apenas repasses de preço, sem crescimento de volume real. Pode até ser o caso. Mas, mesmo que seja, a capacidade de repassar preço é, por si só, uma vantagem competitiva descomunal.
Veja o porquê.
Em março deste ano, enquanto os lojistas da Iguatemi ampliaram suas receitas em 23% contra 2019, os da brMalls expandiram as suas em 10% na mesma comparação. Detalhe: a inflação acumulada no período foi de exatos 22,9%. Isso significa que os lojistas da Iguatemi seguem vivos e saudáveis, obrigada, enquanto os da brMalls não conseguiram sequer repassar os aumentos de preço que sofreram nos custos das mercadorias vendidas (na média).
O ponto aqui é que as empresas de shoppings premium capturaram a volta da demanda reprimida por moda, acessórios e cosméticos de uma forma que os ativos de posicionamento massificado não conseguiram fazer. E foi pensando exatamente nesse cenário que decidimos manter Iguatemi (IGTI11) na Carteira Empiricus – embora não soubéssemos o desfecho dessa decisão à época. Julgar olhando para trás é sempre mais fácil.
Enfim.
Com os lojistas crescendo suas vendas em termos reais (acima da inflação), a Iguatemi agora consegue cobrar todo o aumento de IGP-M dos seus inquilinos, uma prerrogativa contratual que a companhia havia flexibilizado durante a pandemia. Com isso, a recuperação do varejo vira de fato receita para a empresa – o que não é verdade para companhias de shoppings massificados.
O mais curioso dessa história toda é que, apesar da discrepância de performance entre as empresas de shopping listadas, todas elas dizem que seus ativos são premium, de forma que é na divulgação dos números que você separa o joio do trigo. Jamais, portanto, confie cegamente no discurso da gestão de uma companhia – afinal de contas, você também não seria vendedor no lugar delas?
De volta ao assunto.
Há várias formas de se proteger da inflação. A mais óbvia, para nós brasileiros, é comprar títulos do Tesouro Nacional atrelados ao IPCA (embora você possa sofrer com efeitos não caixa de marcação a mercado no curto prazo). Há, também, a possibilidade de comprar metais preciosos, como o ouro e a prata, proteções universais contra a escalada de preços – aqui, apenas cuidado com o “vento na cara” que a valorização do real contra o dólar tende a trazer, já que esses metais são precificados na moeda americana.
Agora, começa a ficar clara uma terceira forma de proteção contra a inflação e na qual nós insistimos há algum tempo: o investimento em empresas. Mas não qualquer tipo de empresa: somente aquelas que têm o (agora valiosíssimo) poder de repassar preço à sua clientela sem que esta vá embora.
Aliás, utilizamos todas essas três formas de proteção na Carteira Empiricus.
É preciso, contudo, tomar alguns cuidados no uso de ações como proteções contra a inflação.
Primeiro, essa estratégia não vale para períodos de hiperinflação, em que a subida de preços é tão descontrolada que as empresas não conseguem manter seus níveis de rentabilidade em meio à dinâmica caótica de repasse de preços.
Segundo, se os bancos centrais exagerarem na dose de aumento de juro para controlar os preços, de forma que o juro real suba demais, isso pode acabar prejudicando a atratividade das ações como classe de investimento – vide o que aconteceu no segundo semestre do ano passado. Permaneçamos atentos, portanto, aos movimentos de Roberto Campos Neto.
E use todas as armas contra a inflação.
Um abraço,
Larissa