Sou uma pessoa muito mais “humanas” do que “exatas”. Na escola, tinha especial curiosidade sobre como seria ter aulas de Filosofia, o que só foi acontecer no segundo ano do colegial. Lembro bem da minha ansiedade ao abrir o livro “Convite à Filosofia”, de Marilena Chaui, aquele que seria meu passaporte para finalmente descobrir do que se tratava aquela matéria. Caneta grifa-texto em punho, comecei a ler. E foi muito frustrante.
Virava páginas e mais páginas à procura de uma frase pronta, daquelas que imploram para serem grifadas. Sem chance. Era mais fácil a ponta da caneta secar (ou eu pegar no sono) do que aparecer um conceito pronto, uma verdade absoluta. Estranhamente, o texto só trazia perguntas. Perturbador.
A autora falava sobre a importância da tal “atitude filosófica”, que consiste em basicamente negar tudo o que faz parte do senso comum, e, posteriormente, questionar por que cada coisa é como é. Enfim, desenvolver uma postura crítica sobre absolutamente tudo.
Antes que você ache isso uma tremenda viagem, vou direto ao ponto: não há, a priori, uma resposta certa sobre comprar ou vender Petrobras neste momento. Porque as decisões de investimento estão mais para o livro da Marilena Chaui — cheio de perguntas —, do que para os manuais de Matemática, que trazem as soluções para os problemas nas páginas finais.
O gestor Luis Stuhlberger, do renomado fundo Verde, tem um posicionamento famoso sobre investimento em estatais. Ele disse certa vez que prefere fugir desses papéis, pois, em sua visão, não faz sentido investir em uma empresa cujo objetivo é servir ao Estado. A frase foi muito lembrada na última segunda-feira (22), dia em que as ações da Petrobras caíram mais de 20% após interferência do presidente Jair Bolsonaro no comando da estatal.
Passado o pregão sangrento, foi ganhando espaço a percepção de que a indisposição do presidente com Roberto Castello Branco havia sido circunstancial, e não representaria uma guinada intervencionista à la Dilma.
“Hora de comprar Petro?” A essa altura, a companhia reportava o maior lucro trimestral já registrado por uma empresa listada na Bolsa, de R$ 59,9 bilhões no quarto trimestre de 2020 — saideira de Castello Branco. Ao mesmo tempo, Bolsonaro amenizou o discurso, prometendo não intervir na política de preços da companhia…
“Vende Petro.” Nem 24 horas depois, o presidente falava em alto e bom som que as empresas estatais devem desempenhar função social e que o general Silva e Luna dará uma nova dinâmica à companhia… Como era mesmo a frase do Stuhlberger?
Entre as idas e vindas que couberam nesta semana insana, a maioria dos gestores de ações indicados aqui na série Os Melhores Fundos de Investimento preferiram manter as posições em Petrobras na carteira. A principal motivação tem sido o preço considerado baixo ante à perspectiva de crescimento da companhia. Mas está longe de ser uma decisão simples.
“É um ativo muito barato, em um momento em que tudo o que é tema de crescimento testa múltiplos bem altos, eu diria nunca vistos”, explicou o gestor Luis Felipe Amaral, da Equitas. O valuation é especialmente atrativo quando comparado às pares da petrolífera. A Petrobras representa atualmente 9% da carteira do fundo e a ideia é manter a posição nesse tamanho.
O gestor da Equitas confessa que chegou a discutir com a equipe a hipótese de comprar um pouco mais de Petrobras após a queda de 20%, mas não houve consenso pela pouca visibilidade. “A decisão nunca é fácil. Ser gestor é encarar o fato de que você vai conviver com o erro o tempo todo.”
Henrique Bredda, da Alaska, aumentou levemente a posição após a sangria de segunda-feira. Além dos múltiplos baixos, ele destaca a perspectiva de crescimento das exportações, a valorização do preço do petróleo e a agenda de venda de subsidiárias.
Antes de me despedir, quero ressaltar algumas lições práticas desta semana:
– Dado que só saberemos no futuro quem estava certo e quem estava errado sobre investir em Petrobras hoje, é bom reforçar a ideia de ter um conjunto de fundos não correlacionados na sua carteira. Assim, você não ficará concentrado nas mesmas teses.
– Para quem teve dor de barriga com as ações em queda, sempre vale lembrar a importância de ter uma parte do seu portfólio protegida em dólar. Fundos cambiais funcionaram como um bom amortecedor para os piores momentos.
Um abraço,
Ana Luísa Westphalen