Joga pedra no Copom, joga bosta no Copom.
Para variar, o Copom foi criticado nesta semana por ter divulgado uma ata “repleta de incertezas” quanto aos próximos passos do ciclo de aperto monetário.
Em sua imortal sapiência, Professor João Sayad nos dizia que o Copom — assim como a Petrobras — carrega a sina dos bodes expiatórios da economia brasileira.
Diante da incapacidade de reconhecermos nossas próprias limitações, imolamos cordeiros para oferecer aos deuses, na tentativa de aplacar a fúria arbitrária do Olimpo.
Com o Banco Central é assim, sempre está errado: ou é atacado por ser dovish ou é atacado por ser hawkish; entre o pombo e o falcão, não existe uma ave neutra?
Deveria existir essa ave neutra, chamada zepelim.
Se todos olhássemos o mundo a partir da vista panorâmica de um zepelim, notaríamos que o milimétrico percentual da Selic ao final do ciclo é o que menos importa.
Alguém em sã consciência acha que existe uma diferença sensível entre juros nominais de 12,75% ou 14,25%?
É tudo a mesma coisa.
Se você acorda, faz café e come pão com manteiga no universo em que a Selic é de 12,75%, por que deixaria de fazer alguma dessas coisas com uma Selic a 14,25%?
E, no entanto, quase todos os comentários pretensamente inteligentes sobre política monetária fazem questão de adivinhar, na vírgula, qual será o exato percentual do topo de ciclo.
Essa é uma aposta divertida para as crianças que trabalham no mercado financeiro. Já os adultos entendem que o que faz mesmo a diferença é o próprio topo do ciclo, qualquer que seja o número que nos espera por lá.
E esse topo está próximo.
Como eu sei?
Ora, eu li a ata do Copom e percebi um nível de incerteza acima da média na comunicação empregada — o mesmo nível de incerteza tido como “inaceitável” pelos filisteus do mercado.
Coisas como:
“O Copom avalia que o momento exige serenidade para avaliação da extensão e duração dos atuais choques.”
“Comitê reconhece o cenário desafiador para a convergência da inflação para suas metas e reforça que estará pronto para ajustar o tamanho do ciclo de aperto monetário, caso o cenário evolua desfavoravelmente.”
Porém, se nos aproximamos de uma curva fechada, indagações começam a aparecer na cabeça do bom piloto. Será que eu já tiro o pé do acelerador? Basta tirar o pé, ou preciso também pisar no freio? Piso no freio antes de entrar na curva ou durante a curva?
Dúvidas podem ser um sinal inequívoco de que a rota está prestes a mudar, para melhor.
Ainda assim, é impressionante nossa dificuldade de conviver pacificamente com um mundo de incertezas.
Ninguém sabe o impacto do novo petróleo sobre o núcleo da inflação. Ninguém sabe os efeitos recessivos que daí surgirão.
Isso nada tem a ver com incompetência.
Ninguém sabe, porque não dá para saber, ainda. Quando der para saber, saberemos.