Day One

Cosan Day (One)

O Day One de hoje vem em forma de convite, como se fosse um antepasto. O prato principal mesmo será servido às 15h30, quando converso com Marcelo Martins, CFO do Grupo Cosan. Vai ser ao vivo, no site da Empiricus. 

Por Felipe Miranda

10 mar 2021, 01:11

O Day One de hoje vem em forma de convite, como se fosse um antepasto. O prato principal mesmo será servido às 15h30, quando converso com Marcelo Martins, CFO do Grupo Cosan. Vai ser ao vivo, no site da Empiricus.
 
Considero ser um momento muito especial para falar de Cosan. E, mais do que isso, para comprar as ações da Cosan, que representam a maior posição da minha carteira recomendada no Palavra do Estrategista.
 
Permita-me a autocorreção. É sempre um momento especial para falar de Cosan. Metaforicamente, vejo na empresa uma espécie de Grupo Votorantim revitalizado, mais dinâmico, atual e com mais capacidade de adaptação. Não há, entre os players listados em Bolsa no Brasil, outro com igual capacidade de alocação de capital, track record comprovado e management dessa qualidade — a visão e a disciplina do Rubens Ometto, a mágica e o brilhantismo intelectual e negocial do Marcelo Martins e a liderança técnica do Luiz Henrique fazem uma combinação raríssima (para ser justo, talvez o BTG Pactual ofereça um time à altura, mas essa é outra história; comparações são sempre capciosas, perdoe a digressão).
 
Isso é estrutural, intrínseco ao Grupo. Nada lhes tira essa, porque pertence à sua natureza, assim como seus ativos únicos e irreplicáveis, com monopólios naturais na distribuição de gás e no modal ferroviário brasileiro, além de sua posição de fronteira em açúcar e álcool e a formidável parceria com a Shell em distribuição de combustíveis. Mas há algo extraordinário neste momento particular e que, no meu entendimento, deveria motivá-lo a nos assistir hoje e, mais pragmaticamente, comprar CSAN3.
 
Se você abrir o jornal Valor Econômico nesta quarta-feira, vai encontrar matéria de título: “Nova Cosan chega ao mercado”. Não é uma coincidência. E, nos tempos de hoje, melhor esclarecer: também não é fake news promovida pela “Globo golpista”, que surpreendentemente virou petista ao mesmo tempo.
 
Cosan acaba de concluir etapa importante de sua reestruturação societária, algo que vinha sendo sinalizado ao mercado pelo senhor Rubens Ometto desde a listagem de CZZ lá fora, quando houve críticas intensas sobre a governança do Grupo — o “Binho” sempre foi contra a ideia de corporation e sempre defendeu as vantagens de um controlador forte. O olhar do dono engorda o gado. E ele está errado? Como empreendedor e como alguém que acompanhou a evolução do Grupo Cosan nestes tempos, me pareceu uma decisão acertada. Não podemos reclamar da geração de valor para o acionista de Cosan nos últimos anos. Para citar outro ditado bucólico, bezerro bom não berra. Deveríamos elogiar o controlador neste caso.
 
Cosan concluiu a deslistagem de CZZ e RLOG. Com isso, os acionistas dessas holdings receberam ações de CSAN3. As consequências são positivas. Há aumento de liquidez em CSAN3, aumento das participações nos índices (o maior peso no FTSE e no MSCI já trouxe fluxo comprador importante; dinâmica semelhante deve acontecer no próximo rebalanceamento do Ibovespa, com mais compra sobre os papéis), simplificação da estrutura societária, que muitas vezes se traduz na redução daquilo que o mercado por vezes chama de “desconto de complexidade” (como ninguém entende direito uma estrutura complexa, acaba pagando menos), e melhora de governança. Em si, esses já seriam bons motivos para se comprar Cosan.
 
Mas o melhor está por vir, inclusive com gatilhos de curto prazo. A ideia subsequente à deslistagem das holdings é o IPO dos braços operacionais, que ficariam capitalizados e preparados para o futuro, com sólido crescimento e um processo interessante de destravamento de valor. 
 
Provavelmente, o IPO da Raízen deve acontecer já no primeiro semestre. Lendo nas entrelinhas, embora eu mesmo seja um crítico do criativo entrelinhador, capaz de enxergar o mundo onde muitas vezes não há nada, entendo que o Cosan Day, já agora, no dia 16, pode representar, simbolicamente, o passo importante para pavimentar a via para um esperado bem-sucedido IPO da Raízen, em múltiplos notadamente superiores ao ventilado hoje e, claro, à própria CSAN3.
 
Explico. Parece-me bastante razoável que o Grupo queira listar Raízen com um discurso ESG muito forte, sob grande veia de crescimento e opcionalidades valiosas de tecnologia e até mesmo disrupção no mercado de energia. Concretamente, Raízen já é hoje o que as majors de oil & gas querem ser, segundo suas próprias metas, em 2050 na pauta ESG. Uma ideia interessante talvez seja, já no Cosan Day, começar a dar disclosure da geração de energia renovável — isso é lote e tem muito a acrescer. Em sendo o caso, CSAN3 já poderia encontrar um re-rating com as sinalizações transmitidas no dia 16 — ao menos parcialmente, no que viria a ser consubstanciado depois com o road show e a materialização do IPO da Raízen.
 
Raízen é muitas vezes, de maneira errada, simplificada como uma soma das partes trivial, num pareamento de São Martinho mais Ultrapar. Mas a empresa é muito mais do que isso, com vantagens destacadas em termos de produtividade, tecnologia, etanol de segunda geração, parceria com multinacionais gigantes, estrutura de capital, capacidade de alocação de capital, espaço para exploração de sinergias dentro do grupo, canais de crescimento claros, internacionalização, etc. 
 
No braço de açúcar e álcool, os preços das soft commodities permitem rentabilidade formidável. A aquisição da Biosev, quando consideradas as sinergias, foi feita literalmente de graça e agregou boa capacidade de produção. Há ricas oportunidades a se explorar em etanol de segunda geração. Já em distribuição de combustíveis, a Raízen vem comendo viva a Ultrapar e isso é um grande gerador de caixa, além, claro, de nos dar uma exposição bacana à abertura da economia.
 
Embora Raízen seja talvez o assunto mais quente, os outros três braços operacionais vivem momentos especiais também.
 
Moove, embora a menor empresa da Cosan, apresentou resultado excepcional no ano, sendo a empresa mais internacional do Grupo e com boas chances de ser o grande veículo de internacionalização. Tem muito crescimento aqui e também pode acabar sendo uma oportunidade de IPO no futuro com bom destravamento de valor, porque hoje se paga muito pouco (arriscaria dizer que não se paga) pela Moove.
 
Compass, além da possibilidade de aquisição da Gaspetro, é um ativo riquíssimo, um monopólio natural que vomita caixa, paga dividendo e tem mais growth do que o mercado tipicamente atribui. Cosan está na cara do pré-sal e pode ser o grande beneficiado do Rota 4. Papo de IPO pode voltar ainda neste ano e eu arriscaria a chance de um private placement no meio do caminho, capaz de marcar o valor do ativo e permitir um reapreçamento de Cosan em Bolsa.
 
Por sua vez, Rumo, que acaba de soltar guidance muito bem recebido pelo mercado, deve ter um ano de recuperação de yields e volumes agora, depois de mudar a estratégia de precificação e concorrer mais agressivamente com a BR-163, cuja privatização (quando ocorrer) vai beneficiar Rumo, e a Hidrovias do Brasil. Segundo matéria do Valor, está para ser votada matéria que permite também a extensão de Lucas do Rio Verde, o que é um driver formidável para Rumo.
 
Tenho afirmado que CSAN3 é a ação para a próxima década. Mas ela é também para a próxima semana. Depois de concluída etapa importante da reestruturação, há muitos outros drivers por vir. Para Cosan, também é sempre um Day One.

Sobre o autor

Felipe Miranda

CIO e estrategista-chefe da Empiricus, é ex-professor da FGV e autor da newsletter Day One, atualmente recebida por cerca de 1 milhão de leitores.