Sentiu um frio na espinha ao acordar pela manhã?
Pois é meu amigo, finalmente chegou a Super Quarta.
Ou será que não chegou?
Durante um bom período entre o fim do ano passado e o comecinho de 2024, este 20 de março foi oferecido aos deuses em troca do pivô formal do Fed.
O tão sonhado dia em que a taxa básica de juros dos EUA passaria a cair, e no qual os ativos de risco voltariam a tomar conta da pista de dança.
A data em si foi adiada, quiçá para 12 de junho ou 31 de julho. Mas o capricho do calendário é o que menos importa agora.
Por ora, as discussões que fazem preço no mercado foram capturadas por um novo dilema estrutural.
Estamos diante de um clássico “small sample problem”, sujeira estatística associada a sazonalidades do 1T?
Ou se trata realmente de um repique inflacionário?
Eu tenho uma leve tendência a apostar na primeira hipótese, de mera distração estocástica em meio a um processo desinflacionário verdadeiramente confiável.
No entanto, reconheço e respeito as evidências causais associadas à segunda hipótese, incluindo uma nova configuração geopolítica global, o vagaroso processo de nearshoring, barreiras à imigração e a surpreendente constatação de iminentes limitações de mão de obra (taxas de fertilidade em queda vertiginosa no mundo todo), talvez antes que a singularidade da “AI working force” venha nos salvar.
Quase paralisado em meio a esses cenários dicotômicos, prefiro me referenciar na abordagem sábia e paciente de Jamie Dimon, CEO do JPMorgan.
Por que o Fed deveria tomar essa decisão agora, sob um alto grau de incerteza, se ele pode perfeitamente aguardar mais dois ou três meses e decidir com outro nível de confiança?
Afinal, o payoff que se apresenta é completamente assimétrico.
Cortar juros agora diante de um eventual repique inflacionário seria absolutamente desastroso em termos de reputação para a política monetária, e exigiria um esforço contracionista duas vezes pior depois, para tentar resgatar a ordem a fórceps.
Por outro lado, a julgar pela força quase miraculosa da economia americana, não cortar agora traria poucos problemas de aterrissagem.
Nesse sentido, a decisão de esperar alguns meses parece simplesmente melhor e mais sensata, sob um olhar apriorístico.
Sem dúvida, é a perspectiva racional, e acho que é o que vai acontecer. Ainda assim, não temos qualquer segurança de que vai dar certo.
Rentabilidade esperada não é garantia de rentabilidade futura.