Você sabe, as Finanças Comportamentais se encarregaram de macular o efeito manada como um dos grandes vícios do mercado.
Ao votarmos com a maioria (votos de compra ou de venda), abdicamos do exercício particular da razão, terceirizamos decisões que deveriam partir do nosso âmago, da diferença inaceitável entre preço de mercado e valor intrínseco.
Se você pensar, até que faz sentido evitar a manada, fazer as próprias contas e andar com o próprio cérebro. É bom para o moral, egotrip.
Como obter retornos acima da média se o investidor age SEMPRE conforme a média?
Não deveríamos ficar ricos comprando ao som dos canhões e vendendo ao som dos violinos? Não é assim que aprendemos na escola?
No entanto, a crítica comportamental — embora corretamente aplicada a situações de exceção — acaba assumindo uma interpretação geral igualmente nociva.
Suponha que, assim como eu, você é um filhote de zebra que aprendeu desde cedo a escrever newsletters, mas nunca viu uma leoa na vida.
De repente, você ouve um barulho ensurdecedor, olha para trás, e se depara com um bicho esquisito se aproximando, bem menor que você, com os dentes de fora. Seria um sorriso amigo?
Todas as outras zebras estão correndo como se não houvesse amanhã.
O que você faz nessa situação?
1) Dispara junto com a manada.
Ou
2) Adota uma atitude hipster, andando na Rua dos Pinheiros em direção à leoa, visando a investigar se ela é uma grande oportunidade de value investing.
Quatro bilhões de anos depois do surgimento da vida no planeta Terra, só estamos conversando sobre efeito manada porque ele nos trouxe até aqui.
Eu tenho minha própria heurística em relação à aplicação prática dessa “anomalia comportamental”, responsável pela sobrevivência e evolução do Homo sapiens nos últimos 300 mil anos.
Quando se está começando, vá com a manada.
Depois de mais velho, cogite ir com suas próprias ideias.
Essa heurística vale também para contextos específicos de mercado, em que a juventude e a maturidade representam, respectivamente, o início e o meio de um drawdown.
No estouro da manada da Covid-19, o melhor que tínhamos a fazer era também sair correndo, desesperados.
Depois, com calma, deveríamos pensar em olhar para trás, checar se a leoa ainda estava lá, se corríamos à toa.
Agora ela não está mais lá. Já encheu a barriga e foi fazer a digestão numa caminhada pós-almoço.
A uma distância segura, gosto de ver essa leoa caminhando sob o sol.