Comunicar-se bem vale dinheiro.
Não é o tipo de coisa que dá para mensurar na vírgula, mas havemos de concordar que o bom discurso merece um prêmio.
Uma empresa que se comunica mal com o mercado pode ver sua ação derreter -25% logo após uma única divulgação de resultado trimestral.
Talvez tenha caído -10% pelo resultado em si e -15% pela desconfortável surpresa que ele causou nos investidores que acompanham a história de perto; muitos sentiram-se confusos, injustiçados ou até mesmo traídos.
Episódios como esse derivam de um problema estrutural do mundo corporativo, que acaba afetando mais as empresas listadas em Bolsa (pois estão mais expostas e têm mais obrigações de interação pública).
O problema é: executivos de altíssimo nível, atuando em áreas estratégicas de liderança, manifestam dificuldades básicas de comunicação.
Essas dificuldades se revelam na frequência, na forma, no canal e – sobretudo – no conteúdo das mensagens.
Vão desde o whatsapp até o contato presencial.
E muitas vezes se alimentam da arrogância de quem chegou ao topo da hierarquia, onde as críticas construtivas se tornam escassas, e os outros que se deem ao trabalho de me entender, para o bem deles.
A má comunicação geralmente tem culpados precisamente delineados, mas também pode ter culpados difusos.
Por exemplo: ata do Copom de ontem.
Como pode metade do mercado ter achado dovish e a outra metade ter achado hawkish?
Isso pode ser culpa de uma comunicação ambígua vinda do Copom; como o bode expiatório é sempre o Banco Central, é mais fácil jogar a pedra aí.
No entanto, a culpa também pode residir em uma má interpretação de texto do mercado.
Nós estamos entre os que entendem que o Copom foi marginalmente mais dovish na ata, dando abertura para cortes de 75 bps; para nós, a comunicação pareceu claríssima.
Ao outro time, porém, deve haver parágrafos que destacam uma linguagem mais sisuda e parcimoniosa, como no caso do “concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária contracionista e cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”.
Cada um escolhe seus parágrafos preferidos.
O que nos leva a uma outra questão complexa diante de uma diretoria do Copom mais heterogênea: como escrever um texto final, institucional, que seja capaz de respeitar todas as posições individuais?
Se você já tentou escrever textos em grupo, sabe que o “risco-frankenstein” é gigantesco.
Eu mesmo brigo mentalmente entre as várias versões de mim, e sofro muito para chegar até aqui, fingindo que estou só.