Day One

Decisão com base em dados, não em datas

“Restará alguma polêmica em qualquer dos caminhos escolhidos pela nossa outrora entediante política monetária”

Por Rodolfo Amstalden

08 maio 2024, 15:00 - atualizado em 09 maio 2024, 08:17

Não sei se o ministro Luiz Marinho sabe disso, mas as reuniões do Copom costumam ser um tanto burocráticas.

Antigamente, as divulgações saíam bem mais tarde; rezava a lenda que a noite de quarta-feira era regada a whisky escocês, combustível de profundos debates intelectuais que transbordavam a economia rumo à arte e à filosofia.

Cada geração tem o Copom que merece.

Hoje em dia, ao que parece, tudo tem que terminar cedo, e bebidas alcoólicas são proibidas. Por conseguinte, os debates deram lugar a decisões secas e comunicados pragmáticos.

Em tese, quanto mais irrelevante for a reunião em si, e quanto mais pobre em discordâncias, melhor a performance do Comitê – capaz de galopar suavemente, sem o uso de rédeas. 

Ainda assim, a conjuntura às vezes provoca um cavalo de pau, e o Copom é impelido a sair da mesmice.

Parece ser o caso desta vez, em que restará alguma polêmica em qualquer dos caminhos escolhidos pela nossa outrora entediante política monetária.

Grosso modo, há três possibilidades dignas de nota para este grande evento de 8 de maio:

(i) o Copom pode manter sua palavra legada e cortar a Selic em 50bps, equilibrando esse corte ousado com um discurso mais hawkish.

ou

(ii)  pode rasgar promessas ultrapassadas e adotar um corte modesto de 25 bps, acompanhado do famoso discurso “dependente de dados”.

ou 

(iii) pode simplesmente não mexer na Selic, terceirizando completamente seu trabalho aos futuros movimentos do Fed.

A essa altura dos acontecimentos, a maior parte do mercado aposta no ajuste de 25 bps, e quase ninguém acredita na terceira hipótese.

Eu mesmo acho que os 25 bps constituem a alternativa “menos pior”. No entanto, não podemos fingir que se trata de uma escolha pacificada.

Poucas semanas atrás, o cenário quase unânime para hoje era de um corte de 50 bps, e os mais recentes indicadores macro (no Brasil e nos EUA) parecem corroborar uma tendência benigna para o afrouxo monetário prospectivo, ao contrário do que vinha acontecendo com os dados do 1T24.

No fim das contas, será estranho se o Copom reduzir o ritmo para 25 bps agora, se depois ele for induzido (por razões técnicas ou políticas) a voltar com uma dinâmica de 50 bps de corte.

Mas talvez o Comitê realmente esteja lá para fazer coisas minimamente estranhas quando necessário.

Rodar um modelo estatístico, jogar umas pedras de gelo no copo, abrir aquela velha garrafa de single malt e deixar o papo rolar solto.

Topam?

Imagem: Divulgação/Banco Central

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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