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O ‘post hoc ergo propter hoc’ no mercado financeiro: ilusões de causalidade e realidades distorcidas

Por Rodolfo Amstalden

17 maio 2023, 14:50 - atualizado em 17 maio 2023, 14:50

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Muitos crimes epistemológicos já foram cometidos no mercado financeiro em nome do “post hoc ergo propter hoc“.

Famosa entre os filósofos da ciência, essa expressão latina pode ser traduzida livremente como “depois disso, logo por causa disso”.

Temos aí uma falácia lógica, derivada da potencial confusão entre sequência temporal e causalidade.

Se um evento “B” ocorre imediatamente após outro evento “A”, somos levados a acreditar que “A” causou “B”.

Por exemplo: troquei a marca do café que eu tomo de manhã exatamente no dia 23 de março. Desde então, o Ibovespa subiu 10 mil pontos. Não serei idiota a ponto de voltar a tomar o café de antigamente, certo?

Consola-me notar que não sou o único a usar o P-H-E-P-H em minhas egotrips. O próprio

Governo Lula compartilha dessa prática deliciosa, aplicando-a prontamente sobre duas oportunidades imperdíveis.

O primeiro toque de gênio foi com Petrobras. 

Cumprindo a promessa de campanha do PT, Jean Paul Prates anunciou nessa semana que a estatal finalmente estava pronta para abandonar a PPI (Política de Paridade Internacional).

Um dia depois, a Petrobras reduziu os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha.

Assim, fica parecendo que o fim da PPI causou, logo de cara, uma grande benesse. 

Porém – olha só que loucura –, a PPI não acabou (só mudou de nome), e o barateamento dos combustíveis já estava contratado há um bom tempo pela desvalorização do dólar e do barril de petróleo lá fora.

Já o segundo toque de gênio virá, ao que tudo indica, com a iminente nomeação de Gabriel Galípolo para o Banco Central.

Pouco depois de ele sentar na cadeira de diretor de Política Monetária, presenciaremos o início dos cortes de juros no Brasil. Bingo!

Com um pouco mais de paciência, Galípolo poderá assumir a presidência do Bacen quando Campos Neto sair de cena, sacramentando assim uma Selic de volta a um dígito.

Bem, talvez você fique revoltado com esses mecanismos de distorção da realidade.

Minha versão jovem, que venerava a lógica clássica e repudiava suas falácias, certamente estaria fula da vida.

Mas, à medida que o tempo passa, eu tenho me tornado menos escravo da lógica e mais discípulo da retórica.

Invariavelmente, me pego abrindo mão de estar certo para ser feliz.

Se o P-H-E-P-H é o que se faz necessário para amansar as alas radicais do PT e dar ao presidente um senso de controle sobre a dura realidade, tanto melhor.

A PPI continua valendo e o juro vai cair, isso é o que importa; bora comprar carvão e assar uma carne pra comemorar.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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