Day One

Dream a little dream of me

Os primeiros contatos de uma criança com seus sonhos podem ser bastante atrapalhados — e nem falo aqui de pesadelos.

Por Rodolfo Amstalden

11 mar 2021, 01:08

Sweet dreams till sunbeams find you

Sweet dreams that leave all worries behind you

But in your dreams whatever they be

Dream a little dream of me

– Gus Kahn

Os primeiros contatos de uma criança com seus sonhos podem ser bastante atrapalhados — e nem falo aqui de pesadelos.

Por exemplo: até os quatro ou cinco anos de idade, a maioria das crianças tem convicção de que seus sonhos podem ser vistos diretamente por outras pessoas.

“Vovô, você viu só eu voando de elefante por cima do parquinho?” — pergunta a neta durante o café da manhã.

Vovô dá risada e diz que sim, claro, enquanto tenta se lembrar de seus próprios elefantes voadores. Estariam eles trancafiados no zoológico de sua longínqua infância?

Natureza sábia, há um bom motivo para não vermos os elefantes voadores dos outros.

Se temos dificuldades de interpretar nossos sonhos, quão mais difícil seria tentar interpretar os sonhos de nossos pares? E os de nossos inimigos?

Imagine a confusão.

Mas nem precisa imaginar tanto.

A confusão está dada explicitamente no mundo das finanças. Pois nós, investidores enxeridos, assistimos aos sonhos do Mercado a cada dia.

O Mercado não guarda seus sonhos apenas para si mesmo. Quando Ele sonha, todos nós assistimos, talvez porque sejamos parte de seu enorme inconsciente.

O pregão termina e o Mercado acorda. Hora de lembrar de tudo o que se passou, precisamos anotar para não esquecer.

A partir daí, cada investidor interpreta o sonho do Mercado ao seu modo particular.

“Vovô, você viu a Bolsa caindo 4% por causa do Lula?”

Mas a Bolsa já estava caindo antes do Lula, não estava?

“Vovô, a volatilidade explodiu nesta semana, né?”

A volatilidade já tinha explodido antes, quando o Bolsonaro mexeu na Petrobras.

“Vovô, estão dizendo que o Copom tem que subir bastante os juros!”

Quantos erros futuros devemos cometer tentando enterrar nossos erros passados?

Freud estava errado, sonhos não são reflexos de desejos reprimidos. Meus pais não me proibiam de voar de elefante quando eu era pequeno.

Sonhos nada mais são do que tentativas criativas do cérebro de pegar as informações disponíveis e derivar delas novos insights. Extrair ideias originais a partir daquilo que já existia.

Mesmo assim, sonhos parecem tão surpreendentes quanto um dólar próximo a R$ 6,00.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

Baixe grátis nosso App

Acesse a Empiricus de onde estiver. Na palma da mão e também na sua casa.

Baixe grátis e conheça nossas novidades.