Day One

Em busca do tempo perdido

“Ao que parece, o peak inflation ficou um pouco mais para frente […]”.

Por Rodolfo Amstalden

14 set 2022, 18:00

Tempo perdido
Fonte: Free Pik

“There will come a time when you believe everything is finished. 
That will be the beginning.”

​— Louis L’Amour​


Ao que parece, o peak inflation ficou um pouco mais para frente.

Estou tentando me lembrar de quando começou esse fenômeno inflacionário.

Quando vai acabar?

A priori, é realmente impossível identificar o início e o fim das grandes histórias; não vamos sequer perder tempo com uma empreitada tão fútil.

O que deveria nos assombrar – e injetar em nós doses cavalares de humildade – é que falhamos na definição de tais marcos mesmo a posteriori.

Até hoje, teses de doutorado são qualificadas com honras por questionarem o Atentado de Sarajevo como estopim da Primeira Grande Guerra.

Em 28 de junho de 1914, o assassinato de Franz Ferdinand fora recebido com relativa indiferença pelas principais forças políticas da Europa.

Hoje, porém, o nome do arquiduque é grafado inequivocamente nos livros didáticos de todas as escolas ocidentais.

E então, teria a facada sido responsável pela eleição de Bolsonaro? 

Qual evento é mais importante nos modelos de atribuição do marketing digital: first click ou last click?

Não me entenda mal. Não tenho uma visão 100% institucionalista da existência. Sei perfeitamente que o acaso cumpre papel fundamental no curso dos fatos. 

Mas a questão que nos impele é: qual tipo de acaso?

Você já reparou que os acasos que escolhemos são, via de regra, interessantíssimos?

Facadas, assassinatos, quedas de avião… bem mais polêmicos que o bater de asas de uma borboleta qualquer.

Nossos acasos preferidos são atrativos a tal ponto que, sob um escrutínio um pouco mais rigoroso, deixam de parecer meros rompantes de aleatoriedade em sua forma mais pura.

Eles parecem nascer não de um ventre randômico, mas sim de uma tentativa deliberada de contar nossas próprias histórias – as histórias da humanidade – de maneira caprichosa e, acima de tudo, cativante.

Em nome da arte, topamos deixar a ciência em segundo lugar.

Eu mesmo comecei a trabalhar no mercado financeiro por acaso, nunca foi um sonho meu.

Em abril de 2005, vi uma vaga de estágio pregada no canto esquerdo inferior do mural da faculdade, com um salário proposto bem abaixo da média, e decidi tentar a sorte simplesmente porque era fácil ir de trem, e meu colega de classe viu sua média ponderada cair de 8,2 para 5,4 depois que foi trabalhar em banco.

Por conta desse pequeno detalhe, conheci o Felipe, depois o Beto, a Bia e o Salomão. 

Fui cair em um lugar que, por algum motivo (que não era a remuneração), acabou atraindo um grupo raríssimo de jovens brilhantes e proporcionou as bases para a fundação da Empiricus.

Não sei explicar como isso aconteceu, e muito menos por que aconteceu. Acho que não existe um porquê.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.