Day One

Fenomenologia dos mercados

“A Empiricus teve um 2021 fenomenal. Na verdade, os últimos dez anos foram fenomenais: viemos para um escritório decente no […]”.

Por Rodolfo Amstalden

10 fev 2022, 10:43

Empiricus teve um 2021 fenomenal. Na verdade, os últimos dez anos foram fenomenais: viemos para um escritório decente no Malzoni, implementamos com sucesso o NetSuite e distribuímos proventos generosos para nossos antigos sócios americanos. Também fizemos uma campanha de conscientização junto a nossos colaboradores, estimulando-os a lavar as mãos após usar o banheiro. Passamos a medir a taxa de abertura dos e-mails enviados e injetamos dinamismo em nossos squads com a moderna metodologia de Scaled Agile Framework. Isso tudo acabou se refletindo em recordes de Net Promoter Score (NPS).

Enfim, somos lindos!

Não somos feios.

Qual é a exata diferença entre ser lindo e não ser feio?

Impressionam as mudanças de percepção provocadas pelos pequenos detalhes sintáticos.

Escolhas neutras do ponto de vista lógico se traduzem em resultados interpretativos completamente díspares.

O exemplo mais comum nas finanças comportamentais é o do uso complementar de porcentagens.

“80% da população brasileira está vacinada” remete ao sucesso da campanha de imunização massificada.

Por outro lado, “20% dos brasileiros não se vacinaram” enfatiza o insucesso.

Nossa percepção sobre a campanha — ou sobre o povo brasileiro — muda radicalmente, graças a uma nuance banal (do ponto de vista lógico) de comunicação.

Dentre outros exemplos dessa sutileza bruta, há um clássico estudado por cientistas de dados, e que também deveria constar nos cursos para financistas.

Ambas as imagens abaixo denotam preços de casas de classe média à venda no Meio-Oeste americano, entre o começo de 2006 e o fim de 2009.

Por respeitarem uma escala vertical demasiada, que vai de zero a US$ 500 mil, as barras da esquerda fornecem a impressão de relativa estabilidade da série histórica.

É só no gráfico da direita, entre US$ 180 mil e US$ 220 mil, que conseguimos enxergar com a devida lupa o impacto provocado pela crise do subprime.

Se a Física Quântica nos ensina sobre a influência do sujeito observador, as Finanças Quânticas versam sobre o poder que emana do objeto observado.

Sempre lembro de me beliscar sobre a fenomenologia dos mercados quando estamos em meio a uma temporada de resultados corporativos.

Fiz até uma lista de sete ocorrências tipicamente usadas pelas empresas que tentam inverter o ponto de vista de números essencialmente ruins.

1) Começar o release com “conquistas de 2021”; uai, não era o 4T21 a novidade?

2) Começar o release com mudança de escritório, ou implementação do SAP.

3) Começar o release citando o generoso dividend yield.

4) Começar o release falando sobre Sustentabilidade.

5) Começar o release falando sobre a empresa ser Data-Driven.

6) Começar o release falando sobre novas funcionalidades do app.

7) Começar o release falando sobre NPS.

Eu não reclamo: em meio a tantos e tantos resultados, facilita nossa vida.

Atalhos sinceros me interessam.

A depender do teor do primeiro parágrafo, nem precisa continuar lendo.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.

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