A Empiricus teve um 2021 fenomenal. Na verdade, os últimos dez anos foram fenomenais: viemos para um escritório decente no Malzoni, implementamos com sucesso o NetSuite e distribuímos proventos generosos para nossos antigos sócios americanos. Também fizemos uma campanha de conscientização junto a nossos colaboradores, estimulando-os a lavar as mãos após usar o banheiro. Passamos a medir a taxa de abertura dos e-mails enviados e injetamos dinamismo em nossos squads com a moderna metodologia de Scaled Agile Framework. Isso tudo acabou se refletindo em recordes de Net Promoter Score (NPS).
Enfim, somos lindos!
Não somos feios.
Qual é a exata diferença entre ser lindo e não ser feio?
Impressionam as mudanças de percepção provocadas pelos pequenos detalhes sintáticos.
Escolhas neutras do ponto de vista lógico se traduzem em resultados interpretativos completamente díspares.
O exemplo mais comum nas finanças comportamentais é o do uso complementar de porcentagens.
“80% da população brasileira está vacinada” remete ao sucesso da campanha de imunização massificada.
Por outro lado, “20% dos brasileiros não se vacinaram” enfatiza o insucesso.
Nossa percepção sobre a campanha — ou sobre o povo brasileiro — muda radicalmente, graças a uma nuance banal (do ponto de vista lógico) de comunicação.
Dentre outros exemplos dessa sutileza bruta, há um clássico estudado por cientistas de dados, e que também deveria constar nos cursos para financistas.
Ambas as imagens abaixo denotam preços de casas de classe média à venda no Meio-Oeste americano, entre o começo de 2006 e o fim de 2009.
Por respeitarem uma escala vertical demasiada, que vai de zero a US$ 500 mil, as barras da esquerda fornecem a impressão de relativa estabilidade da série histórica.
É só no gráfico da direita, entre US$ 180 mil e US$ 220 mil, que conseguimos enxergar com a devida lupa o impacto provocado pela crise do subprime.
Se a Física Quântica nos ensina sobre a influência do sujeito observador, as Finanças Quânticas versam sobre o poder que emana do objeto observado.
Sempre lembro de me beliscar sobre a fenomenologia dos mercados quando estamos em meio a uma temporada de resultados corporativos.
Fiz até uma lista de sete ocorrências tipicamente usadas pelas empresas que tentam inverter o ponto de vista de números essencialmente ruins.
1) Começar o release com “conquistas de 2021”; uai, não era o 4T21 a novidade?
2) Começar o release com mudança de escritório, ou implementação do SAP.
3) Começar o release citando o generoso dividend yield.
4) Começar o release falando sobre Sustentabilidade.
5) Começar o release falando sobre a empresa ser Data-Driven.
6) Começar o release falando sobre novas funcionalidades do app.
7) Começar o release falando sobre NPS.
Eu não reclamo: em meio a tantos e tantos resultados, facilita nossa vida.
Atalhos sinceros me interessam.
A depender do teor do primeiro parágrafo, nem precisa continuar lendo.