Day One

Fundos 1.01, cinco lições para o primeiro dia de aula

Dos brinquedos à maçã (virtual), comemora-se nesta semana as datas dos dois agentes de mudanças mais importantes de uma sociedade. Crianças têm, claro, suas aptidões naturais por exatas, humanas, ciências biológicas e artes em todas as suas formas de expressão. Mas são os professores que catalisam e alavancam esse interesse pelo conhecimento, ensinam a pensar […]

Por Bruno Mérola

15 out 2021, 10:43

Dos brinquedos à maçã (virtual), comemora-se nesta semana as datas dos dois agentes de mudanças mais importantes de uma sociedade.

Crianças têm, claro, suas aptidões naturais por exatas, humanas, ciências biológicas e artes em todas as suas formas de expressão. Mas são os professores que catalisam e alavancam esse interesse pelo conhecimento, ensinam a pensar por conta própria e a se comunicar de forma estruturada e simples.

Nossa relação com os professores, porém, é cada vez mais distante ao longo da vida.

Na infância, respeitamos a autoridade de quem tem licença para educar além de ensinar. Na faculdade, buscamos modelos de profissionais entre acadêmicos e pesquisadores. No trabalho, precisamos procurá-los ativamente, mentores que já estiveram em nosso lugar e podem indicar o caminho das pedras.

Como investidores, há uma questão adicional. Ganhos relevantes, de curto prazo e originados de decisões erradas podem transformar qualquer um em “coach”, príncipes do bull market que jamais erraram e com dinheiro infinito para comprar ao som dos canhões.

Princípios importam. Ganhar muito dinheiro, ganhar no curto prazo e acertar mesmo quando a decisão é errada são cenários possíveis. Porém, para ter consistência, no longo prazo e com um processo robusto, há valores que o bom investidor deve conhecer.

Fundos de investimento costumam ser um bom ponto de partida para muitos investidores pela conveniência de delegar a gestão a equipes altamente qualificadas, com décadas de experiência.

Por isso, gostaria de dividir os cinco princípios que acredito serem os mais importantes para o investidor que está começando a conhecer fundos de investimento.

Essas são lições valiosas ao longo da minha carreira e que tenho o hábito de repetir exaustivamente para os assinantes da série Os Melhores Fundos de Investimento, adaptando-as para quase todas as dúvidas que recebemos.

O primeiro princípio é que fundos não são uma classe de ativos.

Diariamente, vejo investidores (às vezes, por influência de corretoras) separarem os investimentos em reserva de emergência, renda fixa, ações, investimentos alternativos, previdência e… fundos.

Na prática, isso faz tanto sentido quanto classificar um gasto mensal como “cartão de crédito”, ao lado de alimentação, combustível, cinema, academia ou plano de saúde.

A decisão de ir ao cinema independe da forma de pagamento do ingresso.

Primeiro, decide-se o quanto ter em cada classe de ativos: pós-fixados, prefixados, indexados à inflação, multimercados, ações, investimentos no exterior, etc.

Depois, o investidor escolhe a melhor maneira de se posicionar na classe, seja via fundos, ativos diretos, derivativos, previdência, levando em conta características operacionais e tributárias.

Comprar ações ou investir em fundos de ações tem vantagens e desvantagens, mas ambos partem da mesma origem, que é ter exposição à renda variável.

Não existem traders de fundos é a segunda lição. Respeite sua decisão inicial e não se traia no meio do caminho.

Ao decidir investir em um gestor renomado de fundo multimercado ou de ações, por exemplo, guarde os motivos que o levaram a fazê-lo e, caso um desempenho de curto prazo como seis meses ou até dois anos desperte preocupação, revisite essas anotações para ter certeza de que os motivos iniciais da alocação ainda estão lá.

Valorize pessoas, processos de investimento e produtos. Se a equipe com histórico de longo prazo vencedor continua lá, o processo de investimento se mantém robusto e as características do fundo ainda fazem sentido, ignore sumariamente o desempenho de curto prazo e evite cair em tentação.

O terceiro princípio é aceitar pagar caro pelos melhores gestores.

Os melhores times de gestão do país, com resultados muito acima da média há mais de dez anos, por exemplo, devem ser bem recompensados.

Não espere que seja mais barato investir em um fundo de ações do que montar sua carteira por conta própria, mas sim que você seja recompensado com um retorno maior e uma gestão de risco mais profissional do que sua planilha de Excel.

Por outro lado, jamais pague caro por fundos passivos, indexados a índices facilmente replicáveis, como é o caso de ETFs. Se não há inteligência por trás e o custo do ETF ultrapassa 0,5% ao ano, há duas hipóteses principais: ou está caro demais ou esse é um mercado em desenvolvimento e paga-se pelo acesso.

Em quarto lugar, consistência importa. Tudo o que você vê não é tudo o que existe.

Em outras palavras, é irrelevante o fato de um investidor ter entrado em um dos melhores fundos de ações da indústria uma semana antes da pandemia.

Se a decisão do gestor de reduzir risco foi correta, o processo importa mais do que o resultado de curto prazo. Mantenha-se firme.

Por último, a soma das partes é mais relevante do que cada fundo individualmente.

Leve a sério uma diversificação bem-feita, é isso que vai te permitir ter acertos mais frequentes e maiores do que os erros no longo prazo.

Se todos os fundos do seu portfólio estão ganhando ou se todos estão perdendo dinheiro em 2021, há algo errado e é provável que você não esteja suficientemente diversificado. Um corolário disso é não resgatar os perdedores de curto prazo apenas pelo desempenho.

Todos os dias, sem exceção, um ou mais desses princípios surgem no processo de seleção da equipe da série Os Melhores Fundos de Investimento.

Se você ainda não começou a investir em fundos e quer conhecer a fundo tudo o que avaliamos para escolher os poucos gestores recomendados, deixo um convite especial.

Sobre o autor

Bruno Mérola

Desde 2019, lidera a série Melhores Fundos, selecionando os melhores fundos de investimento no Brasil e no mundo. Anteriormente, atuou por cinco anos no Itaú, recomendando investimentos para clientes Ultra-High-Net-Worth (UHNW) com patrimônio acima de R$ 50 milhões. Engenheiro de Produção pela UFRJ, é CFA Charterholder e possui a certificação FRM, além de CIPM, CFP® e CNPI.