Day One

Gaiola de investimento

“Não sei quantos de vocês já pararam para pensar sobre por que quando um avião é atingido por um raio, os passageiros em seu interior não são afetados pela descarga elétrica. Da mesma forma, por que quando você está dirigindo um carro durante uma tempestade, o melhor lugar para se[…]”.

Por Lais Costa

21 jan 2022, 12:15

Não sei quantos de vocês já pararam para pensar sobre por que quando um avião é atingido por um raio, os passageiros em seu interior não são afetados pela descarga elétrica. Da mesma forma, por que quando você está dirigindo um carro durante uma tempestade, o melhor lugar para se proteger de um raio é no interior do próprio carro?

Sem nos aprofundarmos nos conceitos de eletromagnetismo, a razão para isso é que, quando uma descarga elétrica atinge um corpo metálico condutor, as cargas elétricas se distribuem por sua superfície gerando uma resultante de campo elétrico nulo no seu interior.

Essa é a razão pela qual as pessoas não são afetadas pela descarga elétrica nos exemplos anteriores.

Em 1836, o físico inglês Michael Faraday provou essa teoria submetendo-se pessoalmente a um experimento. O verdadeiro “skin in the game”. Faraday entrou em uma espécie de gaiola metálica com sapatos de borracha e sentou-se em uma cadeira feita de material isolante, enquanto diversas descargas elétricas foram aplicadas à superfície da gaiola. Ao sair ileso, o cientista demonstrou o fenômeno da blindagem eletromagnética.

A gaiola de Faraday, como ficou conhecida, é usada para blindar diversos sistemas de interferências eletromagnéticas e descargas elétricas e, por isso, a sua aplicabilidade é muito ampla.

Ao contrário do que acontece no campo da física, a blindagem perfeita simplesmente não existe no mundo dos investimentos, apesar de ser o principal objetivo de alguns investidores.

A verdade é que “a segurança completa não é viável nem mesmo desejável”. Prover garantia irrestrita, uma blindagem perfeita para todos, gera comportamentos inadequados. (“This time is different.”)

Por isso, o que deve ser o objetivo do investidor é a busca por um portfólio robusto com uma relação risco-retorno adequada para seus objetivos de rentabilidade e para o seu horizonte de investimento.

No que diz respeito ao portfólio de fundos de investimento, a construção de uma carteira passa por três decisões: alocação estratégica, alocação tática e a seleção dos fundos propriamente ditos.

A alocação estratégica é a decisão de diversificação entre as classes de ativos (renda fixa, renda variável, alternativos, etc.). O retorno gerado por essa decisão é medido a partir da performance dos benchmarks de cada fundo (Ibovespa, IBX, IMA-B, etc.), seguindo o peso neutro determinado para cada ativo da carteira.

A alocação tática é expressa pelo desvio do ponto neutro. Em outras palavras, é a decisão de ficar sobrealocado ou subalocado em uma classe e expressa os vieses otimistas ou pessimistas do gestor para cada classe.

Finalmente, a seleção dos fundos é a diferença entre uma carteira puramente passiva, isto é, composta apenas pelos benchmarks, e a performance entregue dos fundos ativos escolhidos para representar aquela classe.

Na publicação da série Os Melhores Fundos de Investimento desta semana, trouxemos o resultado das carteiras recomendadas pela série que inspiram os fundos de fundos (FoFs) da Vitreo. Nela detalhamos, com total transparência, as decisões de alocação implementadas durante o ano de 2021 e os resultados da nossa busca por retorno ajustado ao risco no longo prazo.

E, claro, não somos apenas teóricos de fundos. Aqui todos têm skin in the game. Nosso patrimônio também está em jogo em cada decisão de alocação.

Os FoFs da Vitreo, que replicam as nossas carteiras recomendadas, são a forma mais prática de se expor a essas decisões. Contudo, em certa medida, é possível replicar a carteira de forma independente, ou mesmo criar um portfólio diferente que seja ainda mais alinhado com os seus objetivos e perfil de risco.

De todo modo, a nossa recomendação é a mesma: não busque uma forma perfeita de se blindar, não construa uma gaiola de investimento. Nessa estratégia, no melhor dos cenários, a resultante será zero.

Um abraço,

Laís

Sobre o autor

Lais Costa

Engenheira elétrica com certificação CNPI. Analista de renda fixa na Empiricus Research.

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