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Day One

Gestão ativa de acertos e erros

Ao mesmo tempo em que o investidor inteligente constrói exposição a possíveis grandes acertos, ele precisa limpar uma ampla quantidade de erros colecionados durante o caminho

Por Rodolfo Amstalden

01 mar 2023, 11:34 - atualizado em 01 mar 2023, 11:34

Indicação de investimento
Imagem: FreePik

Há duas formas de investir.

A primeira delas, sexy, que domina o imaginário popular, é a de ir em busca de grandes acertos.

A topologia do mercado é assimétrica e leptocúrtica, com caudas desequilibradas e pesadas. 

Logo, se formos capazes (ou sortudos) de pegar alguns grandes acertos, poderemos enriquecer mesmo diante de uma maioria de pequenos erros.

No entanto, há uma confusão perigosa aqui: não sei se é o investidor quem vai em busca de um grande acerto ou se é o grande acerto que vai em busca dos investidores expostos a payoffs interessantes. Acredito mais na segunda alternativa.

Conheci pessoas que passaram a vida inteira tentando sempre acertar em cheio, e que agora chegam teimosas e pobres à aposentadoria.

Por isso, dizemos aqui na Empiricus que a primeira forma de investir não vale nada sem a segunda forma, que é a de limpar os grandes erros.

Ao mesmo tempo em que o investidor inteligente constrói exposição a possíveis grandes acertos, ele precisa limpar uma ampla quantidade de erros colecionados durante o caminho.

Assim como em todo bom trabalho de faxina, trata-se de um exercício contínuo, e que dá dor nas costas.

Não é fácil reconhecer erros e se livrar deles.

Enquanto a busca por acertos começa sempre a partir de uma jornada esperançosa e construtiva, a limpeza dos erros faz com que nos reencontremos com o que há de pior em nós mesmos – com as nossas falhas, vergonhas e decepções.

Provocados pela experiência de um amigo da Bia, falamos sobre isso na última edição do Puro Malte, sobre como boa parte da nossa rotina nos últimos anos (em especial, desde a pandemia) foi direcionada a mitigar danos.

Dentro dessa ótica ambivalente – de buscar acertos e limpar erros –, a única gestão possível de um portfólio é a gestão ativa.

Simplesmente não há como montar uma carteira com 15 ações (por exemplo) e carregá-la à distância pelos próximos dez anos.

Nem mesmo os compradores de ETF fazem gestão genuinamente passiva, pois os pesos de cada componente do índice vão se ajustando por critérios de mercado que espelham sucesso e fracasso.

E nem mesmo o ícone do buy & hold Warren Buffett promete carregar indefinidamente. Ele, que admitiu rapidamente o problema de ter comprado ações de aéreas, e que já reduziu boa parte da exposição a TSMC.

Só para não esquecer o outro extremo, isso não significa também que devemos mexer na carteira ao menor indício de mudança, para o bem ou para o mal.

Entre as trocas frenéticas (insegurança) e a perenidade eterna (indiferença), existe um ponto intermediário que otimiza as frequências de entrada & saída, derivado do exercício artístico que caracteriza nossa profissão.

A mesma arte, aliás, que às vezes consegue desafiar a realidade.

Neste complicado início de 2023, nossas carteiras estão indo bem melhor que a queda de -4% do Ibovespa year to date.

No fim das contas, as duas formas de investir deságuam em um mesmo alfa.

Sobre o autor

Rodolfo Amstalden

Sócio-fundador da Empiricus, é bacharel em Economia pela FEA-USP, em Jornalismo pela Cásper Líbero e mestre em Finanças pela FGV-EESP. É autor da newsletter Viva de Renda.