Day One

Gradualmente, então de repente

“Se você tivesse investido no Ibovespa há exatamente 5 anos, mesmo com a bolsa andando de lado nos […]”.

Por Larissa Quaresma, CFA

07 jun 2022, 10:36 - atualizado em 07 jun 2022, 10:46

Representação dos gráficos
Fonte: FreePick

Se você tivesse investido no Ibovespa há exatamente 5 anos, mesmo com a bolsa andando de lado nos últimos meses, teria tido um retorno acumulado de 75%. O curioso é que, caso tivesse perdido os 3 melhores meses, o ganho teria sido menos da metade: 38%. Se tivesse perdido os 5 melhores, o rendimento seria 18%.

A lição é inevitável: é muito difícil acertar o bumbum da mosca. Mesmo que esses melhores meses tenham sido no período de bull market, notadamente nos anos de 2019, 2018 e 2020, será que você acertaria o timing se tivesse esperado o cenário melhorar para investir em bolsa?

O melhor mês do período foi novembro de 2020, em que a bolsa subiu 16%. Você deve lembrar que estávamos entre a primeira e a segunda onda do covid-19, embora não soubéssemos que haveria uma segunda onda. Caso você tivesse comprado Ibovespa logo no início de dezembro, querendo surfar a animação com o fim da pandemia, estaria no prejuízo um ano depois. Afinal, tivemos uma segunda onda, e o retorno acumulado de dezembro/2020 até dezembro/2021 foi de -5%.

Daí você poderia ficar tentado a vender bolsa. E teria perdido a alta de 11% dos três meses seguintes, que fariam sua rentabilidade voltar para o positivo. Nesse excesso de giro da carteira, só duas partes teriam ficado felizes: a sua corretora, que faturaria suas taxas de corretagem, e a própria B3, que recolheria os seus emolumentos.

Paciência é o nome do jogo em renda variável. Se for o caso de você ter tolerância ao risco suficiente para ter alguma alocação em ações, a melhor estratégia é manter o peso definido de acordo com o seu perfil e estágio de vida – e esperar. No máximo, pode ser interessante fazer pequenas mudanças táticas, dentro de uma banda de 5 pontos percentuais, por exemplo. Mas, importante – essas mudanças táticas devem ser no sentido contrário ao que seu instinto sugere. Se a bolsa está em baixa, talvez seja o caso de aumentar alguns pontos percentuais. O oposto vale para quando está em alta.

É como a anedota do goleiro, que peguei emprestada do livro “The Little Book of Behavioral Investing”, do James Montier. Estatisticamente, os goleiros têm mais chance de defender um pênalti caso fiquem parados no centro do gol durante a cobrança. Mas, infelizmente, eles ficam parados em apenas 6% dos casos. Isso porque o ser humano sofre do viés da ação: nós sentimos que precisamos estar sempre fazendo alguma coisa, mesmo que isso piore nossas chances de sucesso.

Esse viés acontece também nos investimentos, principalmente aqueles de maior risco, como é o caso das ações. Se tivermos sofrido uma perda, o viés da ação fica mais forte ainda: se estamos no prejuízo, é como se precisássemos fazer alguma coisa pelo amor de Deus.

O recomendável é manter a estratégia que sabemos ser acertada: manter sua alocação e continuar fazendo aportes mensais. No início, você não vai conseguir enxergar muito progresso. E é assim mesmo. Quando a bolsa está andando de lado, ela fica barata. Percebendo a oportunidade, você aumenta marginalmente sua alocação. E ela pode continuar andando de lado por mais algum tempo… até que, de repente, acontecerá alguma coisa, ou um conjunto de coisas, que melhorará o sentimento dos investidores. Todo mundo vai querer entrar em bolsa. E, antes que você possa entender o que aconteceu, os preços já refletirão o otimismo geral. Quem estiver de fora, perdeu.

Pegando emprestada a frase do economista americano Paul Samuelson: “Investir deve ser mais como ver a tinta secar ou assistir à grama crescer. Se você quer adrenalina, pegue US$ 800 e vá para Las Vegas.”

Gradualmente, então de repente.

Um abraço,

Sobre o autor

Larissa Quaresma, CFA

Analista de ações há 10 anos, é responsável pela série As Melhores Ações da Bolsa e pela carteira mensal Empiricus 10 Ideias, além de integrar a equipe da Carteira Empiricus, o portfólio multimercado da casa. Ao longo da carreira, teve passagens pela Núcleo Capital, tradicional fundo de ações brasileiro, e pelo Credit Suisse. Administradora formada pelo Ibmec-MG, aluna visitante da Stanford University e com certificações CFA, CNPI e CGA.