Agora que o zoom do iPhone aumentou de 3x para 5x, podemos enxergar coisas que não víamos antes.
Embora a política fiscal e a política monetária estejam sempre correlacionadas (ainda que negativamente correlacionadas), suas forças de compensação atuam de modos bem diferentes na economia contemporânea.
Quanto à política fiscal, o aumento dos gastos do governo pode ser pacificado por meio de expectativas benevolentes quanto a efeitos multiplicadores, mas não mais pela promessa de cortes proporcionais de gastos no futuro.
Via de regra, as principais economias do mundo têm elevado seus orçamentos públicos como % do PIB ao longo do tempo, sem vontade ou capacidade política de voltar atrás.
Para a política monetária, entretanto, a dinâmica intertemporal é bem diferente.
A cada vez que a taxa básica de juros sobe, abre-se a possibilidade tangível de que ela possa vir a cair em um horizonte tangível.
Ou seja, ao contrário do que ocorre com a política fiscal, onde predomina a histerese, a política monetária moderna é entendida como impermanente.
A impermanência da política monetária não é um fenômeno essencialmente novo, mas acabou acirrado pelas atuações incisivas dos Bancos Centrais na crise do subprime e na pandemia, resumidas pelo célebre “whatever it takes” de Mario Draghi.
Esse acirramento deve-se também não só à postura conveniente dos últimos 15 anos, mas também à própria assimetria em pauta: se o fiscal está sempre rodando no seu limite, sob riscos crescentes de dívida pública, dominância e estouro dos tetos de gastos, cabe apenas à política monetária atuar como alívio diante do próximo grande problema.
Bem, sabemos o que acontece quando todas as responsabilidades recaem apenas sobre um dos membros de um casal, e o divórcio não é uma opção.
A percepção de impermanência da política monetária acaba tornando-a menos fiel.
Ou seja, precisamos de aumentos maiores de juros, praticados por mais tempo, para diluir a expectativa de que “em breve, estaremos tão frouxos quanto antes”.
É o que está acontecendo neste exato momento, lá fora, e ainda no Brasil: higher for longer.
Deixaremos a tarefa formal para os macroeconomistas de verdade, mas isso pode ajudar a explicar por que os índices de atividade insistem em permanecer melhores do que o esperado por uma política monetária “tradicional”, das antigas.
É como se o mercado dissesse aos chairmans dos BCs: “Hey dude, entendo que você está fazendo papel de durão, respeito isso, é o seu trabalho. Mas nós dois sabemos onde essa história vai acabar: higher for long, lower for longer.