Que ano!
A virada de 2020 foi recheada de esperanças. Aliviados pelo aparente controle da pandemia, esperávamos com ansiedade o início do processo de vacinação, que seria a chave para retornarmos a uma vida normalizada.
O otimismo era consenso entre os agentes de mercado. Em sua primeira publicação de 2021, o relatório Focus divulgara as expectativas da mediana do mercado para o IPCA (+3,3%), PIB (+3,4%), câmbio (R$ 5) e a meta da taxa Selic, que, segundo as projeções, encerraria o ano em +3,25%. Nada mau.
A realidade, porém, se mostrou bem mais dura. Após 12 meses, o último relatório do ano indica que tivemos um IPCA de 10%, PIB de 4,5%, câmbio ainda mais desvalorizado, em R$ 5,63, e uma Selic próxima dos dois dígitos, em 9,25% — com expectativa de se aproximar dos 12% no ano que vem.
A guinada das expectativas foi causada por uma série de dificuldades que enfrentamos ao longo dos meses. Crise hídrica, novas ondas de pandemia e sucessivas restrições de deslocamento, dificuldade no andamento das pautas reformistas, desmantelamento do teto de gastos e por aí vai. No âmbito global, discussões sobre novos estímulos fiscais, subida ou não da taxa de juros e mais problemas no território chinês deram o tom.
O cavalo de pau nos indicadores só reforça a característica dinâmica da economia e a dificuldade em prevê-los. Contudo, como bem sabemos, não saber não significa não agir.
Aqueles que se limitaram a sua zona de conforto e deixaram seus recursos apenas em Terra Brasilis perderam dinheiro. Seja real ou nominalmente. No ano, a vasta maioria dos índices de ações, fundos imobiliários e títulos de renda fixa caiu ou teve um desempenho abaixo da inflação.
Os investidores desbravadores podem ter passado por mais emoção, mas provavelmente tiveram um retorno consolidado mais atrativo. Apesar da volatilidade insana das criptomoedas, a classe foi novamente a grande vencedora do ano, com rentabilidades de causar inveja às demais classes de ativos. Os dois criptoativos mais populares, o bitcoin e o ethereum, avançaram 64% e 414%, respectivamente, por exemplo.
Nos EUA, o rali da Bolsa segue firme e forte, sendo este o ano com o maior número de máximas nos últimos 26 anos. Apesar das correções ocorridas ao longo de 2021, os índices S&P 500 e o Nasdaq subiram até o momento 27% e 23% respectivamente. A depender dos dados recentes de vendas de fim de ano nos Estados Unidos, em que a alta foi de 8,5% em relação a 2020 – maior crescimento dos últimos 17 anos, segundo levantamento da Mastercard –, o ímpeto continuará.
Para 2022, as previsões já foram postas na mesa e são bem mais modestas do que as de um ano antes. De acordo com o último relatório Focus, a projeção para o IPCA é de 5% e para o PIB, de 0,4%. Já o dólar deverá encerrar em R$ 5,60 e a Selic, em 11,50%.
Se essas projeções estão certas ou não, só o tempo vai dizer. Pelo histórico, muito provavelmente serão bastante equivocadas. Contudo, isso não significa ausência de oportunidades. Muito pelo contrário.
É nos ambientes adversos que as companhias resilientes, com balanços sólidos e bem geridas ampliam suas avenidas de crescimento.
Como exemplo, destaco a recente fusão da NotreDame Intermédica com a Hapvida e a da Localiza com a Unidas, ambos movimentos capturados na série As Melhores Ações da Bolsa, da qual sou o responsável.
Seja através de aquisições, parcerias ou experimentação de novas linhas de atuação, esse tipo de empresa não só atravessa a crise como cria oportunidades para se fortalecer com ela.
Forte abraço e até o ano que vem,
Fernando Ferrer