Nas últimas semanas, o dólar voltou a ser um tema importante para os investidores brasileiros.
Após furar a barreira dos R$ 5 no final de junho, muitos apontavam que a estrada estava traçada para que a moeda americana caminhasse para o que seria o “câmbio de equilíbrio” — algo mais perto dos R$ 4,50, visão reiterada pelo próprio ministro Paulo Guedes.
Entretanto, quis a realidade que a divisa americana voltasse para níveis próximos dos R$ 5,30, uma valorização de mais de 7% da mínima recente.
Nunca é demais lembrar: prever o movimento do câmbio é uma das tarefas mais difíceis (para não dizer impossível) no mercado.
O problema aqui é que, muitas vezes, vejo investidores brasileiros limitando o escopo de seus portfólios por conta do nível atual da moeda americana.
Quando digo que trabalho nas séries internacionais aqui da Empiricus — se você não conhece, fica o convite para saber um pouco mais sobre As Melhores Ações do Mundo —, as pessoas me lançam aquele velho questionamento:
“Mas você acha que vale a pena investir lá fora agora, com o dólar a (insira aqui o valor da moeda americana na época da conversa)?” Independentemente de gênero, idade e classe social. Seja o interlocutor o Dan Stulbach ou o porteiro do meu prédio.
Me perguntaram quando o dólar estava nos R$ 3; depois nos R$ 3,50; quando chegou a R$ 4; nos R$ 5…
Cercado de marcas globais em nosso dia a dia, já passou da hora de o brasileiro dolarizar uma parcela de sua carteira de investimentos.
Desde o começo da pandemia, a moeda americana chegou perto dos R$ 6 três vezes: em meados de maio do ano passado (R$ 5,93), no final de outubro (R$ 5,78) e na primeira quinzena de março deste ano (R$ 5,83).
Mesmo que o investidor tenha pensado em alocar parte dos seus recursos em ativos dolarizados somente nesses momentos, e tendo como base as ações que fazem parte do S&P 500, o percentual de empresas com retorno abaixo dos 20% — uma queda maior do que a desvalorização dos níveis citados acima até os R$ 5 — seria de 13%, 21% e 69%, respectivamente.
Importante notar que, no último período em questão, 49% das ações apresentaram retorno positivo, ou seja, ao menos reduziriam parte das perdas no câmbio. Válido notar também que, quanto maior o prazo do investimento, menor a chance de perdas relevantes do capital investido.
Obviamente não posso garantir que os resultados daqui para a frente seguirão o padrão observado até agora. Com o S&P 500 tendo dobrado de valor em 354 pregões — o retorno dessa magnitude mais rápido desde a Segunda Guerra Mundial —, muitos já questionam qual seria o espaço para novas valorizações.
Contudo, mesmo se você tivesse entrado nos piores momentos do câmbio nos últimos 18 meses, as chances de ter ganhado dinheiro nas posições internacionais não teriam sido pequenas.
Isso sem falar que, em períodos de estresse global, o real tende a reagir negativamente em um primeiro momento. Aqueles que já investiam no exterior antes da crise do coronavírus com certeza estão mais tranquilos agora.
Em vez de buscar o dólar “ótimo”, defina a parcela de seus investimentos que você quer ter em moeda forte e siga à risca esse plano.
E se uma nova variante do coronavírus afetar as perspectivas de crescimento global? Ou se um gigante asiático perder atratividade por suas políticas nacionais? Quem sabe até mesmo algum país na Ásia Central sofra um golpe e comece a levantar preocupações em outras regiões ainda mais cruciais para o mundo. Ou o país em que você vive tenha no próximo ano uma eleição altamente polarizada.
Seriam essas questões que podem gerar maiores questionamentos dos investidores globais nos próximos meses? E, nesse caso, como ficaria o real? Seria uma ilha de boa performance ou sofreria assim como os outros países?
Não acho que você deva seguir os passos de Tim Maia e ir embora. Só não vejo sentido em ter no seu portfólio apenas apostas tupiniquins.
Um pouco de diversificação global não faz mal a ninguém — aliás, pode te salvar de grandes enrascadas.
Um abraço,
Enzo Pacheco