Entre tantas experiências profissionais, Nova York também me proporcionou experiências gastronômicas incríveis.
Lá tem de tudo, em qualquer hora, por qualquer preço. Comidas típicas de centenas de países e culturas, das mais tradicionais às mais exóticas.
Uma dessas experiências memoráveis aconteceu em um pequeno restaurante japonês no Upper East de Manhattan. Logo na porta, um quadro com os seguintes dizeres: “Trust the chef” (em português, “confie no chef”).
Ao sentarmos à mesa, alguns amigos e eu, o garçom veio tirar o pedido das bebidas e então perguntei sobre o cardápio. Então ele parou de anotar o pedido, olhou para mim e perguntou: “É a primeira vez dos senhores aqui?”. Após a nossa resposta afirmativa, ele explicou que não havia cardápio no restaurante. Era uma espécie de “menu às cegas”. Seria possível apenas dizer quais as restrições alimentares que tínhamos e os pratos seriam escolhidos pelo próprio chef do restaurante.
Em um primeiro momento, fiquei bastante insegura quanto à dinâmica, até porque os restaurantes japoneses de lá já são bastante diferentes da maioria dos que vemos por aqui. A surpresa seria inevitável, mas havia em mim ainda uma falsa sensação de que, se eu soubesse exatamente quais os principais ingredientes do prato, as minhas chances de ter uma experiência boa seriam maiores.
Da mesma forma, os investidores em ETFs (Exchange Traded Funds) apreciam a boa dose de transparência que existe neste instrumento de investimento.
A grande maioria dos ETFs são investimentos passivos, mais baratos do que os mutual funds e hedge funds, diversificados, e, claro, bastante transparentes. Isso porque os ETFs passivos seguem um índice de referência. Exemplos bastante conhecidos do público são o BOVA11 e o BOVV11, que buscam replicar o desempenho do índice de ações da Bolsa brasileira, o Ibovespa.
Assim como há diversos tipos de restaurantes, também há tipos de ETFs bem diferentes dessa versão mais “tradicional” do produto.
Existem, por exemplo, ETFs ativos, ou seja, aqueles que seguem uma carteira escolhida discricionariamente por uma equipe de análise e gestão. Ao contrário de um ETF passivo que replica um índice conhecido, o ETF ativo busca uma performance acima do mercado e de forma mais eficiente.
Algumas outras peculiaridades neste universo também são pouco conhecidas por grande parte dos investidores, como os ETFs irlandeses, que possuem uma série de benefícios tributários como impostos menores e isenção de imposto sobre herança.
Tanto nos restaurantes tradicionais quanto nos ETFs acima mencionados, o conhecimento do prato ou a cesta de ações de um fundo transmite uma sensação, muitas vezes falsa, de que estamos seguros ao saber exatamente o que está acontecendo.
A psicologia comportamental explica bem esse e outros tantos vieses.
Agora imagine comprar um ETF sem saber exatamente quais ativos estão lá dentro, apenas confiando no “chef”.
Sim, essa experiência de investimento também é possível através de ETFs, ou melhor, de ANTs (Actively Non-Transparent). Os ANTs, ou ETFs não transparentes, surgiram no final de 2019 e vêm ganhando tração desde então, como uma alternativa aos mutual funds.
Neste formato, os custos para o investidor ainda são consideravelmente menores que em seus concorrentes diretos e, por outro lado, também protegem os gestores contra o “front-running” do mercado — ou seja, que outros investidores se antecipem e montem (ou desmontem) as mesmas posições reportadas diariamente pelos gestores do ETF. E as vantagens para ambos os lados vão muito além disso.
Voltando ao meu jantar nova-iorquino, aquela experiência foi fantástica, muito além das minhas (duvidosas) expectativas.
Ah, antes que eu me esqueça, na próxima semana, nós aqui da equipe dos Melhores Fundos vamos disponibilizar para nossos assinantes um relatório detalhando cada um desses tipos de ETFs. E se você é amante de um bom turismo gastronômico e ficou curioso, prometo dizer o nome do restaurante também.
Um abraço